Análise Fenomenológica - O Quarto de Jack
Por: Viktor Fsm • 19/5/2020 • Trabalho acadêmico • 1.665 Palavras (7 Páginas) • 1.322 Visualizações
UNIVERSIDADE TIRADENTES
PSICOLOGIA
VICTOR FRANCISCO SILVA MOTA
ANÁLISE FENOMENOLÓGICA
O QUARTO DE JACK
ARACAJU-SE
2019
UNIVERSIDADE TIRADENTES
VICTOR FRANCISCO SILVA MOTA
ANÁLISE FENOMENOLÓGICA
O QUARTO DE JACK
Análise referente ao filme: O quarto de
Jack, apresentado como requisito de
avaliação da disciplina Matrizes do
pensamento psicológico IV, ministrada
pela profª. Ligia Maria Lorenzetti de
Sanctis Pires, no 2º semestre de 2019.
ARACAJU-SE
2019
ANALÍSE FENOMENOLÓGICA DO FILME “O QUARTO DE JACK”
O longa metragem apresenta uma premissa deveras perturbadora. Uma jovem chamada Joy, enganada e encarcerada em um galpão é abusada sexual e psicologicamente por um homem a quem deram o nome de Velho Nick. Desse abuso nasce uma criança chamada de Jack e é a partir da visão desse menino que a história se desenrola. O filme é dividido em duas partes, ou atos, o confinamento e a liberdade.
No primeiro momento nos é apresentado dois personagens com as suas respectivas visões da realidade em que estão inseridos. Joy obviamente enxerga aquele quarto como sua prisão, um cárcere que não consegue fugir. Por outro lado, Jack, em sua inocência, vê o Quarto como seu mundo circundante, o único ambiente com o qual ele pode interagir e criar experiências, ele só conhece aquilo como real e nada mais.
Já no segundo ato, a liberdade, mãe e filho encontram-se livres de seu confinamento e agora precisam aprender e reaprender a viver naquele vasto mundo. Jack percebe que o mundo era maior, muito maior, do que apenas aquele cúbico em que viviam e agora precisa tornar aquela vastidão em seu novo mundo circundante, um processo difícil e doloroso para o psicológico do garoto que não consegue entender bem o que realmente estava acontecendo.
Sem um conhecimento do mundo externo, Jack é criado por sua mãe nessa prisão que chama de Quarto, para preservar o garoto e não ter que explicar o real motivo de estarem naquele lugar a mãe o ensina que tudo que ele vê na televisão são coisas irreais. Assim, para Jack, tudo de real é aquilo que ele pode interagir dentro do quarto, os objetos, a mãe, os insetos e etc. O que existe além daquilo, o que ele vê na tv, são coisas que não existem na realidade, inalcançáveis.
Jack, como qualquer outro, é um ser-no-mundo, ele faz parte do ambiente e interage com ele pois somos inerentes ao mundo que nos rodeia. As sensações e percepções de Jack são essenciais para a captação de todos os estímulos que o rodeia. Corpo e mundo são quase mútuos, um influenciando o outro. O menino habituasse aquele ambiente, pois é o único que conhece, e o torna o seu local acolhedor. Diferente de Joy, que conhecendo a vastidão que está do outro lado da parede, está sempre revoltada com a situação em que se encontra.
Embora o Quarto seja pequeno, um cubículo de poucos metros quadrados, onde não há divisórias e, portanto, nenhuma privacidade entre os personagens, o filme retrata (pelo menos no primeiro ato) o ambiente de forma bem maior do que realmente é. Isso por que é preciso
deixar claro que estamos vendo tudo aquilo sob a perspectiva do menino. Sendo então aquele lugar o seu mundo circundante é natural que ele aparente ser bastante espaçoso para o garoto.
Jack não tem contato com outras pessoas além de sua mãe no quarto. Nem mesmo com o Velho Nick, de quem a mãe tenta de todas as maneiras mantê-lo longe do abusador, fazendo o próprio menino questionar sobre o quanto o Velho Nick é ou não real. Sendo assim, o “mundo” humano de Jack resume-se a Joy, é ela a única fonte de interação com outro de sua espécie que Jack possui. É também com a mãe que o mundo em que Jack habita é compartilhado, assim ambos se influenciam mutuamente, comunicando-se pela linguagem, gestos e atitudes. É próprio do ser humano existir em relação a algo ou alguém, então Jack existe em relação ao quarto assim como para com a mãe.
Enquanto ainda preso no Quarto, Jack tem os seus próprios pensamentos e percepção daquele lugar, que são completamente diferentes dos da mãe. São esses pensamentos que constituem o ser-si-mesmo, ou “mundo” próprio do menino. O Quarto tinha uma grande significação para Jack, e é essa importância que molda o seu eu próprio. Como sua visão de mundo está limitada aos pequenos objetos inanimados, como a pia, geladeira, fogão, televisão e etc, são eles que compõem suas percepções sensoriais. E é na televisão e livros onde ele obtém conhecimento sobre um mundo que até então ele acredita ser irreal.
O tempo no quarto era quase inexiste, os dias pareciam serem os mesmos e monótonos, com momentos muitas vezes iguais para ambos os personagens. O próprio Jack, que só conhecia aquilo, parecia se entediar com as repetições diárias. Sobrava muito tempo para poucas atividades, nem tudo era cronometrado, apenas o momento em que Jack deveria dormir para não estar presente nas visitas ocasionais do Velho Nick. O menino não tinha uma noção exata de tempo, como fica evidente na cena do seu bolo de aniversário de cinco anos. Ele se refere ao próximo aniversário como “semana que vem”, pois não sabe diferenciar bem a passagem de tempo. O Quarto quase parece um ambiente atemporal. Os minutos pareciam horas.
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