O Mundo de Laurinha
Por: julianysiqueira • 15/5/2023 • Monografia • 2.595 Palavras (11 Páginas) • 78 Visualizações
O MUNDO DE LAURINHA
Juliany Siqueira Silva
921203751
LAURINHA: PRÉ OPERATÓRIO
IRMÃO DE LAURINHA: OPERATÓRIO
Logo que acordei, percebi que alguma coisa estava errada. Para começar, o meu coração estava de novo fora do lugar. Desta vez, ele estava batendo dentro da minha cabeça, bem pertinho da orelha. Deitada no travesseiro, eu podia escutá-lo, cada vez mais forte.
Meu coração tem mesmo essa mania de ficar andando pelo meu corpo. Às vezes cai até bater lá na barriga da minha perna. Será que isso é normal? Bem, normal ou não, tratei logo de me levantar.
Mal pus o pé pra fora da cama, o diabo do tapete escorregou e me derrubou com tudo, no chão. Foi um tombo feio e eu até ralei o joelho! Mas a mamãe, que estava por perto, tratou logo de dar uma boas vassouradas no tapete, pra ele aprender a não fazer mais isso com ninguém.
Análise: A junção destes 3 parágrafos apresenta na Laurinha a característica de animismo, quando ela cita falas como: “Meu coração estava batendo dentro da minha cabeça”, e “O tapete escorregou e me derrubou com tudo”, percebemos que ela da vida aos objetos e cria fantasias. Nessa fase os objetos possuem ânimo e intenções. Essa lógica pode ser construída pode se configurar de acordo com a utilidade do objeto ou ser, por exemplo, o coração que possui a função de bombear o sangue, e o tapete que pode ter como função de secar os pés, ou seja, a vida dada pode se derrocar da função de algo feito pelo órgão e objeto, o que pode significar para as crianças que “claramente” eles possuem vida como os seres humanos, visto que executam funções, tanto quanto eles.
Depois de ganhar um colinho, fui até a cozinha tomar meu café. Mamãe havia preparado um belo suco de laranja, que dividiu bem certinho, em dois copos iguais: um para mim e outro para o meu irmão. Mas, quando mamãe pegou o copo para me entregar, disse que ele estava todo melado e resolveu trocar por outro.
Foi aí que o problema aconteceu. Porque ao invés de usar um outro copo igual ao do meu irmão, ela passou o meu suco para um copo muito mais gorducho do que o dele. Resultado: na mesma hora eu vi, que fiquei com menos suco.
Ah! Não tive dúvida! Pus a boca no mundo! Será que só porque eu tenho quatro anos e ele tem nove, pensam que podem me enganar? O que é justo, é justo, e eu não sosseguei enquanto mamãe não devolveu o meu suco para o copo onde estava.
Agora sim, tínhamos o mesmo tanto. Só não entendi porque a mamãe continuava insistindo em dizer que antes estava igual. Deve estar precisando de óculos!
Terminamos o suco, fui até a janela do meu quarto. Fazia sol, que era para podermos ir ao clube depois do almoço. Claro que se a praia fosse mais perto eu preferiria ir até lá. Mas papai sempre diz que a praia é muito longe: atrás daquelas montanhas que vejo na janela. Se ao menos não tivessem construído as montanhas bem no meio do caminho, quem sabe não daria para eu ver a praia daqui do meu quarto? Para falar a verdade eu sempre gostei de ficar olhando o mundo através da minha janela.
Análise: Nessa etapa em que Laurinha está conflito com a quantidade de suco, é possível observar que ela está iniciando o senso de justiça, já que logo se manifestou ao identificar uma possível inconsistência na quantidade, e a fazer comparações de quantidades, formas e tamanhos, mas nessa idade as crianças não proporcionalizam a quantidade com base na lógica matemática, elas ainda não conseguem entender o conceito de conservação do conteúdo, guiam-se pela aparência, ignorando os outros aspectos relevantes destes problemas. É o início da fase da justiça objetiva, um baseamento da sua percepção, e não lógico.
Quando a Laurinha começa a falar sobre as montanhas no caminho, também é possível identificar que não tem noção da lógica de tempo e espaço, acreditando que as montanhas foram construídas.
Tanta coisa interessante para se ver! Do outro lado da rua, por exemplo, tem uma pracinha, que nesta época do ano, fica toda florida. E tem flores de todas as cores e de todos os tamanhos. Flores grandes, para as borboletas grandes e flores pequenas, para as borboletas pequenas. Flores amarelas, para quem gosta de amarelo e flores vermelhas para quem prefere o vermelho. Tudo como deve ser.
Análise: Laurinha está apresentando o egocentrismo, o que leva a acreditar que seu pensamento é o reflexo do mundo. Tudo acontece com relação a ela ou a algo, ela conclui que as flores pequenas existem para servir borboletas pequenas e flores grandes para servir borboletas grandes.
Deixando as flores de lado, voltei até a cozinha para falar com mamãe e a encontrei de gatinhas no chão, quase embaixo da mesa.
- O que você ta fazendo aí, mãe? – perguntei.
- Perdi meu brinco e.... Ah! Aqui está! O que você quer Laurinha?
– Não sei... Não tem nada pra eu fazer...
- Então, faça um favor para mim: vá contar quantas batatas temos.
Fui contar as batatas, o que não foi nada fácil, porque elas ficavam se misturando o tempo todo. Só consegui contar mesmo, depois de tirá-las da cesta onde estavam e fazer uma fileira com elas no chão.
- Pronto mãe! Já contei: temos cinco batatas. E agora o que faço? - Bem... traga duas para mim.
- Desta vez foi fácil! Peguei as duas batatas e entreguei para mamãe, que então me perguntou:
- Quantas batatas sobraram na cesta? Voltei até lá e contei novamente.
- Ficaram só três batatas, mãe! - Então é melhor devolver estas duas no lugar. - Pronto, e agora?
- Quantas batatas ficaram na cesta?
- Ah! Mãe, eu vou ter que contar tudo de novo, porque elas tornaram a se misturar... Mamãe sorriu e disse:
- está bem, então veja as frutas que temos na geladeira.
Fui conferir: - Temos laranjas e maçãs. - Mais laranjas ou mais maçãs? – perguntou mamãe.
- Mais laranjas. Tem um montão de laranjas e só um pouquinho de maçãs – respondi.
- E tem mais laranjas ou tem mais frutas, aí na geladeira?
– Mais laranjas – tornei a responder, apesar de achar a pergunta um tanto esquisita. E acrescentei
– Por que você ta rindo, mãe? –
Nada não, Laurinha. Agora me deixe aqui, terminando o meu almoço sossegada e vá ver o que o seu irmão está fazendo.
Análise: A Laurinha nesta fase conhece o cálculo, mas não segue a lógica, é possível identificar duas frutas e classifica-las, porém ela esboçou que qualquer mudança no “layout” das frutas, ela tivesse que contar novamente. Segue a mesma lógica do suco, ela não conseguiu identificar a conservação dos números.
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