PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS GRUPAIS NO CRAM - CENTRO DE REFERÊNCIA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Por: Aline Cabanha • 27/9/2019 • Trabalho acadêmico • 2.383 Palavras (10 Páginas) • 275 Visualizações
UNIAMÉRICA – CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIÃO DAS AMÉRICAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
ALINE ALMEIDA CABANHA
DESAFIO 2
PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DE PRÁTICAS GRUPAIS NO CRAM - CENTRO DE REFERÊNCIA DE ATENDIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
ANÁLISE DOS DADOS
FOZ DO IGUAÇU
2019
- INTRODUÇÃO
Situações de violências são vistas e vivenciadas todos os dias: basta ser mulher para estar no grupo de risco para sofrer algum tipo de violência. Os índices de violência infelizmente ainda são alarmantes no Brasil, sendo muitas das vezes visto como algo comum, naturalizado e até normatizado culturalmente. Tendo em vista esta realidade, existem equipamentos voltados para o atendimento exclusivo de mulheres que se encontram nestas condições. O município de Foz do Iguaçu, Paraná, possui o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM).
Muitas usuárias chegam ao equipamento com diversas crenças distorcidas acerca do que significa ser mulher e qual seu papel na sociedade. Para isto, o atendimento psicológico e suporte de outras áreas de atuação pode restaurar a autoestima e autonomia da mulher, proporcionando fortalecimento e autoconhecimento para a mesma, auxiliando-a a identificar situações de violência, além de ajudá-la a sair deste contexto, caso seja de sua vontade. Desta forma, percebe-se que práticas grupais são ótimas oportunidades para auxiliar e oferecer suporte às usuárias do serviço, além de orientá-las ou realizar encaminhamentos quando necessário.
De acordo com Oliveira et al. (2010), as práticas grupais possibilitam ao participante maior percepção acerca da situação, auxiliando desta forma na crise vivenciada, ao passo que recebe informações e orientações acerca de suas dificuldades, sendo um excelente recurso terapêutico para promoção de autoestima e autoconfiança. A participação em grupo com pessoas que passam por situações semelhantes auxilia no processo de identificação com os pares em suas trocas de pensamentos, experiências e intimidades.
Mills (1970, p. 13) define grupo como “unidades compostas de duas ou mais pessoas que entram em contato para determinado objetivo, e que consideram significativo o contato e representam não apenas microsistemas, mas são [...] microcosmos de sociedades mais amplas." Além, considera-se que as práticas grupais são ótimos recursos para a promoção da autoestima e autoconfiança dos integrantes, onde ouvir e ser ouvido num grupo onde as pessoas passam ou já passaram por situações semelhantes auxiliam na identificação e formação de vínculo entre membros, possibilitando um ambiente mais acolhedor e seguro para a abertura de si para o outro. De acordo com Arrosi (1993), a literatura indica que o apoio social, que pode ser disseminado em grupos, chamados de “grupos de apoio”, podem se caracterizar pelo apoio emocional que é oferecido (afeto, estima, valor, acolhimento) e apoio instrumental, no que tange à ajuda material, informacional, disseminação de orientações, etc.
- MÉTODO
Segundo Matos et al. (2012), com relação às intervenções grupais, percebe-se consenso da literatura em abordar o tema a partir de perspectivas que sejam favoráveis aos direitos da mulher e que condene a violência, que possam trabalhar a culpa sentida pela vítima devido a agressão e que demonstre de que formas a sociedade continua alimentando essa violência. Atividades associadas às crenças sobre papeis de gênero e de que forma contribuem para a violência no relacionamento afetivo. É indispensável que o facilitador identifique as tentativas de negação ou minimização da violência sofrida por parte da vítima, trazendo de forma didática como que as dinâmicas violentas entre os casais se estabelecem e se solidificam ao longo do tempo. Outro ponto de extrema importância a ser trabalhado é sobre as razões que levam mulheres a se manterem em relacionamentos abusivos, de modo a retirar ou minimizar a culpabilização que é colocada na mulher que está ou esteve em relacionamentos violentos. De acordo com Neufeld e Rangé (2017):
O objetivo central não se resume em reduzir sintomas como depressão, baixa autoestima e ansiedade, por exemplo, ou, ainda, em desenvolver habilidades sociais ou de resolução de problemas sociais. Perfazendo toda a intervenção, há um objetivo central prioritário: o de avaliar a segurança e a integridade física da mulher, ensinando-a a se proteger. Tal objetivo se faz necessário quando analisamos o risco a que tal mulher está exposta, lembrando que os feminicídios, ou assassinatos de mulheres, no Brasil não são, em sua maior parte, ocasionados por um estranho, e sim pelo parceiro ou ex-parceiro [ . . . ] (NEUFELD e RANGÉ, 2017, p. 195).
É de primordial importância que a participante possa elaborar um plano de segurança pessoal, onde desde o início da intervenção grupal crie-se condições para que a mulher possa se proteger. Para isto, é necessário identificar crenças disfuncionais que possam colocar a segurança e integridade da mulher em risco, como por exemplo “não posso levar desaforo para casa”, “preciso me impor no relacionamento”, “não vou deixar de colocar meu ponto de vista em uma discussão”, “ele não é capaz de fazer mal a ninguém”. Tais crenças podem aumentar a vulnerabilidade e situação de risco da mulher. Cabe ao facilitador do grupo identificar estas crenças e rebatê-las, discutindo as consequências. Técnicas de reestruturação cognitiva devem ser trabalhadas, para que se tenha uma flexibilização maior dos pensamentos.
Pontos importantes a serem avaliados para a realização do grupo com mulheres em situação de violência, segundo Matos et al. (2012): (a) realização avaliação se a mulher possui recursos como moradia, acesso ao transporte, alimentação, tendo em vista que elas podem ter fugido de casa , e (b) atuar na identificação de variáveis que possam interferir na adesão da mulher ao grupo (não ter com quem deixar os filhos, por exemplo).
De acordo com Neulfeld e Rangé (2017), tais técnicas podem ser utilizadas para intervenção: (a) dinâmicas grupais de apresentação do grupo; (b) psicoeducação; (c) estabelecimento de plano de segurança; (d) análise de crenças sociais e mitos que permeiam a violência contra a mulher; (e) treino de relaxamento; (f) treino de habilidades sociais; (g) role-playing; (h) auto-observação; (i) realização da análise dos impactos da violência no psicológico das usuárias; (j) auxiliar no estabelecimento de redes de apoio; (k) estratégias para lidar com sintomas de ansiedade e depressão (l) técnicas de respiração e relaxamento. Além destes pontos, faz-se necessário ressaltar que atividades que proporcionem o fortalecimento da autoestima e autonomia das mulheres devem estar sempre presentes no grupo.
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