Alcool E Drogas
Artigo: Alcool E Drogas. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 17/5/2014 • 8.245 Palavras (33 Páginas) • 447 Visualizações
1. Substancia psicoativa breve contextualização.
Nos dias atuais a palavra “droga” é uma constante, uma vez que algumas pessoas fazem uso de tais substancias de forma desenfreada trazendo para suas vidas, num futuro próximo, possíveis prejuízos das mais variadas ordens. Mas na verdade, o que seria esta substancia atualmente tão comentada? De acordo com o dicionário Aurélio, droga s.f. designação geral de toda substância usada em química, farmácia etc. Nome dado aos narcóticos ou entorpecentes (morfina, cocaína etc.).
Alguns autores indicam que uma classificação bastante prática das drogas psicotrópicas ou substâncias psicoativas é a que se baseia nos efeitos dessas substâncias sobre o sistema nervoso central (SNC), modelo adaptado de Mansur e Carlini (1989), ou seja, drogas depressoras da atividade do SNC (álcool, benzodiazepínicos, barbitúricos, opiáceos, solventes ou inalantes, entre outros), drogas estimulantes da atividade do SNC (cocaína, anfetamina, nicotina, cafeína, entre outros) e drogas perturbadoras da atividade do SNC (maconha, haxixe, LSD-25, ectasy, entre outros).
A utilização das drogas de maneira abusiva na contemporaneidade vem gerando enormes problemas para a sociedade como um todo. Tais problemas vão desde os prejuízos financeiros – com a perda de empregos, bens e aquisição de dívidas junto ao trafico e agiotas, até o rompimento dos laços familiares, e afetivos que ao longo do tempo vão se fragilizando e que, finalmente, termina com o afastamento, muitas vezes definitivo das pessoas mais próximas do dependente químico.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (1993), a dependência de drogas é um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos, no qual o uso de uma substância ou mais atinge uma prioridade para um determinado indivíduo, em prejuízo de outros compromissos e responsabilidades familiares, sociais e no trabalho, que antes eram significativos na vida do mesmo. Uma característica relevante da dependência é o desejo forte, muitas vezes irresistível de consumir drogas psicotrópicas.
Não se esquecendo de mencionar que no caso do consumo das drogas licitas como o álcool associado à direção, mistura perigosa que já levou a muitos óbitos e sofrimento, já que, apesar das campanhas de orientação para não dirigir quando se faz ingestão de bebida alcoólica, a cultura nacional de driblar as normas e regras faz com que muitos brasileiros causem ou tornem-se vitimas de acidentes de transito.
De acordo com Laranjeira, apud Pratta e Santos, o consumo de drogas é hoje um dos fenômenos sociais que mais acarreta gastos com a saúde e justiça, além das dificuldades geradas no contexto familiar (PRATTA e SANTOS, 2006).
Mas será que o uso de drogas sempre foi dessa forma tão prejudicial? Não. O uso de substancias psicoativas não é um fenômeno dos tempos modernos, é algo que vem sendo feito ao longo da história da humanidade. O que mudou durante toda essa longa trajetória foram os motivos, momentos e tipos de substancias usadas. Assim como também sua frequência e a associação da mesma ao estado de espírito dos usuários, ou seja, se a pessoa sente-se bem, faz uso. Se se sente mal, também. Desta forma, a droga vem preenchendo espaços importantes na vida de muitas pessoas, dando significados e levando um prazer nunca antes sentido. Mudando assim, suas relações com os entes mais próximos e consigo mesmo.
O consumo de drogas pela nossa espécie é bem antigo, uma vez que, muitas civilizações recorriam a substâncias psicoativas, encontradas em determinadas plantas, para serem consumidas durante determinados rituais religiosos. Além disso, algumas drogas, como a maconha, são utilizadas para o tratamento de doenças como o câncer, e outras doenças degenerativas. No entanto, os mesmos produtos, quando ministrados em contextos e quantidades diferentes, podem provocar efeitos também diferentes. Se acompanhadas e monitoradas durante cerimônias religiosas como no caso do santo daime tem objetivo e efeito específicos, mas se usadas de forma constante e abusiva pode causar grandes problemas para quem as consome.
Para entendermos melhor a trajetória do consumo de substancias, vamos a épocas mais distantes da nossa. Segundo Moreno et al (2009) e Federação de Comunidades Terapêuticas (2001), a utilização de substâncias naturais para mudar as percepções humanas confundem com a própria origem do homem. O álcool, por exemplo, é considerado a droga mais antiga de todas com o objetivo de mudar mente e emoções. Através das épocas observou-se um avanço nas técnicas de fermentação através das matérias primas como cevada e frutas. Qualquer cereal ou frutas prensadas sofrem alterações em consequência da fermentação. Desta forma originou-se a produção de bebidas alcoólicas como uma arte pelos povos egípcios e gregos. Durante este período eram comuns que bebidas alcoólicas fossem servidas em festas e comemorações, principalmente, os festejos em homenagem ao deus Greco-romano, Dionísio/Baco, conhecido como deus do vinho e das orgias. Assim como no Egito, em honra ao deus Osíris, as bebidas feitas de cevada eram consumidas em tais rituais.
De acordo com Carneiro, 2002:
As formas de usos, entretanto, são regulamentadas de formas diferenciadas, e no século XX, encontramos o estatuto de uma proibição formal de certas substâncias e a aceitação de outras. A discriminação das substâncias obedece a injunções culturais e econômicas. Embora o álcool tenha sido vítima da primeira lei seca norte-americana, ele em geral é tolerado nas sociedades ocidentais, assim como o tabaco, enquanto substâncias reconhecidamente mais inócuas como os derivados da canábis mantém-se sob interdição. O julgamento da legitimidade ou não destas necessidades é arbitrariamente estabelecido. O uso de uma justificativa médica e de saúde pública para se proibir certas drogas é contraditório com o fato de que algumas das substâncias mais perigosas são permitidas devido ao seu uso ser tradicional no Ocidente cristão. O cigarro, por exemplo, desde a guerra da Criméia incorporou-se à ração dos exércitos e aos hábitos populares, o chá e o ópio à dieta da Inglaterra vitoriana, e o álcool na forma do vinho, da cerveja e dos destilados continua sendo a bebida nacional de muitas nações.
