Mal estar na civilização
Por: anabely ney • 2/6/2017 • Trabalho acadêmico • 2.798 Palavras (12 Páginas) • 440 Visualizações
CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO DE VITÓRIA
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
ANABELY NEY MARIANO
ANNA CAROLINA CHALABI DE VASCONCELLOS
O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO
VITÓRIA - ES
2016
ANABELY NEY MARIANO
ANNA CAROLINA CHALABI DE VASCONCELLOS
O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO
Trabalho Acadêmico apresentado a Prof. Darlene A. G. Tronquoy da Disciplina Teoria Psicanalitica II, do curso de Psicologia do Centro Universitário Católico de Vitória.
VITÓRIA - ES
2016
Freud começou a questionar os sentimentos provocados pela religiosidade a partir da discussão com um amigo dele. Sentimento oceânico que ele não entende e não consegue sentir. Sugere ser algo ilusório, porém, passível de estudo pela psicanálise.
Pode-se entender a partir da análise de Freud (1930, p. 2) sobre “[...] a ideia de os homens receberem uma indicação de sua vinculação com o mundo que os cerca por meio de um sentimento imediato [...]” que este sentimento ou essa ideia estão ligados a relação do Id e o Ego (Ego é uma parte do Id que se caracteriza pela relação com o mundo). A relação interna (eu) e externa (mundo) de sentimentos se constitui em um só quando o homem sente um amor muito grande ou forte, talvez isto poderia explicar este sentimento “oceânico”. Ou seja, a fronteira do Ego se faz permeável.
A partir desta reflexão, Freud vai contextualizar a construção do Ego, que passa por muitas modificações até a fase adulta. Ele vai falar sobre o limite de fronteiras, pois a criança ainda “não distingue o seu ego do mundo externo como fonte das sensações que fluem sobre ela” (FREUD, 1930, p. 2). É um aprendizado gradativo. Exemplo, o seio da mãe será para a criança o primeiro “objeto” fonte de desejo do Ego. Ou seja, uma força externa que provoca sensações internas através de uma ação especial, neste caso, o grito de “socorro” do bebê ao desejar o seio materno.
O ego também se constrói a partir das experiências de sofrimento e desprazer. Isto que o princípio do prazer vai tentar manter afastado, a tendência é manter longe do ego e tentar expulsá-lo para fora, para o externo. Voltamos a fronteira “permeável” em relação a sensações externas que Freud disse no começo. Mas não é fácil abandonar os objetos que proporcionam prazer, alguns sofrimentos estão ligados a origem interna do ego. Mas é assim q o humano pode aprender a diferenciar o que é interno (que permanece ao ego) e externo (do mundo). Assim se introduz o princípio da realidade. Essa diferença vai nos permitir defender contra sensações de desprazer que sentimos ou que somos ameaçados. O ego expulsa as excitações desagradáveis do interior e do exterior de forma distinta e neste ponto surgem distúrbios patológicos. Assim o ego se separa do mundo externo, melhor, inclui tudo, mas separa de si, tornando um vínculo mais íntimo entre ele e o mundo.
Daí podemos ligar as fronteiras destes dois limites (interno e externo) ao vínculo com o universo, aquilo dito no começo do texto sobre sentimento “oceânico”. Ao falar destas fronteiras e patologia, Freud vai mostrar um pouco do que é a mente. Ele a compara com a construção de uma cidade, Roma, que passado os anos, tornou-se apenas ruínas, diferente do inconsciente cujos elementos dos traços de memória estão intactos, nada se destrói no inconsciente.
Uma das hipóteses que Freud também fala sobre o sentimento oceânico seria sua origem:
[...] a partir do desamparo do bebê e do anseio pelo e do anseio pelo pai que aquela necessidade desperta, parece-me incontrovertível, desde que, em particular, o sentimento não seja simplesmente prolongado a partir dos dias da infância, mas permanentemente sustentado pelo medo do poder superior do Destino. Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a da proteção de um pai. Dessa maneira, o papel desempenhado pelo sentimento oceânico, que poderia buscar algo como a restauração do narcisismo ilimitado, é deslocado de um lugar em primeiro plano. A origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil (FREUD, 1930. p. 6).
É possível também fazer uma relação com o propósito da vida que é decidido pelo princípio do prazer que busca incessantemente a felicidade plena, satisfação e ausência de sofrimento, que, aliás, (a infelicidade) é mais difícil de ser experimentada, mas pode acontecer de três formas:
[...] de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e ansiedade como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a encará-lo como uma espécie de acréscimo gratuito, embora ele não possa ser menos fatidicamente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes (FREUD, 1930. p. 8).
Devido a estas formas de desprazer e sofrimento, a influência do mundo externo se transforma no princípio da realidade, agora o homem se preocupa mais em não sofrer ou experimentar o desprazer, do que com a busca da felicidade, que fica em segundo plano. Hoje vemos muito isso, inclusive, nosso intenso vínculo com a tecnologia é uma das formas de aliviar o desprazer, mas Freud vai dizer que mesmo a tecnologia tem limite. Ao mesmo tempo em que ela aproxima as pessoas, ela as distancia, ou seja, ela cria uma distancia e depois tenta supri-la de alguma forma que possa ser minimamente satisfatória momentaneamente. Portanto, a tecnologia poder nenhum tem de amenizar ou sanar sofrimentos, eliminar o mal estar, com isso ele nos diz que a satisfação plena é impossível de ser alcançada, e isso é do ser humano, faz parte até mesmo do nosso desejo, jamais nos contentaremos com o que temos ou que conseguimos conquistar, o ser humano está sempre buscando objetos – seja ele de qualquer natureza – para suprir seus desejos, satisfações, necessidades, por que todos eles terão limite. A ligação com as drogas trata-se também de mais uma saída (fracassada) do homem de fugir do desprazer, de alcançar a felicidade plena, usam as substancias com esta finalidade.
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