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A Magna Carta

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Por:   •  25/9/2013  •  3.487 Palavras (14 Páginas)  •  365 Visualizações

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O OLHAR MATERNO:UM ENFOQUE NO NARCISISMO.

Graciana Stumpf Heck

Núcleo de Estudos Sigmund Freud

Formação em Psicanálise

Porto Alegre, julho de 2007

INTRODUÇÃO

A motivação para escrever o presente trabalho, tendo como tema central o Narcisismo, surgiu a partir de um seminário ministrado por Eurema Gallo de Moraes no Núcleo de Estudos Sigmund Freud. Partindo da teoria, a escuta clínica de uma paciente em especial passou a ter um sentido diferente.

No início do tratamento, questionava-me a respeito das escolhas de objeto feitas por esta paciente. Fui compreendendo que sua história de vida estava diretamente relacionada com tais escolhas, uma vez que mostravam-se alicerçadas numa “falha” do Narcisismo.

Inicio este trabalho trazendo o mito de Narciso, que explana o amor de um indivíduo por si mesmo. Em seguida, faço uma breve contextualização, tanto a nível histórico do tema proposto, quanto a nível pessoal, enfocando o momento em que Freud desenvolve o tema do Narcisismo. Após, desenvolvo uma revisão teórica , baseada em autores clássicos e contemporâneos, que tem como objetivo elucidar o tema proposto. Além disso, farei uma discussão de um caso clínico, relacionando a teoria com a prática.

Gostaria ainda de salientar que abordar este tema, num breve trabalho como este, é uma tarefa complexa e difícil. Desta forma, tenho o objetivo de fazer algumas reflexões a respeito do tema do Narcisismo, sem a pretensão de esgotar tal assunto.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Nas origens do mito

Narciso é filho do rio Céfiso e da Ninfa Liríope. Embora tenha sido uma gravidez não desejável e árdua, fora concebido este lindo menino. Narciso era considerado um mortal de suprema beleza, mais belo do que os próprios imortais, despertando o desejo das deusas, ninfas e jovens da Grécia. No entanto, toda esta formosura do filho despertava um certo receio em Liríope. Frente a tal preocupação, vai consultar Tirésias (adivinho, profeta) para saber quantos anos viveria seu filho, visto que era o mais esplêndido dos mortais. Tirésias comunica à Liriope que seu filho poderia viver muitos anos, com a condição de que não se visse. (BRANDÃO, 2000)

Narciso passou a despertar o encantamento de muitas jovens e ninfas. Entretanto, o jovem filho do rio Céfiso mostrava-se indiferente a quem se maravilhava por ele. Uma ninfa chamada Eco se apaixonou por Narciso. Eco havia sido punida pela deusa Hera a não conversar mais, somente repetindo as últimas palavras que ouvisse. Tal punição se estabeleceu visto que Hera havia decidido prender seu marido Zeus no mundo dos imortais pois desconfiava da infidelidade deste ao viajar no mundo dos mortais. Zeus, decidiu chamar Eco, que falava demais, para que distraísse sua esposa enquanto dava suas voltas com as belas mortais. (BRANDÃO, 2000)

Eco, deslumbrada pela beleza de Narciso, passou a segui-lo desapercebida enquanto este caçava. Narciso ouve barulhos e pergunta quem está ali. Eco passa a repetir as últimas palavras de Narciso. Eco vai a seu encontro, e, ao vê-la, foge e grita: “Antes morrer do que confiar-te meus tesouros” (SHULER, 1994, p. 18). Eco sente-se desprezada, deixa de se alimentar e se transforma em pedra. Frente à tamanha insensibilidade de Narciso, as outras ninfas solicitam que Nêmesis puna-o. Narciso, deste modo, é condenado: “que ele mesmo ame assim, e que assim recuse o amado” (SHULER, 1994 p. 19). Sua condenação foi viver um amor impossível.

No verão, Narciso se aproxima de um lago para aliviar a sede que sentia. Ao chegar perto, pode ver sua imagem refletida, supondo haver outro ser. “Viu-se e não mais pôde sair dali: Apaixonara-se pela própria imagem” (BRANDÃO, 2000, p. 180). Roudinesco e Plon (1998) referem que Narciso, na tentativa de abraçar a imagem refletida, afunda seus braços na água. Porém, tal imagem escapa. Narciso passa a perceber que aquela é a sua imagem, sendo ele mesmo seu objeto de desejo. Com choro forte, fere seu peito com seus próprios punhos. No lugar do corpo, foi encontrada uma flor.

2.2. Contextualização histórica

Para um melhor entendimento do fundamento teórico, acredito que, em um primeiro momento, seja fundamental uma compreensão tanto do contexto histórico quanto do contexto pessoal em que Freud fundamenta sua teoria do narcisismo.

Em 1910 Freud escreve o ensaio “Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância”. Neste, foi abordado pela primeira vez o conceito de narcisismo: uma fase inicial, situada entre o auto-erotismo e o amor objetal (GAY, 1989).

No estudo que fez sobre Schreber em 1911, e em “Totem e Tabu” (1913), Freud também acrescenta algumas referências sobre o narcisismo. No entanto, irá se dedicar de fato ao tema em seu artigo de 1914: “À guisa de introdução ao Narcisismo”(GAY, 1989).

Em 1913, Freud já havia escrito um rascunho de seu ensaio sobre o narcisismo. Neste mesmo ano, ocorre uma ruptura do relacionamento de Jung com Freud. Freud faz uma menção deste ano para seu amigo Ernest Jones:

É difícil lembrar-me de uma época tão cheia de mesquinhas maldades e contrariedades como esta. É como uma chuva de mau tempo, você tem de esperar quem irá melhorar, você ou o gênio mau deste tempo.(JONES, 1989, p. 108)

Jones (1989) menciona que ainda neste ano ocorre o casamento de sua filha Sophie com Max Halberstadt. Um breve casamento pois Sophie vem a falecer em 1920, devido a uma pneumonia.

O ano de 1914, é marcado por um contexto histórico importante: a eclosão da Primeira Guerra Mundial, tendo seu início no final de julho de 1914 e seu término em 1918 (COTRIM, 1995).

Antes da explosão da guerra, Freud vivencia, no início do ano, alguns acontecimentos marcantes, como o nascimento de seu primeiro neto que atualmente tem a mesma profissão de seu avô, tornando-se, portanto, um psicanalista. Além disso Freud passou por difíceis perturbações intestinais, criando-se a hipótese de um câncer. Foi preciso se submeter a um exame exaustivo para descartar tal hipótese.(JONES, 1989).

2.3. O conceito de Narcisismo

A partir de observações clínicas, Freud, no ano de 1914, formula o conceito de narcisismo, como sendo uma etapa normal do desenvolvimento. Marca uma progressão do auto-erotismo ao narcisismo primário e deste ao narcisismo secundário.

No caso Schreber, Freud (1911) refere-se ao narcisismo como sendo uma fase do

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