A questão da proibição ou regulamentação das drogas perpassa as questões éticas e adentra na econômica, já que é sabido que a indústria da bebida alcoólica, por exemplo, gera enormes fortunas ao governo. Tanto que sempre foi bem aceito a divulgação de seus comerciais me rede nacional para que toda a população criasse o habito de consumir e legitimar o álcool e não o considerar como droga. Assim acontece com o cigarro. Apenas de algumas mudanças nos dias atuais, com relação a propaganda tanto de bebidas quanto de tabaco, a nossa cultura ainda é de discriminar e satanizar as drogas ilícitas como maconha, cocaína dentre outras e aceitar de maneira pacifica o álcool e o cigarro.
Enquanto se pensa na proibição ou regulamentação de drogas, ilícitas outras substancias são usadas de maneira abusiva como os medicamentos, principalmente, os barbitúricos, ansiolíticos, antidepressivos e as anfetaminas. As exigências da contemporaneidade, onde as pessoas precisam ser melhores em tudo: no trabalho, nos estudos, nas relações, a competitividade, diminuição do sono, péssimos hábitos alimentares e sedentarismo faz com que cada vez mais, as pessoas precisem de medicamento para dar conta de todas as demandas diárias sem perder tempo nem energias. Tal situação vem causar uma relação de dependência desses consumidores com relação a estas substancias. O que no futuro próximo acarretara problemas das mais variadas ordens. Vamos compreendermos melhor esta dinâmica no tópico seguinte, iremos saber quais os tipo de usuários de substancia psicoativas e o grau de comprometimento dos mesmo com relação ao seu consumo.
1.1 – Tipos de usuários
Quando se fala em drogas é errado pensar que todos os que as consomem são “viciados” e estão com sérios problemas. Na verdade, a substancia em si não é tanto o fator chave, e sim, a relação que se cria com ela. É possível fazer uso de alguma droga durante quase toda a vida não ter prejuízo com ela. Há tipos diferentes de usuários, assim como são diferentes a forma como cada um lhe dá com as mesmas. E é através da relação que se cria que é possível distinguir o tipo de usuário. Seriam eles:
• Experimentador: Aquele que não tem hábito de consumir droga ou nunca a consumiu, mas que devido curiosidade optou por usar uma ou rara vezes para saber como funciona. Mas na verdade não tem relação alguma com a substancia chegando a abandonar o uso.
• Usuário ocasional: Seria aquele que vez ou outra faz uso de alguma substância, seja para relaxar, para conciliar melhor o sono, ou para sentir-se mais estimulado. Não hábito nesta ação, assim como também, ela não causa prejuízo algum.
• Habitual: Já neste caso, o consumo tem certa frequência e pode ser abusivo causando alguns danos a quem consome. O próprio usuário vai comprar, por livre e espontânea vontade. A pessoa começa a perder o controle das ações e não se percebe diante das situações criadas. Já está correndo riscos de ficar dependente e seria importante que já procurasse por algum tipo de ajuda.
• Dependente: Pessoa a qual tem uma relação doentia com a droga. Precisa da mesma para viver, chegando ao ponto de negligenciar aquilo que mais amava como em alguns casos: a família, o trabalho, os amigos, entre outros. Alem disso, nesse estágio o usuário causa diversos prejuízos para si e para os entes mais próximos. Tal situação a causa, na maioria das vezes, afastamento, e rompimento dos vínculos afetivos e familiares. Nesta fase, o usuário precisa de ajuda e proteção, pois, pode se colocar em situação de risco e vulnerabilidade diante não apenas da droga, como da situação que se configura.
Diante do exposto, é possível perceber através da relação o grau de envolvimento do usuário com sua substancia de preferência. Assim como também é possível uma abordagem por parte das pessoas mais próximas a fim de que seja feita uma reflexão com relação ao consumo e as consequências do mesmo, com a finalidade de prevenção e proteção. Neste momento a presença e atuação familiar se faz necessário para perceber a tempo e intervir de forma que venha a ajudar o usuário. Em boa parte dos casos o consumo de dá ainda na adolescência e às vezes dentro da própria casa, com a anuência da família. No capitulo seguinte abordaremos mais sobre esta temática a fim de pensar a família no neste contexto e sua influência no consumo dos usuários.
2. A família e suas transformações ao longo da história.
Quando se pensa em família, para algumas pessoas, vem em mente a imagem da conjuntura nuclear burguesa: papai, mamãe e filhinhos (DIMINUTIVO NÃO!!!) vivendo sob o mesmo teto. Porém devido às muitas transformações ocorridas na humanidade fez com quem essa ideia ou conceito de família passasse por muitas e significativas mudanças e que hoje se apresenta das mais variadas formas, mas sem perder a importância para seus membros. Se formos observar a fundo, é bem verdade o dito popular que diz: “família é à base de tudo”, uma vez que ela é a nossa primeira sociedade, e são com os membros dela que iniciamos nosso processo de socialização com os demais. O que se espera da família, segundo Carvalho et al (2002), é o cuidado, a proteção, o aprendizado dos afetos, a construção de identidades e vínculos afetivos, visando uma melhor qualidade de vida a todos os seus membros e a inclusão social em sua comunidade.
De acordo com Schenker e Minayo: “a família passa os seus valores e as suas crenças através das gerações, sendo a fonte primeira de acolhimento para seus membros. Pelo fato de ser corresponsável pela formação dos indivíduos, a família está diretamente implicada no desenvolvimento saudável ou adoecido dos seus membros”. É em casa que aprendemos como lhe dar (Me dar o quê? Não seria “LIDAR?)com as pessoas, como nos portar em sociedade, e alguns valores que serão levados por toda a nossa vida. Porém, tudo isso é bastante positivo quando o núcleo familiar é estruturado, e com espaço para diálogo entre seus membros.
A literatura ressalta que não é a quantidade de tempo disponível por parte dos pais que vai determinar como o filho enfrentará os desafios da sua evolução, mas sim a qualidade das relações e vínculos afetivos estabelecidos entre os pais e filhos no tempo em que é possível ficarem juntos. O importante é o filho perceber que existe uma identidade familiar e que os desafios e problemas são enfrentados no contexto familiar (DRUMMOND e DRUMMOND FILHO, 1998).
