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Ação Cultural Na Terceira Idade

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Por:   •  21/3/2014  •  1.105 Palavras (5 Páginas)  •  253 Visualizações

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AÇÃO CULTURAL NA TERCEIRA IDADE: INTRODUÇÃO À SOCIAGOGIA DO (RE)ENVOLVIMENTO

Adilson Sanches Marques – Universidade Aberta da Terceira Idade/UATI

Este relato de experiência contextualiza um projeto de ação cultural realizado na cidade de São José do Rio Preto, no ano de 1997, com o grupo da Terceira Idade do SESC Rio Preto. O projeto teve por objetivo permitir ao grupo a manifestação do sentimento topofílico (afeição pelo local) em relação ao município, construído através das dores e sabores provenientes da experiência de vida.

Reservando parte do Tempo Livre proporcionado pela aposentadoria, o grupo reuniu-se durante 5 meses e, no final do período, montou uma exposição fotográfica contrastando imagens da cidade em 1927 e em 1997 que ficou a disposição do público durante 30 dias, nas dependências do SESC Rio Preto.

Este projeto se transformou entre os anos de 1999 e 2003 em uma Tese de doutorado, defendida junto à Faculdade de Educação da USP, em que, além da descrição do projeto, foi realizada uma interpretação mitográfica das imagens expostas, buscando, assim, a compreensão da dimensão arquetípica e simbólica que permeou o processo de criação, a seleção de imagens e a montagem final da exposição. A base teórica para a realização do trabalho e sua interpretação partiu da abordagem estética de Kant, passando pelos pensadores neo-kanteanos como E. Cassirer e M. Eliade, por “pós-modernos” como J. F. Lyotard e, também, por pensadores da Escola de Grenoble, sobretudo, G. Durand e M. Maffesoli.

Sobre a exposição montada pelos idosos, tivemos, de um lado, fotografias realizadas em 1927, publicadas no livro “Álbum Ilustrado da Comarca de Rio Preto e região” e, de outro, fotografias realizadas pelo fotógrafo rio-pretense Paulo Berton, em 1997.

O grupo de idoso foi formado por pessoas que iam ao SESC para preencher o "tempo livre" de uma forma criativa, lúdica e alegre. Mas uma coisa era patente no grupo: ninguém aceitava ser rejeitado, parcial ou totalmente. O grupo, apesar de heterogêneo do ponto de vista sócio-cultural, com pessoas que apenas haviam feito o primário e outros com curso superior, era muito coeso.

Confesso que, de certa forma, isso foi uma agradável surpresa para mim. Eu imaginava encontrar pessoas mórbidas, pessimistas, fragilizadas e que passariam boa parte do tempo narrando os acontecimentos trágicos de suas vidas. Possivelmente, o trabalho social que o SESC realiza com os idosos, estimulando viagens, interação social e cultural, realização de atividades esportivas e recreativas ajuda, e muito, a criar o perfil de idoso que encontrei em Rio Preto.

Nos meses em que trabalhei com o grupo, foi possível se aperceber das relações de poder e de decisão nas resoluções internas para a montagem da exposição. Notei que nunca houve a necessidade de se estabelecer um poder hierarquizado. As relações foram sempre horizontais e interpessoais e o prazer em conviver de uma forma criativa e interativa parecia ser mais importante do que as decisões que dali sairiam.

Em suma, poderia se dizer que tal processo de criação, colorido e sensual, em outras palavras, capaz de permitir uma ludicidade espontânea ou fática na qual a alegria, o prazer de compartilhar manifesta uma verdadeira e real sensação de estar vivo e de participar de um "grupo", conseguiu fazer com que todos os participantes aumentassem sua capacidade de vazão e criação de novos rios de idéias e sentimentos, os escoadouros do verdadeiro poder criativo e do imaginário.

Na tentativa de interpretar as imagens escolhidas pelo grupo para fazer parte da exposição (foram escolhidas 24 fotos entre as centenas publicadas no livro), acredito ter chegado à figura mítica de Hermes, uma vez que, este Deus, representa:

As trocas nas relações; a troca de conhecimento; a nossa capacidade de ouvir o que pensam os outros e, com eles, aprender um pouco mais etc. Em suma, Hermes simboliza o diálogo, o instrumento capaz de por fim aos desentendimentos e contrariedades. Hermes nos lembra que falar e escutar são uma arte e que a versatilidade e a capacidade de adaptação nos tornam mais leves e tolerantes. Com Hermes aprendemos a multiplicar nossos interesses, criando uma série de oportunidades na vida, encontrando pessoas, participando do que ocorre no mundo. Este Deus nos possibilita integrar a luz e a sombra. E dessa polaridade surgem imagens que surpreendem e encantam. Viver o mito de Hermes nos torna mais versáteis, polêmicos e inquietos. De certa forma, o convívio com o grupo ajudou-me na expansão do Hermes que se escondia dentro de mim, sobretudo, pelo caráter "irresponsável" do mesmo, mais interessado em jogar e brincar com a vida. Trabalhar com a Terceira Idade exige uma mentalidade não-cartesiana, não apolínea por parte do animador/agente cultural.

Particularmente, hoje compreendo que o grupo, ao fazer de cada encontro semanal uma vivência extremamente lúdica, afetiva e criativa, ajudou a dissolver a mente lúcida, efetiva e crítica deste que agora escreve.

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