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O Que Faz De Você, Você.

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Por:   •  16/4/2014  •  Seminário  •  3.934 Palavras (16 Páginas)  •  141 Visualizações

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O que faz de você, você?

Engraçado, tímido, agressivo, egoísta, inteligente. Um caldeirão de influências forma a sua personalidade. Descubra o que faz com que você seja do jeito que é - e veja o que ainda consegue mudar

por Texto Mariana Sgarioni e Leandro Narloch

As irmãs iranianas Laleh e Ladan Bijani tinham exatamente os mesmos genes e viveram juntas todas as experiências da vida. Nascidas gêmeas idênticas e siamesas, ligadas pela cabeça, permaneceram 29 anos grudadas. Morreram em 2003, na cirurgia que as separou. Mesmo sabendo dos riscos da operação, elas toparam o desafio só pela oportunidade de viver separadas. “Somos dois indivíduos completamente distintos que estão grudados um no outro”, disse Ladan em uma entrevista antes da cirurgia. “Temos visões de mundo diferentes, estilos de vida diferentes e pensamos de modo muito diferente sobre os assuntos.” Laleh queria se mudar para Teerã e se tornar jornalista, enquanto Ladan planejava ficar em sua cidade natal e praticar advocacia. Uma era mais graciosa; a outra, mais fechada.

A individualidade humana é um mistério: somos todos diferentes uns dos outros, e isso acontece até mesmo com gêmeas idênticas como Laleh e Ladan, que carregam o mesmo DNA e foram educadas do mesmo jeito. A ciência moderna tenta há séculos explicar a intrincada malha que forma o nosso comportamento. Nessa corrida, há filósofos, psicólogos, neurocientistas, geneticistas e até literatos. No livro Notas do Subterrâneo, o escritor russo Fedor Dostoiévski zomba de quem acredita que “a ciência explicará ao homem que ele nunca teve vontade, nem caprichos e que não passa, em suma, de uma tecla de piano, de um pedal de órgão”.

Dostoiévski mostra que o nosso jeito de ser não é só uma questão de curiosidade pessoal. O que cientistas ou escritores estudam sobre a origem da personalidade geralmente cria novos modos de ver o mundo, códigos morais e sistemas políticos. No século 17, o filósofo inglês John Locke formulou a metáfora da tabula rasa, segundo a qual somos uma espécie de folha em branco que é preenchida no decorrer da vida. O princípio de Locke foi essencial para a criação de pilares da política moderna, como a Declaração dos Direitos Universais do Homem, de 1776, ou o socialismo. Afinal, se todos os homens nascem iguais, então merecem os mesmos direitos e oportunidades. No século 20, o líder comunista chinês Mao Tsé-tung, na tentativa de reformar radicalmente o homem chinês, cita a tábula rasa no seu Livro Vermelho, falando de folhas em que “as personalidades mais novas e mais bonitas podem ser escritas”. Já a idéia oposta à tabula rasa, de que pessoas e etnias nascem mais dotadas que outras, fundamentou projetos de engenharia social e genocídios como o Holocausto judeu.

Nas últimas décadas, o debate ganhou o nome de nature x nurture: no primeiro time, está quem coloca na natureza a raiz da nossa personalidade; no segundo, quem acha que o ambiente é o grande definidor. Hoje, essa polêmica deu lugar a uma cooperação, com os dois lados trabalhando juntos para desvendar a individualidade. Dessa união, estão saindo muitas das respostas novas e mais precisas das principais questões sobre o comportamento humano.

A genética determina o comportamento?

Não. O nosso DNA possibilita e favorece determinados tipos de comportamento, mas não determina nada. “Os genes não restringem a liberdade humana – eles a possibilitam”, diz Matt Ridley, autor do livro O Que Nos Faz Humanos, em um artigo para a revista New Scientist. “A genética não é um destino, não determina o que você vai ser. Ela oferece predisposições. Todos estão sujeitos a influências ambientais que podem, sim, mudar a expressão dos genes e fazer com que eles simplesmente não se manifestem”, diz André Ramos, diretor do Laboratório de Genética do Comportamento da Universidade Federal de Santa Catarina.

Traços de personalidade são idéias, conceitos culturais: dependem dos olhos de outros e da cultura de um lugar e de uma época para aparecerem e ganharem um nome. O que é inteligência, pedofilia, má-educação ou timidez no Brasil pode ganhar nomes bem diferentes no Japão, por exemplo. Por isso, não dá para encontrar a personalidade pura no DNA. Mas a nossa herança genética pode, sim, influenciar o funcionamento do corpo, que, numa cultura ou em outra, resulta em comportamentos diferentes.

Ao nascer, cada ser humano carrega uma composição de 30 mil a 35 mil genes, formações de DNA que ficam ali dentro dos nossos 23 pares de cromossomos. As principais descobertas dos geneticistas do comportamento relacionam os genes à regulação de mecanismos fisiológicos que mudam o comportamento, como impulsividade, vício de determinadas substâncias e memorização. Há indicações, por exemplo, de diferenças genéticas na regulação da dopamina, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer. Em algumas pessoas, a cocaína provocaria uma descarga anormal de dopamina, causando vício. “É provável que esse medidor químico sofra uma deficiência natural e, portanto, alguns indivíduos sejam mais suscetíveis a se viciar em cocaína”, dizem os pesquisadores Howard S. Friedman e Miriam W. Schustack, autores de Teorias da Personalidade.

Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria de Londres, divulgada no ano passado, mostra como o comportamento pode ser afetado por uma interação entre genes e ambiente. Ele teve acesso a um estudo que acompanha desde 1972 a saúde física e mental de mais de 1 000 pessoas desde o nascimento. Descobriu que homens maltratados na infância tinham uma probabilidade 10 vezes maior que os demais de cometer crimes violentos desde que, além de terem sofrido maus-tratos, possuíssem pequena atividade da enzima MAOA do cromossomo X, que permite níveis elevados de serotonina. No total, 85% dos homens maltratados na infância e cuja MAOA é pouco ativa exibiram comportamento violento ao longo da vida. Entre os que possuíam a forma muito ativa, os maus-tratos não aumentaram o comportamento violento.

Outro exemplo é o gene FOXP2, no cromossomo 7, isolado recentemente pelo Centro de Genética Humana da Fundação Wellcome, no Reino Unido. Mutações nesse gene causam deficiências específicas de linguagem – ele parece ser necessário para o desenvolvimento da fala. “Ele permite que a mente humana absorva, a partir das experiências vividas na 1ª infância, o aprendizado necessário para falar”, afirma Matt Ridley. Com problemas de fala, é mais fácil para a criança desenvolver traços como a timidez.

A composição genética tem ainda efeitos indiretos, que acabam influenciando até o comportamento dos pais. É que, por mais que digam o contrário,

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