Mas o que dizer de uma família desestruturada onde as pessoas que ali convivem não sabem ao certo seus papeis e funções na vida uns dos outros? Uma vez que acabamos reproduzindo aquilo que recebemos de nossos pais. (CABE COMPLEMENTO OU ESTRUTURE ESSA AFIRMAÇÂO)
E se adicionarmos à esta situação o uso ou abuso de sustâncias psicoativas muitas vezes comuns para algumas famílias, devido à cultura na qual estão inseridas? Que imagem, que mensagens, que conceitos essas pessoas estarão incutindo na mente de suas crianças e adolescentes? E quais os desdobramentos desses comportamentos? São várias as questões que poderemos (PODERIAMOS) refletir um pouco para entendermos como muitas famílias adoecem por causa do uso abusivo ou dependência de drogas de seus membros. O inicio dessas experiências, em muitos casos, ocorrem dentro de casa. Com a anuência ou não dos pais, mas sem dúvida, direta ou indiretamente, a relação com a família tem grande peso para os usuários na sua experiência com as drogas.
2.2 (2.2 ou 2.1? Onde está o 2.1 então?)– A família ontem e hoje
Inicialmente a estrutura familiar composta por pais e filhos era tida como modelo uma vez que representava a estrutura a ser seguida, onde o homem era o chefe da família, a mulher tinha a missão de gerar crianças e estas por sua vez, eram miniaturas dos adultos sem uma função definida ou importante. Na medida em que o tempo passou e a humanidade evoluiu, influencias externas como o advento da industrialização, a modernidade, a liberdade de pensamento e expressão deu à família um novo lugar no tempo e espaço bastante diferente do inicial. Tais mudanças ocorreram juntamente com a atualização dos acontecimentos, dentre eles, a inserção da mulher no mercado de trabalho. O que (expressão utilizada para frase interrogativa)provocou (provocando...) uma verdadeira revolução (revolução de que?), tirando esta do velho lugar de procriadora para provedora e em alguns casos, chefe de família, contrariando totalmente o pensamento patriarcal arcaico.
Alem disso, a partir desse momento, os casamentos passaram a ter um motivo diferente.(“contextos diferentes”) Se antes o que pesava na decisão da união eram os interesses financeiros e familiares, com a modernidade os laços afetivos tomaram espaço permitindo que as pessoas fizessem escolhas de acordo com os sentimentos, levando em consideração suas emoções e não apenas as conveniências e formalidades. Não podemos esquecer que do mesmo modo que se tinha a “liberdade” de escolher com quem queria casar, ocorreu também à decisão de finalizar a relação quando o sentimento que a motivou inicialmente não se fazia mais presente na vida dos cônjuges. Esta situação deu à família uma nova roupagem, permitindo novos arranjos ficando cada vez mais longe do padrão pensado há séculos atrás.
A relação entre a dissolução da família patriarcal, hoje, e a correspondente “dissolução dos costumes”, pode se dar por duas vias. A primeira delas vai no sentido do público ao privado. O modelo de socialização que durante quase dois séculos esteve ao encargo da família patriarcal só fazia sentido em sociedades onde havia algum tipo de continuidade entre a vida pública e a vida privada, onde os valores aprendidos e as restrições impostas aos sujeitos no âmbito da família correspondiam a ideais e exigências importantes para o desempenho dos papéis na vida pública. A dissolução do espaço público em vários países do Ocidente – que no Brasil ganha contornos dramáticos – e a passagem de uma ética da produção para uma ética do consumo, entre outros fatores, são os grandes responsáveis pela desmoralização da transmissão familiar dos valores, e não o contrário. (Kehl, 2003)
O que se observa hoje são núcleos familiares formados das mais variadas formas, tais quais filhos de pais diferentes, mães solteiras - monoparentais, muitas vezes por escolha própria como forma de emancipação e desejo de não ser subordinada ao poder masculino talvez uma experiência vivenciada em relações anteriores, famílias formadas por casais homoafetivos, cujos filhos são oriundos de processos adotivos ou ate mesmo de relacionamentos anteriores, e não podemos esquecer-nos das formações familiares construídas entre amigos, vizinhos e conhecidos, onde estas pessoas assumem papeis de pais, mães e irmãos de pessoas que ao longo da vida perderam seus parentes biológicos e que se encontram sem vínculos de consanguíneos.( consAGUINEIDADES)
2.3 – Famílias e o consumo de drogas na atualidade.
No momento presente (Atualmente ou na atualidade) o homem se depara com vários problemas que surgiram juntamente com a evolução do processo histórico e das conquistas realizadas pela humanidade nas últimas décadas. Com tantas metas a alcançar, recordes a bater (bater é verbo de movimento. “objetivos a serem cumpridos ou obstáculos a serem transpostos”) e coisas (que coisa?) a construir o ser humano se ver (O ser humano se vê no espelho... nesse contexto ele sente-se)fragilizado e desgastado. Tal situação gera em muitos uma grande ansiedade, infelicidade e depressão o que pode ocasionar, em determinados casos, a procura por algo que alivie mesmo que momentaneamente tal pressão ou simplesmente faça esquecer por alguns momentos tantas cobranças ou gere prazer.
De acordo com Palha e Bueno, apud Pratta e Santos, “de uma forma geral a história da dependência química se confunde com a própria história da humanidade, ou seja, o consumo de drogas sempre existiu, desde as épocas mais antigas e em todas as culturas e religiões” (PRATTA e SANTOS, 2006, p.316). O uso de certas substancias apesar de não ser um fenômeno novo vem tomando contornos diferentes dos mencionados pelo autores acima.
Alves e Kossobudzky (2002) ressaltam que, as drogas sempre estiveram presentes entre os povos e culturas. Mas, a partir da metade do século XX e o início do século XXI, ocorreu um progressivo aumento da indústria do narcotráfico, um aumento da variedade e quantidade de drogas, acentuada facilidade para aquisição e distribuição, assim como também, o crescente consumo de drogas nos mais diferentes segmentos da sociedade. Este seria outro diferencial comparando-se ao consumo de substancias em tempos remotos.
