A Psicopatologia, Sociedade e Cultura
Por: luleleo • 3/3/2020 • Trabalho acadêmico • 1.712 Palavras (7 Páginas) • 145 Visualizações
Universidade de Fortaleza – UNIFOR
Centro de Ciências da Saúde – CCS
Graduação em Psicologia
Disciplina: Psicopatologia, Sociedade e Cultura
Turma: H026 – 51 / M2CDE
Professora: Clara V. de Q. Pinheiro
Luciana Silva Ferreira
Questão 1: Apresentem e analisem os relatos dos atores/sobreviventes/ testemunhos do Hospital-Colônia de Barbacena, procurando evidenciar nos fatos lembrados e falados de relação da sociedade com a loucura. (3,0 pontos; devem ser analisados pelo menos três relatos, para grupos com menos de quatro e com mais, no mínimo 4 relatos)
O documentário O holocausto brasileiro é uma obra baseada no livro homônimo de Daniela Arbex publicado em 2013. Foi dirigido por Armando Mendz e Daniela Arbex com produção de Alessandro Arbex e a própria Daniela entre outros produtores com lançamento em 29 de novembro de 2016. A obra retrata a realidade do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena – CHPB no estado de Minas Gerais. Criado em 1903, o antigo Hospital Colônia, como era conhecido, viveu uma história de extermínio entre 1930 e 1980.
O conteúdo histórico institucional presente nesta obra é de fundamental importância para a reflexão da prática dos profissionais que atuam no âmbito da atenção à saúde mental. A dimensão dessa reflexão não pode apenas se debruçar ao sujeito heterônimo, mas aos fenômenos sócio- históricos, culturais e políticos que constituem uma sociedade.
De início a pergunta a seguir é de fundamental importância: que fenômenos sociais e políticos o Brasil vivia nessa época? A fala do ex-diretor nos esclarece: “o hospital colônia no primeiro momento as coisas funcionavam, ele cumpria o papel baseado na medicina francesa até a década de 30, onde a partir do Estado Novo, regime forte, as coisas começaram a complicar dentro da instituição”. O Brasil estava experimentando a Primeira República (1889-1930), até Getúlio Vargas em 1930, através de um golpe de Estado, inicia um novo período político, período referido pelo ex-diretor como regime forte. No período da República Velha:
A necessidade de enquadramento nessa nova lógica contribuiu para o surgimento de diversos discursos legitimatórios que visavam, em última instância, reorganizar essa sociedade, destacando-se entre eles o movimento sanitarista, que ocupou posição privilegiada, sendo o discurso político e ideológico do aparelho estatal, tornando-se estratégia política da classe dominante. Foi largamente utilizado como forma de enquadramento da população na nova configuração social, onde o autoritarismo e as teorias cientificistas europeias formaram a base de sustentação para a higienização,
disciplina e organização dos sujeitos de acordo com a lógica das novas relações sociais. (MELLO et al.; 2010, p.01)
Barros e Josephson (2005), sobre A invenção das massas: a psicologia entre o controle e a resistência traz a reflexão sobre a emergência do Estado moderno, no século XVIII, com a instauração de um modo de viver que individualiza e reflete um modo-padrão de experimentar as relações no mundo. “O Estado desempenhará o papel de orquestrador-produtor de uma operação biopolítica, com o auxílio da tecnologia disciplinar operada pela medicina, que agregava médicos, cientistas e outros profissionais e funcionava como uma polícia, pois não só difundia as normas para os cuidados com a saúde e a higiene, como também controlava sua correta aplicação”.
Daniela, no percurso de sua investigação, perguntava aos entrevistados: de quem é a culpa? Um entrevistado respondeu: a culpa é coletiva, é de todos. Ela concluiu: “O Estado brasileiro era o responsável por cuidar dessas pessoas, e o Estado falhou”. Essa afirmação nos remeteu a Freud quando afirmou que “a Instituição falha em sua missão. Ela demonstra certa fragilidade no momento em que contraria a finalidade para a qual foi criada – a justiça legitima a injustiça; a saúde não promove saúde – gerando o mal-estar e o desassossego estrutural a que estamos submetidos”. (SAMPAIO, 2009). Na prática, uma enfermeira entrevistada afirmou: “A sociedade ainda tem muito de higienista. E o discurso da periculosidade dá suporte a este higienismo. Eles usam a agressividade para cometer violência”.
Edson Brandão, pesquisador entrevistado no documentário, afirmou: “É muito estranho um hospital psiquiátrico ter acoplado um cemitério, porque a expectativa do hospital não era curar, era deixar a vida até morrer”. “Encaminhados de trem, os pacientes eram esquecidos no hospital. Mais de 60.000 pessoas morreram aqui”. Foucault (1975-1976), trouxe uma reflexão sobre o poder soberano de vida e de morte, ou como ele mesmo disse, o poder de “fazer morrer ou deixar viver”. Ele acreditou que uma nova política emergia no século XIX e a representou com a expressão de forma invertida, ou seja, o poder de “deixar morrer e fazer viver”. A partir daí Foucault foi desenvolvendo o conceito de biopolítica.
No contexto do maior hospital psiquiátrico brasileiro, ao longo de quase todo o século XX, o extremo da institucionalização humana denota forte semelhança ao que ocorreu com os judeus na Alemanha Nazista. Aqui com o “louco”, ou melhor, com todo aquele que era indesejado. O título de Holocausto Brasileiro se deve a ação sistemática de extermínio ou melhor, “o deixar morrer” a essas pessoas indesejadas por suas famílias, pela sociedade, pelos profissionais da saúde, pelo Estado. “Eles, que foram chamados de ‘doidos’, denunciam a loucura dos ‘normais” (ARBEX, 2013, p. 13).
Questão 2: Sobre o Hospital Colônia de Barbacena: qual sua função social? Quais instâncias de poder excluíam o louco? Quais motivações para exclusão do louco? (2,0)
Nesse contexto de higienização social os internados do Hospital Colônia eram esquecidos por décadas, privados de sua identidade e do contato com o meio externo ou objetivados como meio de lucro com a venda de cadáveres às faculdades de Medicina e também muitos deles trabalhavam para os funcionários do hospital e para o prefeito em troca de cigarros, por exemplo; os ‘pacientes’ do Hospital Colônia, em sua maioria não tinham diagnóstico de transtorno mental. Eram tidos como incômodo:
Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas,
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