História da Psicologia Moderna

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               O mecanicismo teve uma importante influencia no nascimento da Psicologia como ciência. Essa doutrina afirmava que os processos naturais são passíveis de explicação pelas leis da física e da química, e enxergava o universo como uma grande maquina. O mecanicismo foi fundamento filosófico do século XVII, e se originou na física com o resultado dos trabalhos de Galileu Galilei (1564-1642), e Isaac Newton (1642-1727).

De acordo com Galileu, a matéria se formava de átomos que afetavam uns aos outros diante do contato direto. Newton postulava que o movimento não resultava do contato físico direto, e sim de forças de atração e repulsão que atuavam sobre os átomos. O funcionamento desse universo físico era comparado com o relógio, ou seja, era organizado e preciso.

O relógio mecânico foi a sensação do século XVII, era acessíveis a todas as pessoas, independente das classes sociais, e por conta disso, as pessoas se tornaram dependentes dos relógios e passaram a ser governadas por eles. A pontualidade se tornou parte da vida cotidiana, a vida se tornou regularizada e mais organizada, e como resultado, cientistas e filósofos passaram a enxerga-los como modelos para o universo, e acreditavam que o próprio universo fosse um relógio imenso, fabricado pelo Criador. O físico Robert Boyle, o astrônomo Johannes Kepler e o filosofo René Descartes, aceitavam essa explicação da harmonia do universo pelo relógio.

Nesse período, os métodos e descobertas da ciência avançavam com a tecnologia. A observação e a experimentação tornaram-se os diferencias da ciência, seguidos pela medição. Os especialistas tentavam definir os fenômenos atribuindo-lhes valor numérico. Até mesmo o tempo, considerado impossível de ser reduzido em unidades menores, já era medido com precisão.

Essa comparação do universo com o relógio abrange a ideia do determinismo, doutrina que afirma que os atos são determinados pelos eventos do passado (No caso do funcionamento do universo, por Deus). Porém, era fácil perceber o funcionamento e estrutura do relógio, assim como desmonta-lo. Essa ideia levou os cientistas ao conceito do reducionismo, doutrina que afirmava que para compreender o mecanismo operacional das maquinas, bastava reduzi-las a seus componentes básicos. Desse modo para compreender o universo, bastava reduzir e analisar em partes mais simples (moléculas, átomos).

Assim o reducionismo levantava algumas questões sobre o ser humano, se ele não poderia ser observável e mensurado assim como o relógio e os métodos científicos, e se não poderia ser estudado através destes.

À medida com que a tecnologia era aprimorada, sofisticada, e desenvolvida para imitar as atitudes e os movimentos humanos, eram disponibilizadas para o entretenimento da população em geral.  Esses aparelhos eram chamados de autômatos, e tinham capacidade para realizar movimentos com precisão e regularidade. Descartes e outros filósofos adotaram os autômatos como modelos para os seres humanos. Dessa forma, os autômatos e os relógios abriam caminhos para a noção de que o comportamento humano obedecia às leis mecânicas e os métodos experimentais quantitativos. Assim, passaram a serem aplicados ao estudo da natureza humana. Os corpos eram comparados às maquinas, e consequentemente o mecanicismo também se aplicava ao funcionamento mental humano.

O resultado disso foi uma maquina desenvolvida por Charles Babbage (1791-1871) que supostamente era capaz de pensar, chamada Calculadora. Enquanto os autômatos imitavam os atos físicos humanos, a calculadora simulava as ações mentais. Além de tabular valor, á maquina era dotada de memoria para armazenar os resultados parciais usados anteriormente para completar o calculo. A calculadora de Babbage marcou o inicio do desenvolvimento dos modernos computadores, e representou um marco na tentativa de simular o comportamento humano, por demonstrar uma “Inteligência Artificial”.

No século XVII ocorreu uma evolução extremamente abrangente na ciência. Até então os filósofos buscavam as respostas do passado nos trabalhos de Aristóteles, na bíblia, e em outros pensadores. No século XVII, uma nova força passou a ganhar importância, o chamado empirismo, que consistia na busca do conhecimento pela observação e experimentação. Entre os estudiosos desse período, o que mais se destacou foi René Descartes, que contribuiu para á historia da psicologia moderna. Ele simbolizou a transição cientifica para a era moderna, e aplicou a noção do mecanicismo do relógio ao corpo humano.

Descarte nasceu na França, e frequentou uma escola jesuíta, onde estudou matemática e ciências humanas de 1604 a 1612, tinha também grande talento para filosofia, física e fisiologia. Porem, se dedicou ao estudo da matemática, e tinha profundo interesse em aplicar o conhecimento cientifico ás questões práticas. Descartes também antecipou o condicionamento em cachorros, 200 anos antes de Pavlov.

Certo dia acabou adormecendo e no seu sonho foi invadido pelo “espirito da verdade”, que o convenceu de dedicar o trabalho de sua vida, á aplicação dos princípios matemáticos e de toda a ciência, produzindo um conhecimento inquestionável. Duvidava de tudo, principalmente das doutrinas do passado, e passou a aceitar como verdade apenas aquilo que tivesse certeza absoluta.

O trabalho mais importante de Descartes para o desenvolvimento da psicologia moderna foi à tentativa de resolver o problema mente-corpo. Antes dele, a teoria predominante afirmava que a interação entre a mente e o corpo era unilateral, ou seja, a mente exercia grande influencia sobre o corpo, e o corpo exercia pouco efeito sobre a mente. Descartes aceitava essa posição, em sua visão, a mente e o corpo era composto de essências diferentes, mais ele se diferenciou ao dizer que a mente influencia o corpo, e é por ele influenciada, sendo assim a relação não era unilateral e sim mutua.

Depois dessa publicação de Descartes, os cientistas e filósofos passaram a atribuir maior importância ao corpo físico. A função atribuída à mente começou a ser considerada como função do corpo. Acreditava-se na mente como responsável não apenas pelo pensamento e pela razão, mais também pela reprodução, percepção e movimento. Descarte rebatia dizendo que a mente era responsável apenas pelo pensamento, e todos os demais processos eram funções do corpo.

Dessa forma, Descartes introduziu uma abordagem para a questão do problema mente- corpo, e concentrou á atenção na dualidade físico-psicológica, redirecionando a atenção dos pesquisadores, que passaram do conceito teológico abstrato da alma, para o estudo cientifico da mente e dos processos mentais. Passaram então a aceitar a mente e o corpo como duas entidades separadas.