Diante disso e de outras questões, se ver (vê-se) instalada a questão da dependência química, que também pode ser (olha 2 verbos juntinhos...troca por “talvez esteja”) relacionada ao uso de medicamentos cuja função é o relaxamento ou garantia de uma boa noite de sono ou ate mesmo drogas mais pesadas que com a frequência do uso e o prazer causado onde cada vez mais ocupa um espaço maior na vida de algumas pessoas, tornando necessárias na vida de algumas pessoas.
Hoje em dia já estamos acostumados a ouvir falar de dependência química. Segundo Moraes (2008), esse problema e suas consequências, tanto individuais quanto sociais, fazem parte do nosso cotidiano há muito tempo, visto que a relação do ser humano com as substâncias psicoativas é antiga. O que muda na verdade é o motivo e frequência desenfreada do uso feito atualmente.
Entretanto, Zago (2011) ressalta que há situação intrigante nesse sentido. A própria sociedade, através do estímulo ao consumismo incentivado pela mídia, leva as pessoas ao uso de álcool e outras drogas. Isso reflete o fato de que, em meio às desigualdades sociais existentes no Brasil e dos falsos valores muitas vezes vendidos pela mídia, às pessoas sentem-se incluídas socialmente ao cumprir com essa expectativa de consumo e aquisição de objetos.
Assim, o uso das drogas lícitas como o álcool, por exemplo, torna-se um meio de inclusão social, uma vez que pessoas reúnem-se para beber e que ele também faz-se presente dentro dos nossos lares. O que pode ocasionar o inicio de problemas com uso abusivo, já que culturalmente, o álcool é bem aceito em nossa sociedade e que para muitos não é visto como uma droga, quando na verdade, é a substancia mais prejudicial existente. Porem, tal leitura não é feita, principalmente pela mídia, cuja influencia é favorável ao consumo cada vez maior de bebidas através de suas propagandas sempre sedutoras e estimulantes.
É dentro de casa, no seio familiar que boa parte dos usuários de drogas licitas iniciam o consumo. Justamente pelo fato de álcool não ser entendido como droga que muitos jovens adentram nesse mundo, muitas vezes sem conhecimento das possíveis consequências do uso abusivo no seu corpo e desenvolvimento. É sabido que a dependência de substâncias psicoativas sofre influência de fatores psicológicos, sociológicos, culturais e espirituais e os mesmos desempenham um importante papel na causa, curso e resultados do transtorno (Figlie, Fontes, Moraes & Payá, 2004; Schenker & Minayo, 2004). Portanto é possível afirmar que a dependência química repercute não só no usuário de substâncias, mas também nos familiares que convivem com ele.
Conforme Penso (2000), a droga aparece como uma forma de denúncia de uma crise no contexto familiar. Neste sentido, pode-se refletir sobre as consequências da descoberta do uso de (QUE A) droga tem sobre as famílias, que demandas surgem a partir desse fato e que mudanças serão necessárias no redirecionamento das relações familiares.
A descoberta pela família que um membro usa drogas pode proporcionar uma série de reflexões sobre toda a trajetória familiar, ou seja, como a família lida com as alianças, regras, afetos, limites e os papéis de cada membro da família. A partir dessas reflexões e com a ajuda de profissionais da área da saúde mental, a família poderá analisar como cada um contribuiu para o desenvolvimento de um quadro de dependência química de um dos seus membros (PENSO, 2000).
O conhecimento de tal situação leva a família a um nível de fragilidade e adoecimento onde é necessária a realização de cuidados e escutas aos membros dos dependentes. Esta é uma preocupação das equipes que trabalha com este publico, já que, se entende que não é apenas o usuário que precisa de ajuda, sua família também precisa de escuta e cuidados ate para compreender melhor o processo pelo qual vem passando e a fim de poder dar o devido suporte ao seu ente doente.
É nesta perspectiva que o Programa Atitude procura trabalhar. Alem do cuidado e proteção dispensados aos dependentes assistidos pelo Programa, viu-se a necessidade de trabalhar as famílias, uma vez que, sem o apoio destas não será viável a concretização dos objetivos do Programa. No capitulo seguinte, abordaremos mais a fundo o Programa mencionado e a forma como ele atua junto às famílias dos usuários lá acolhidos.
3. Programa Atitude e o trabalho realizado junto a dependentes químicos e seus familiares.
A cidade do Recife vem realizando um grande trabalho com os usuários de álcool e outras drogas. Desde 2003, com a criação do Programa Mais Vida, a cidade tem um olhar especial para este publico, que alem de sofrer com o uso problemático e todos os prejuízos decorrentes deste, também sofre com o preconceito, sendo visto não como doentes, que como tal precisam de ajuda e tratamento, mas sim, como a escoria da sociedade, a qual tem a policia para solucionar suas demandas. O Programa Mais Vida, que tratava dependentes químicos, iniciou suas atividades no município em 2003, onde centenas usuários de drogas lícitas ou ilícitas, entre jovens e adultos, eram atendidos por mês na rede assistencial do programa.
De acordo com matéria publicada no site da Prefeitura do Recife em 2008:
O Programa Mais Vida, que trata dependentes químicos, existe no município desde 2003. Mais de 135 usuários de drogas lícitas ou ilícitas, entre jovens e adultos, são atendidos por mês na rede assistencial do programa. “Nosso trabalho é focado na valorização da vida do usuário”, diz Melissa. A rede especializada, que funciona integrada às unidades do Programa de Saúde da Família (PSF), possui seis Centros de Apoio Psicossocial em Álcool e Outras Drogas (CAPS ad), distribuídos em todo o município, três albergues terapêuticos para a hospedagem de adultos, uma unidade de desintoxicação e um centro de referência para mulheres.
Foi com a criação do Programa acima mencionado que a situação dos usuários de dependentes químicos no estado de Pernambuco passou a melhorar e se humanizar. Através da pratica da redução de danos e dos cuidados, este publico e seus familiares puderam compreender um pouco melhor a dinâmica da dependência e a outras maneiras de lhe dar com a mesma, tendo assim a possibilidade de uma melhor condição de vida, sem correr tantos riscos e se fragilizar.
Já com relação ao Programa Atitude, que é coordenado pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SEDESDH) e está alinhado às ações do Pacto Pela Vida – lançado em 2007 para combater a violência, O trabalho é recente, porem, assim como o Mais Vida, bastante significativo.
