ÍNDICES DIAGNÓSTICOS E PROGNÓSTICOS NO TESTE DESIDERATIVO
Por: Hellen Fabricia • 12/3/2016 • Pesquisas Acadêmicas • 3.549 Palavras (15 Páginas) • 1.344 Visualizações
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Índices diagnósticos e pïognósticos no teste desiderativo a partir do estudo das defesas(’)
María C. de Schust e Elsa Grassano de Piccolo
Introdução
A prática clínica cria a necessidade de aprofundarmos, dentro do processo psicodiagnóstico, o estudo dos instrumentos projetivos, a fim de conse guirmos uma sistematização das respostas aos mesmos e estabelecermos índices diagnósticos relacionados com entidades nosográficas.
Por outro lado, a atividade em instituições assistenciais torna indis pensável contar com testes projetivos confiáveis e econômicos quanto ao tempo de aplicação.
Em função destas necessidades, surgiu a investigação sobre o teste desiderativo, dado que este oferecia possibilidades diagnósticas e prognós ticas não suficientemente aproveitadas pela falta de categorização do material obtido.
Neste trabalho t mamos como vetor de análise as condutas defensi vas e nos propomos, através de uma sistematização das respostas, estabele cer índices diagnósticos, relacionados com as entidades nosográficas, e critérios prognósticos, de acordo com o grau de integração egóica.
Origem do trabalho
A dificuldade para diagnosticar as defesas e o grau de integração do ego na interpretação clássica do teste desiderativo levou-nos a desenvolver uma abordagem diferente do mesmo.
Começamos por considerar a produção desiderativa no contexto vincular promovido pelas instruções, no seguinte sentido:
As instruções pedem ao examinado, de maneira explícita e direta, que renunci à sua identidade humana e lhe oferecem a possibilidade de assumir outras identidades não humanas.
(1) Este trabalho faz parte de uma pesquisa sobre o teste desiderativo que foi organizada pela cadeira de Técnicas Projetivas da UNBA, no ano de 1966. Professor titular: Jaime Bernstein.
Professora adjunta: Maria L. S. de Ocampo. Foi publicado com algumas mudanças na Revista Argentina dePsicología, ano 1, n. 3, março de 1970.
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82 O PROCESSO PSICODIAGNÓSTICO E AS TeCNICAS PROJETIVAS
O QUESTIONÁRIO DESIDERA TIVO
Implicitamente, defrontam-no com a morte, em especial com a pró pria morte. O entrevistador é o portador da morte, o objeto de quem provém a ameaça.
Levando em conta esta situação vincular, tornou-se evidente para nós que as dificuldades para diagnosticar as defesas residiam no fato de que estas não apareciam isoladas no teste, mas que toda a verbalização expres sa a organização defensiva frente ao ataque implícito nas instruções.
Através das respostas, verbais e corporais, que o examinado nos ofe rece, podemos observar o esforço defensivo do ego para se recuperar e absorver o impacto sofrido e sua modalidade defensiva prevalecente.
O ego e seus objetos estão ameaçados de morte na situação de teste; portanto, mobilizam-se recursos defensivos: o sujeito, através das cate xias( *) positivas, explicita as fantasias inconscientes das defesas, descreve simbolicamente seu modo de evitar os perigos inerentes à ameaça fan tasiada.
Toda a verbalização das catexias positivas contém a fantasia incons ciente da defesa; é como se o examinado respondesse: “quando tenho medo (e agora tenho) faço tal coisa”.
Ou seja, “frente ao medo (por si mesmo e por seus objetos), o ego tenta reforçar determinados aspectos e evacuar outros, ou aprofundar ou evitar o vínculo com determinados objetos”.
A verbalização das catexias negativas expressa:
a) tanto a fantasia daquilo que o ego teme que lhe aconteceria caso não pudesse apelar para os recursos defensivos que mostrou nas positivas;
b) quanto as conseqüências negativas que o uso específico dessas defesas tem sobre seu ego. Isto é, a percepção interna de quais aspectos instrumentais do ego são cerceados pela defesa.
A nova abordagem revelou-nos a eficácia deste teste para o diagnós tico das fantasias inconscientes defensivas predominantes em cada sujeito.
A partir disso, confrontamos os diagnósticos obtidos com os deriva dos da aplicação de outros testes.
Posteriormente, investigamos a relação entre modalidades de respos ta ao teste desiderativo e quadros nosográficos. Isto nos permitiu determi nar quais são as características dos símbolos e das racionalizações desidera tivas nas organizações defensivas inerentes a cada quadro, como veremos posteriormente.
Por outro lado, o teste desiderativo oferece índices que podem ser referidos não só a um quadro psicopatológico, como também ao grau de integração conseguido pelo ego, pois oferece-nos a possibilidade de ver as
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seqüências defensivas Organizativas ou desorganizativas. Os critérios utili zados pará’ tal fim serão desenvolvidos na parte relativa ao prognóstico.
Pensamos que o desiderativo oferece outras possibilidades de investi gação, que estamos desenvolvendo neste momento, tais como: diferenças de produção por idades e relação entre acontecimentos da biografia de cada sujeito e a escolha de símbolos condensadores destes.
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(*) VerN.doE.àp.59.
Quadros
Defesas
Características dos símbolos negativos
Esquizóides
Qo
Depressivos
1) O outro está explicitado na verbaJizaç
2) Escolha de objetos que estio em contato direto (físico) com pessoas.
3) Tipo de vínculo:
aproximando.se do Outro e apaziguando-o, mostrando-lhe que o ego só tem amor e bondade.
4) Escolha de objetos passivos, receptivos, próximos, mas sem movimento (salvo quando predomiriam defesas maníacas). (Geralmente escolhem primeiro animais.)
Dissociaçiio
(Geralmente escolhem primeiro objeto ou vegetal.)
Escolha de símbolos:
1) Afastados, fixos, inalcançáveis, que podem estar colocados na posiçao de “observar o mun do”, de cima. Ex.: estrelas, Sol, Lua, satélites, etc.
2) Idéias abstratas. Máquinas eletrônicas, com putadores, etc.
Mantém as características da defesa anterior quanto a afastados, inalcançáveis, etc., mas estio mais acentuadas as características de oni potentes e indestrutíveis. Predominam fantasias onipotentes a nível .e pensamento mágico (Deus, um Santo, uma Fada, Superman, Bat man).
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