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ANÁLISE INSTITUCIONAL: LAPASSADE

Por:   •  29/8/2017  •  Resenha  •  2.544 Palavras (11 Páginas)  •  9.915 Visualizações

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ANÁLISE INSTITUCIONAL: LAPASSADE

        Há uma dimensão oculta, não analisada e, portanto, determinante” a dimensão institucional. A análise institucional é o método que “visa a revelar nos grupos, esse nível oculto de sua vida e de seu funcionamento.

O sentido das organizações e dos grupos é sempre externo a eles; está na história, no modo de produção e na formação social em que esta organização é constituída.

[Lapassade: Chaves da sociologia]

Georges Lapassade, com suas contribuições, avança mais em direção à formatação do estudo psicológico das instituições: Análise institucional é como ele próprio virá denominar sua proposta de compreensão e intervenção nos grupos e organizações.

        Tendo uma perspectiva marcadamente sociológica e política diante das questões e do trabalho institucional, suas origens conceituais se localizam na psicossociologia ou da psicologia dos grupos. Pode-se, pois, considerar a abordagem de Lapassade uma alternativa à alternativa à visão psicanalítica proposta por Bleger.

        A análise institucional seria, então, uma “maneira singular de entender o que são as relações instituídas”, e inclui também uma forma de atuar sobre essas relações, uma forma de agir sobre elas. A Análise Institucional de Lapassade é uma maneira de entender e decodificar (decifrar) as relações que indivíduos e grupos estabelecem com as instituições.

A Análise Institucional tem suas bases teórico-conceituais no encontro de diversas  disciplinas, principalmente a Psicologia Social, a Sociologia e a Pedagogia, dando especial importância às perspectivas marxista e psicanalítica.

Sua origem concreta vem da

  1. prática de uma pedagogia institucional que, opondo-se a uma pedagogia analisada como autoritária, almejou construir uma nova relação o educador-educando (novas relações nas instituições de ensino).
  2. práticas da psicoterapia institucional, como ação e prática sobre as instâncias institucionais impeditivas da cura a que as próprias instituições se propunham.
  3. psicossociologia, que é o estudo e o trabalho com pequenos grupos.

A Análise Institucional tem uma posição constante e definitiva de crítica às instituições, não no sentido de suspeitar de sua eficácia ou funcionamento, já que, segundo Lapassade, as instituições sempre cumprem sua função social, já que todo e qualquer instituição terá e cumprirá uma função social, até mesmo quando parecem disfuncionais (dito de outra forma, o que parece “disfunção” é, de certa forma, a própria “intenção” da instituição),

Desta forma, Análise Institucional designa:

  1. uma determinada concepção teórica que seja a instituição, subsidiando sua análise e entendimento e,
  2. uma forma de intervenção transformadora nessas mesmas instituições, por meio da provocação e da revelação de seus aspectos estruturais e estruturantes.

Lapassade lança assim as bases do pensamento e da prática da Análise Institucional, articulando:

  1. o nível da intervenção (análise em situação) e
  2. o nível da teorização e estudo.

      Nas palavras de Guirado, “uma forma de análise política da realidade social e institucional” (p. 27)

Segundo Lapassade, a forma mais efetiva de intervenção da Análise Institucional se dá pela implantação da autogestão, e é aí que se configura o campo propriamente político e transformador da Análise Institucional.

Para  Análise Institucional a realidade social se dá em três níveis:

  1. grupo, que é base da vida cotidiana. As regras de funcionamento e operação do grupo são as marcas da instituição, e seu objetivo é a ordem e o controle. Como estamos submersos e submetidos aos grupos em que vivemos cotidianamente, vivemos, também cotidianamente, de forma submersa, o instituído (a instituição) Há sempre, portanto, a mediação da instituição no grupo.
  2. organização, suas normas e regulamentos são estabelecidos com  forma jurídica, fazendo a ligação entre a sociedade civil e o estado. Aqui Lapassade localiza a burocracia (estrutura que é a ocasião, causa e conseqüência de relações autoritárias). Na burocracia, certos grupos detêm o poder e a força para estabelecerem e imporem as normas, enquanto outros grupos ficam excluídos da elaboração e aplicação dos regulamentos, critérios e das normas de comportamento, avaliação (julgamento), produção e aprendizagem.
  3. Estado (o conjunto de leis que regem os comportamentos e as relações sociais) é a instituição propriamente dita.

Na linguagem do senso comum, o termo instituição remete mais à concepção aqui nomeada de organização (o nível organizacional da instituição), isto é, com o estabelecimento, as instalações, o localizável espacial e/ou juridicamente. No entanto, para Lapassade, “o termo instituição não designa as formas materiais do prédio, ou a distribuição hierárquica mais imediata de uma empresa, escola ou hospital”; é algo como “o inconsciente de Freud (não localizável), onipresente, até mesmo nas ações aparentemente menos significativas” (Guirado, p. 29)

Instituição, para Lapassade, é:

  • o conjunto do que está instituído, e sua jurisdição estende-se a toda e qualquer relação, transpassando-as e dando a dimensão política inerente e constituinte de cada uma dessas relações (individuais, grupais e organizacionais);
  • a forma geral das relações sociais”, o padrão, é o que perpassa e configura (sobredetermina) as relações sociais (da pedagógica à de trabalho). Assim, a instituição estará sempre presente nas formas organizacionais e grupais de relação.

Por isso, Lapassade usa esses três termos para distinguir os três níveis da realidade social: grupo, organizações e instituição. Às vezes, se refere a eles como: primeiro, segundo e terceiro níveis institucionais ou organizacionais.

A idéia de instituição inclui duas dimensões:

  1. Instituído: designa aquilo que já está estabelecido, fixado e cristalizado nas relações (dimensão histórica)

Instituinte: designa o movimento de criação e invenção de novas formas (padrões) de relação (dimensão transformadora)

Usualmente, o termo “instituição” remete à idéia de “aquilo que está  instituído”, porém, para Lapassade, o instituinte é também parte da instituição e é ele, o instituinte; a garantia da possibilidade de mudança. Na linha do tempo, o instituinte termina por ser o instituído (talvez isto mesmo seja o processo de institucionalização), mas o instituinte sempre permanece de alguma forma, “ainda que sob controle, na condição de retornar como o reprimido, numa analogia a Freud”. Instituição é a “maneira mesma como a realidade social se organiza, sobredeterrminada como está pela mediação do Estado”. (Guirado, p. 31)

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