O Atitude surgiu em meados de 2010 após uma trágica historia que, infelizmente, se repetia no Estado com várias famílias. Neste caso o protagonista se chamava Neyvison Durval de 20 anos, morador do bairro de Nova Descoberta. A genitora do jovem, a Srª Tânia Maria de 46 anos, não sabendo mais o que fazer com o filho, dependente de crack e ameaçado na comunidade, decide acorrenta-lo a cama e chamar a policia para que assim seu filho fosse protegido e conseguisse um local para ser acolhido. Porem sem sucesso. Mãe e filho, após o registro da ocorrência na delegacia da Macaxeira retornaram para casa sem perspectiva de tratamento para o rapaz.
Segundo a genitora em entrevista: “Faz seis meses que não sei o que é comer nem dormir direito, só aperreada com o menino, com essa droga. Acorrentei porque não aguentava mais. Fiquei aliviada porque sabia que, dentro de casa, ele não iria sair para pegar o que é dos outros”. (JC Online, 2010). Na época mãe e filho foram orientados a procurar ajuda no CPTRA, mas na verdade, devido a grande ameaça sofrida e o uso abusivo, Neyvison, precisava ser acolhido em um local protegido.
Na época, por causa da polemica de sua situação, uma equipe do Programa Vida Nova, coordenado pela Secretaria Executiva de Assistência Social do Estado, foi até a residência da família, oferecendo “tratamento”. Segundo o JC Online: após ter fugido de uma clínica de reabilitação, Neyvson Durval da Silva, 20 anos, foi encontrado morto na madrugada do domingo, quando se comemora o Dia das Mães. "Eu tinha certeza que a notícia da morte do meu filho iria chegar à minha porta", lamentou, bastante abalada, a faxineira Tânia Maria da Silva, 46. O jovem teria sido executado por três homens que invadiram sua residência e o alvejaram com dezenas de tiros. E assim, mais uma vitima da criminalidade decorrente do uso abusivo de crack virava estatística em nosso estado.
Foi em meio a este contexto trágico e a acontecimentos semelhantes no Recife e região metropolitana que foi pensado e criado o Programa Atitude, que além de dá o devido suporte em termos de acolhimento e proteção a dependentes de drogas, em especial os de crack, também tem como objetivo se trabalhar e fortalecer a família do usuário.
De acordo com o Decreto Nº 39.201, De 18 De Março De 2013 as diretrizes do Programa seriam estas:
I - priorização dos universos populacionais de maior vulnerabilidade, risco pessoal e/ou social associados à violência e à criminalidade decorrentes do uso de drogas;
II - promoção da autonomia do cidadão, da convivência familiar e comunitária, bem como de seu direito de acesso a serviços públicos de qualidade;
III - centralidade na família, compreendendo os diversos arranjos familiares;
IV - respeito à dignidade humana e garantia de atendimento sem preconceito ou discriminação de qualquer natureza; e
V - promoção dos fatores de proteção social e de redução de riscos indutores de violência.
Art. 4º São objetivos do PROGRAMA ATITUDE:
I - desenvolver condições para a independência, o autocuidado e o resgate dos vínculos familiares e sociais por parte dos usuários do Programa, bem como contribuir com o exercício da cidadania;
II - garantir a construção do Plano Individual/Familiar de Atendimento aos usuários e seus familiares, de acordo com as realidades locais e suporte da rede pública de serviços;
III - desenvolver metodologia e articular parcerias que viabilizem a inserção social e produtiva dos usuários do Programa;
IV - contribuir com a prevenção e a redução dos índices de violência e criminalidade; e
V - sistematizar as informações, por meio da vigilância social referente aos dados qualitativos e quantitativos de atendimento aos usuários vinculados ao Programa.
O Atitude atende pessoas de ambos os sexos com idade a partir de 18 anos, ofertando atividades de apoio psicológico, social, fortalecimento de vínculos afetivos, grupo com a família, oficinas de esporte, arte, cultura, com foco na sua recuperação e reinserção social.
O Programa que faz parte do eixo de prevenção ao uso de drogas do Pacto Pela Vida considerado a principal ferramenta do poder público estadual no enfrentamento/atendimento a problemática dos usuários que frequentam o programa e seus agravantes. Atualmente, o serviço beneficia usuários de crack e outras drogas nas cidades de Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana, Caruaru, no Agreste, e Floresta, no Sertão do Estado.
Graças ao trabalho realizado por uma equipe multiprofissional (Assistentes Sociais, Psicólogos, Pedagogos e Educadores Sociais) e a integração com outras políticas públicas, o Atitude conquistou, no primeiro ano de atividade, muitos resultados positivos. De acordo com o site do SEDSDH, o Atitude atende um público, prioritariamente, dependente de crack – cerca de 98% já usaram a droga – o serviço se tornou referência para o país.
Em 2011, a SEDSDH investiu mais de R$ 5 milhões em ações de enfrentamento às drogas. Em 2012, a secretaria triplicou o valor dos recursos que foram investidos no ano anterior, superando R$ 15 milhões. Para 2013, o serviço irá atuar em outras cidades pernambucanas. A proposta é que as ações sejam ampliadas, possibilitando, inclusive, a interface permanente com outras políticas públicas, como a saúde, educação, e o esporte. O Programa Atitude é dividido em quatro eixos. Seriam eles:
• Atitude nas Ruas:
Objetiva a intervenção psicossocial e socioassistencial junto aos usuários de drogas, em especial àqueles em situação risco, de forma itinerante em espaços não convencionais (praças, escolas, bares, ruas e comunidades). Para tanto é utilizado um automóvel com o logotipo do Programa onde uma equipe composta por assistentes sociais, psicólogos, e educadores (redutores de danos) realizam o atendimento nas principais comunidades da região e também nas cenas de uso, onde um trabalho de sensibilização e informação é feito. Neste momento além da oferta de insumos como água mineral, preservativos, dentre outros, é realizado uma breve escuta aos usuários que solicitam e diante da demanda, pode ser feita o encaminhamento dos mesmo para o Centro de Acolhimento e Apoio. Cada unidade móvel acompanhará 50 pessoas.
• Centro de Acolhimento e Apoio:
Consiste na categoria de casa de passagem, com funcionamento 24h, sendo um espaço de acolhimento a usuários de drogas e os seus familiares. A capacidade é de 30 atendimentos durante o dia e 10 no período da noite. Neste espaço, dependendo da demanda do usuário, alguns encaminhamentos iniciais serão dados, tais quais: cuidados com a saúde através de encaminhamentos para as redes do Sistema Único de Saúde - SUS e do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, conforme o caso. São, realizados contatos com familiares distantes, cuidados com a higiene, alimentação, repouso, dentre outros. Com acolhimento por curto prazo, visando à redução de riscos e de danos em relação ao uso abusivo ou dependência de drogas.
Neste espaço há a possibilidade de encaminhamento para o Centro de Acolhimento Intensivo desde que o usuário tenha o perfil e o interesse de ser acolhido. Com relação ao perfil, seriam estas as condições: pessoa em uso abusivo de drogas; em situação de rua, risco e vulnerabilidade social e diante da droga; pessoa com ameaça de morte e com vínculos familiares e comunitários rompidos. Vale ressaltar, que mesmo tendo o perfil mencionado, se o usuário não despertar o interesse, não será obrigado a ser acolhido, pois, o Programa trabalha em cima da livre escolha. Nos casos mais graves, onde há uma resistência com relação ao acolhimento, é realizado todo um trabalho de sensibilização com a finalidade de fazer o dependente compreender a importância e a proposta do Programa para sua vida.
• Atitude Acolhimento Intensivo:
É um espaço de proteção integral intensivo 24h para usuários de drogas com vínculos familiares e comunitários rompidos, cujo tempo de estadia varia de 1 (um) a 6 (seis) meses de acordo com o perfil do usuário e da avaliação da equipe técnica. A unidade possui capacidade de atender 30 pessoas, que ficarão acolhidas durante sua permanência no Serviço. Porem, durante este tempo, cada usuário terá o direito a saídas terapêuticas - cujo objetivo é o fortalecimento dos vínculos familiares, principalmente e as saídas burocráticas – que visam à retirada de documentos, entrega de currículos, participação em cursos, oficinas, entre outras.
As propostas do Programa alem da proteção e acolhimento, inicialmente, está pautada na reinserção social e laboral, já que se acredita que os usuários lá atendidos são cidadãos e como tais, precisam se reconhecer e atuar de forma que usando do seu protagonismo venham a ter acesso a seus direitos e deveres de maneira autônoma e consciente.
No Centro Intensivo, assim com no Apoio, todas as atividades realizadas tem como objetivo a reflexão dos usuários e a proposta de mudança e reorganização pessoal a fim de que seja possível uma transformação mesmo que pequena na vida destas pessoas.
São realizados grupos terapêuticos / sócio-informativos e oficinas das mais variadas temáticas que vão desde percussão, capoeira, atividade física, artesanato, etc.
Alem dos frequentes grupos e oficinas ocorrem com frequência o atendimento individual entre os usuários e seus técnicos de referencia, os T.Rs. Onde são discutidos as demandas trazidas pelos usuários, e diante destas é construído o seu Plano Individual de Atendimento - PIA, o qual deverá ser posto em pratica ainda no inicio do acolhimento e que estará sujeito a algumas alterações no decorrer do período de permanência a depender de novas demandas trazidas.
Dentro do PIA, sempre que possível procura-se trabalhar juntamente com a família do dependente, ou pelo menos, há uma tentativa de aproximação, inicialmente através de contato telefônico e ou, quando possível, visitas domiciliares. Porem, trataremos mais sobre esse tema mais adiante.
Devido a grande complexidade da demanda posta pelo publico atendido se faz necessário à realização de articulações com a rede socioassistencial do município e região metropolitana a fim de responder de maneira satisfatória as necessidades dos usuários. Para tanto, o Programa conta com o suporte da Secretaria de Saúde, através dos CAPs ad, dos albergues terapêuticos, das Unidades de desintoxicação e do atendimento de urgência do Hospital Ulisses Pernambuco. Da mesma forma, é possível contar com a parceria dos Centros de Referencia da Assistência Social – CRAS, dos Centros de Referencia Especializados da Assistência Social – CREAS, do Centro Pop, Iasc dentre outros que trabalha com o publico em situação de risco e vulnerabilidade social.
Tendo a compreensão de que a passagem do usuário pelo Programa seria o inicio do cuidado a ser realizado para o mesmo, durante sua permanência, e de acordo com a evolução dele, há uma inserção no CAPS ad a fim de que, no termino do período de acolhida no Programa, a pessoa possa dá continuidade ao trabalho iniciado no referido CAPS. Uma vez que a dependência não tem cura e o dependente precisará de cuidados e da criação de estratégias de proteção a fim de evitar possíveis lapsos e recaídas. Podendo desta forma, levar uma vida normal com as responsabilidades necessárias e estruturantes para qualquer pessoa que tenha problemas com spas.
• Aluguel Social:
Dispositivo cuja proposta é disponibilizar moradia alugada ou acolhimento em repúblicas para os usuários, após o período de acolhimento no Centro Intensivo e quando não há condições do usuário permanecer em casa de familiares ou não se encontra em condições financeiras para suprir o próprio sustento, correndo assim o risco de retornar a morar na rua. Assim como no Intensivo, o permanência máxima na casa é de 6 meses, onde se espera que durante este tempo o usuário consiga se reorganizar através de um trabalho, com o qual poderá futuramente se manter.
Durante a permanência neste dispositivo, o dependente recebe suporte da equipe do Aluguel Social que irá acompanhar semanalmente através de visitas domiciliares, onde serão realizados escutas e encaminhamentos das possíveis demandas que poderão surgir ao longo de tempo.
Mesmo inserido no dispositivo mencionado, o usuário terá autorização para frequentar grupos e ou passar algumas horas no Intensivo, desde que previamente acordado entre a técnica responsável pelo Aluguel e os demais membros da equipe do Centro referido. Uma vez que, acredita-se ser terapêutico este contato, já que durante os meses de acolhimento no Intensivo, vínculos são criados e estes por sua vez, fortalecem o usuário. Estando no Serviço o usuário poderá ser atendido por seu antigo T.R ou qualquer outro funcionário do espaço. Assim como também em casos de lapsos ou recaídas, por medida protetiva, ele poderá permanecer durante certo tempo no Intensivo ate se reorganizar minimente e repensar algumas estratégias de proteção para si.
3.1 – Atendimento às famílias.
Não há possibilidade de sucesso se ao trabalhar a dependência química não se ter um olhar todo especial à família. É ela parte fundamental no processo de cuidado/tratamento do usuário. Mesmo que esta família não seja a biológica, mas a presença de pessoas que se importam e cuidam do dependente é fundamental a fim de fortalecer o individuo na sua batalha contra a dependência. O fortalecimento dos vínculos afetivos é tido como uma das principais diretrizes do Programa, e a equipe multiprofissional do serviço têm como objetivo, pelo menos, tentar uma reaproximação. E principalmente, ouvir essa família, saber dela como vem sendo os anos de lutas, saber sobre as perdas, as consequências, e tudo o que poder ser interessante para que um bom trabalho seja desenvolvido. Sendo assim os atendimentos têm como o objetivo de acolher, sensibilizar e, melhorar as relações do grupo familiar.
Alem disso não podemos esquecer a Política Nacional de Assistência Social, que de acordo Potyara (2004. p. 29), atualmente há o reconhecimento da centralidade do trabalho com famílias nas políticas públicas e assim como também nos programas e projetos da iniciativa privada, por meio das organizações do terceiro setor (Ongs). No campo específico da Política de Assistência Social, desde a promulgação da LOAS, está em andamento um processo de implementação da assistência social como direito, rompendo com o legado do assistencialismo. Neste contexto, é preciso lançar luz sobre o modo como a família vem desempenhando esse novo papel que lhe está sendo atribuído. Primeiramente precisamos entender que a instituição familiar, sempre se fez presente nos arranjos de proteção social no país. Com a participação, inicialmente feminina, como principal membro de apoio aos dependentes químicos.
Diante do exposto se faz mister a realização de um trabalho com e para a família. Haja vista que a mesma adoece junto com seu membro e muitas vezes, ate contribui para o adoecimento do mesmo pelo simples fato de não ter informação e consequentemente, não saber como agir diante da situação.
Segundo OLIVEIRA, et al, 2010:
As famílias começam a se constituir como ator político, mas direcionando suas questões principalmente para a cidadania de seu familiar em sofrimento psíquico e menos para si mesma. (...) Ela é vista como uma aliada no cuidado ao seu familiar, entretanto é necessário que os profissionais de saúde e os serviços ofereçam a essas famílias condições para que possam manter seu familiar desinstituicionalizado com propostas de cuidados adequadas à família.
É comum em alguns serviços de atendimentos a dependentes químicos ou a pessoas portadoras de sofrimentos mentais, a família querer que seu ente permaneça por tempo indeterminado, como se a partir deste momento, ela se eximisse da responsabilidade cuidar daquela pessoa e tal responsabilidade passasse a ser única e exclusivamente da instituição onde o familiar será atendido.
Por esta questão e por outras é preciso à realização de um trabalho informativo e acolhedor para que a família venha a se implicar durante o processo e para que possa ter os devidos cuidados.
Como refere Aragão et al. (2009), a evolução positiva de um tratamento para dependentes químicos está relacionada com a participação adequada dos familiares, pois a família é um sistema onde cada membro está interligado de forma que a mudança em uma das partes provoca repercussões nos demais. Logo, “o indivíduo deve ser compreendido não só no contexto da sua individualidade, mas também familiar” (2009).
Diante dessa demanda, a equipe do Centro Intensivo Recife procurar das mais variadas formas acessar a família de cada um dos acolhidos. São feitos, inicialmente, contatos telefônicos a fim de informar sobre o paradeiro e estado dos usuários no Programa, em seguida, é passado os dias e horários de visitas, que acontecem nos sábados e domingos das 9h00 às 12h00 e, além disso, é feito um convite para a participação no Grupo Família, que ocorre todas às terças-feiras das 15h00 às 16h30, momento onde os familiares podem falar a respeito de sua convivência com seus entes e a relação deles com a dependência. Contudo, abordaremos mais no tópico seguinte.
Como uma estratégia de reaproximação e trabalho também se lança mão dos atendimentos familiares, onde tanto pode ocorrer no próprio Centro, como na residência do usuário através da visita domiciliar. Acredita-se que esse trabalho é fundamental para se compreender melhor a situação do usuário, já que se acredita que a questão no se resume apenas no uso abusivo das drogas, mas sim da sua realidade de vida como um todo, onde há o entendimento do individuo como ser biopsicossocial. Da forma como ele se relaciona com as pessoas mais próximas. Os amigos, os vizinho, e principalmente, os familiares.
Para Matos at al:
É importante conhecer a realidade do dependente químico e de seu modo de adoecer, buscando as causas que o levaram ao uso e a possíveis recaídas. Estas, muitas vezes, podem ser provocadas pela inabilidade da família em lidar com o comportamento de seu familiar dependente, necessitando também de acolhimento e acompanhamento.
Neste momento particular, onde o ente do usuário é atendido é possível trocar informações e saber um pouco melhor sobre o inicio do uso. Já que apenas com os atendimentos feitos aos usuários a historia é contada e refletida somente por um lado. Com o relato da família se pode descobrir formas mais eficientes de acessar o individuo a trazer a tona situações as quais ele não trouxe por questões mais particulares, mas se acessadas de forma tranquila há uma grande possibilidade de trabalhar tal demanda.
Realizando uma analise dos prontuários dos usuários já atendidos pelo Centro Intensivo Recife, e lançando um olhar especial aos atendimentos feitos as famílias se pode perceber que sentimentos como mágoa, insegurança, incredulidade, culpa, descrença são muitos presentes nas falas dos pais, mães, esposas, maridos..., etc.
O que também fica claro é que pelo fato de não conhecer como funciona a dinâmica da droga tanto no organismo como na mente da pessoa, os familiares, muitas vezes, dificultam a relação e põe seu ente em situação de risco e vulnerabilidade. Conforme Olazábal et al (1997), o principal problema enfrentado é a ausência de conhecimentos tanto no tratamento como na prevenção do usuário de drogas. A família necessita de aprendizagem para enfrentar adequadamente os problemas. A contribuição dos familiares na reabilitação pode dificultar ou facilitar a abstinência.
Um exemplo disso acontece durante as saída terapêuticas, que são saídas programadas entre o usuário, o técnico de referencia e a família. Esta saída ocorre geralmente durante o dia onde o usuário e a família poderão passar horas juntos a fim de fortalecer o vinculo e vivenciar momentos que há muito não tinha. Sempre se pensa em momentos de lazer, diversão, afinidade, enfim. Porem, em muitos casos, nesta saída é feito de forma diria “ingênua” o uso de álcool, que para grande parte da população, não é visto como uma droga. Mas que para os dependentes químicos, principalmente, os que estão em abstinência, pode vir a tornar-se um gatilho para o uso de sua droga de preferência. Quando tal situação acontece, a família se sente perdida e mais uma vez, enganada. Já que não esperava que esta situação viesse acontecer. Daí vem o trabalho de esclarecimento, acolhimento e informação.
É nesta situação que se faz a reflexão acerca de situações de risco e tudo que não apenas o dependente precisa fazer para se proteger, mas as pessoas que o cercam também.
Esta não é uma tarefa fácil de ser realizada, haja vista que há núcleos familiares onde o consumo de drogas lícitas é comum e cultural. Onde, alem disso não se percebe mais o interesse em ajudar o ente por não acreditar em recuperação ou qualquer coisa do gênero. Entretanto, se por um lado encontram-se dificuldades em se trabalhar com famílias descrentes, há o entrave com aquelas que acreditam na cura total, que pensa que com um acolhimento de cinco, seis meses de duração anos de dependência ou uso abusivo será finalidade como num passe de mágica.
O que se percebe é que o adoecimento é de todos os envolvidos. Com o passar do tempo, com os acontecimentos e prejuízos trazidos pelo uso abusivo surge o fenômeno da co-dependencia. Para Beattie (2001), a família encontra se em situação de co-dependência necessitando identificar características dessa situação buscando sua própria recuperação ou seu processo de cura. O co-dependente realmente é incapaz de se proteger ou resolver seus problemas. Daí a necessidade de se acolher, ouvir e orientar estas pessoas que sofrem tanto quanto seu ente, apesar de não fazer uso das drogas, mas divide com o usuário todos os prejuízos por este contraídos.
Durantes os atendimentos e escutas se procurar refletir que nos contextos individuais várias pessoas estabelecem com o álcool e outras drogas uma relação afetiva de prazer tão intensa que não conseguem ficar livres da síndrome de dependência. A necessidade psicológica e física é evidenciada por um forte desejo ou fissura que não os mantêm fora da abstinência. Como resultado da ingestão de bebidas e uso de drogas os usuários-problemas começam a desenvolver em casa no trabalho como também em atividades recreativas colocando-os em situações de risco, internas e externas que podem levar o indivíduo a recair no uso.
A própria fissura é uma grande inimiga das relações já fragilizadas. As mentiras contadas pelos usuários a fim de conseguirem dinheiro ou simplesmente com o objetivo de se ausentarem de casa com o intuito de se fazer uso da droga causa vários danos à relação. Quando se procurar explicar o funcionamento dessa vontade, que para que está em abstinência é, em muitos casos, quase que incontrolável, é visível que os familiares, inicialmente, parecem não compreender ou acreditar. Mas na medida em que os atendimentos são realizados e as informações assimiladas, surgem o entendimento da situação.
3. 2 – O Grupo Família
O grupo Família é um grupo aberto cuja composição é variável, isto é, não é composto pelas mesmas pessoas. Objetivo deste grupo é possibilitar a aproximação e o fortalecimento dos laços fragilizados e/ou rompidos devido o uso excessivo de drogas. Assim como também, promover a reflexão acerca da importância do Intensivo Recife tanto para os usuários quanto para seus familiares. Igualmente, esse momento, para Pichon-Rivière (1986), durante os grupos os sujeitos têm a oportunidade favorecida de elaborarem outro papel social e que deixem esse papel de vítima (impotente) e despertam suas potencialidades e suas possibilidades de realização.
Segundo o mesmo autor, para que isso seja possível, requer atividades que permitam a pessoa se sentir acolhida de modo que possam colocar suas opiniões, suas ideias, enfim sua visão de mundo. No processo de formação do grupo seus membros deixam de ser anônimos, e todos passam saber quem são as pessoas que ali estão seus nomes, suas ideias, havendo, portanto, o reconhecimento mútuo dos participantes.
Em equipe há um planejamento referente aos temas que tanto podem ser sugeridos pelos usuários e seus familiares, como também serão escolhidos de acordo com a dinâmica do Serviço. Geralmente, devido a grande rotatividade de usuários no espaço a são discutidos temas sobre de álcool e outras drogas, convivência familiar, respeito e mudança de comportamento, dentre outros.
Já com relação aos participantes, estão convidados os 33 usuários do Centro, seus familiares e 02 facilitadores.
Para a realização deste grupo, os técnicos lançam mão de textos (musicas crônicas, poesias e mensagens); assim como vídeos educativos; e dinâmicas de grupo.
A Metodologia usada geralmente é a mesma, onde todos participantes permanecem em circulo, para que todos possam se ver e um acordo prévio com relação ao respeito às falas é realizado a fim de que a organização se faça presente. Uma vez iniciado tema pré-escolhido começa a ser trabalhado. Em geral, é feito a leitura do conteúdo, ou um vídeo é assistido ou uma dinâmica realizada, logo após é aberto espaço para que todos possam usar a palavra com a finalidade de que seja aberta uma discussão sobre o tema, facilitando e intervindo quando necessário no decorrer do grupo.
Em linhas gerais ao se realizar uma analise deste grupo é possível chegar à conclusão da importância deste para as famílias ali atendidas, já que é possível aprender compreender como se dar o processo de adoecimento diante da problemática da droga, e fortalecendo os vínculos afetivos e tendo consciência da importância do envolvimento da família atuante neste momento de integração com o Programa Atitude que em conjunto com o sujeito formam a base do apoio e acolhimento do usuário de álcool e outras drogas.
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