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Poder sobre a vida, potencia de vida

Por:   •  24/9/2018  •  Resenha  •  1.500 Palavras (6 Páginas)  •  338 Visualizações

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O Imperador da China pediu que construísse uma grande muralha em volta de seu castelo para que pudesse ter proteção. Só que os andarilhos perceberam que a muralha era descontinua e que ali haviam varias brechas. Só que os demais não sabiam por não andar por ali, acreditavam na força daquela muralha.

No final das contas, havia muitos nômades, esses andarilhos, se aglomerando no território do imperador, fazendo com que o próprio imperador fosse o prisioneiro, e não ao contrario.

Kafka fala sobre esses andarilhos, os esquizos. São animalescos, expansivos, mas não demonstram nenhuma intenção de invadir o palácio imperial.

“Eles desconhecem os costumes locais e imprimem á capital em que se infiltram sua esquisitice. Ignoram as leis do império, parece ter sua própria lei, que ninguém entende. É uma lei-esquiza, dizem Deleuze-Guattari, talvez pela semelhança do nômade com o esquizo. O esquizo está presente e ausente simultaneamente, ele está na tua frente e a mesmo tempo te escapa, sempre está dentro e fora, da conversa, da família, da cidade, da economia, da cultura, da linguagem. Ocupa um território mas ao mesmo tempo o desmancha, dificilmente entra em confronto direto com aquilo que recusa, não aceita a dialética da oposição, que sabe submetida de antemão ao campo do adversário, por isso ele desliza, escorrega, recusa o jogo ou subverte-lhe o sentido, corrói o próprio campo e assim resiste as injunções dominantes. O nômade, a exemplo do esquizo, é o desterritorializado por excelência, aquele que foge e faz tudo fugir. Ele faz da própria desterritorialização um território subjetivo”.

Então como o Império pode lidar com um território subjetivo tão fugidio?

Por precisar do apoio da população, ele não poderia ignorar pois correria o risco de esfacelar-se (seu poder). Então como poderia o império mobilizar tanta gente caso não plugasse o sonho das multidoes a sua megamáquina planetária?

Como se expandiria se não vendesse a todos a promessa de uma vida invejável, segura, feliz? Nos é vendido o tempo todo maneiras de ver, sentir, pensar, perceber, morar e de vestir. Consumimos mais do que bens, formas de vida.

Através dos fluxos de imagem, de informação, de conhecimento e de serviços que acessamos constantemente, absorvemos maneiras de viver, sentidos de vida, consumimos toneladas de subjetividade.

Vemos instalar um novo modo de relação entre o capital e a subjetividade.

A mídia e a indústria de propaganda alcançaram o inconsciente, e penetra nas esferas mais sutis da existência, as mobiliza, as pões pra trabalhar, as explora e amplia, produzindo uma plasticidade subjetiva sem precedentes.

Com o passar dos séculos, foi compreendido que a sociedade depende da circulação de fluxos e a lógica da muralha caiu por terra. Fluxos de capital, informação, imagens, bens e de pessoas. O império se nomadizou completamente. Tendo em vista que nem tudo circula de maneira igual, nem todos extraem dessa circulação os mesmos benefícios.

O novo capitalismo em rede, que enaltece as conexões, a movência, a fluidez, produz novas formas de exploração e de exclusão, novas elites, novas misérias, e sobretudo uma nova angustia, a do desligamento.

O problema se agrava quando o direito de acesso as redes migra do âmbito social para o âmbito comercial, ou seja, fazer parte dependia de critérios como tradições, relações de comunidade e trabalho, religião, sexo, hoje é mediado por pedágios comerciais impagáveis para uma grande maioria. O que se vê é uma expropriação das redes de vida da maioria da população pelo capital.

Dito isto, devemos buscar novas possibilidades, e com isso nos perguntarmos, no interior dessa megamáquina, de que novas maneiras podemos nos agregar, trabalhar, criar sentido, inventar dispositivos de valorização e autovalorização.

Dentro desse capitalismo conexionista, como se viabilizam outras redes que não as comandadas pelo capital, como criar redes autônomas que podem sim cruzar, descolar ou revitalizar essas redes dominantes?

De que recursos dispõe uma pessoa ou um coletivo para afirmar um modo próprio de ocupar o espaço doméstico, de cadenciar o tempo comunitário, de mobilizar a memória coletiva, de produzir bens e conhecimento e faze-los circular, de transitar por esferas consideradas invisíveis, de reinventar a corporeidade, de gerir a vizinhança e a solidariedade, de cuidar da infância ou da velhice, de lidar com o prazer ou a dor?

No contexto de um capitalismo cultural, que expropria e revende modos de vida, não haveria uma tendência crescente, por parte dos chamados excluídos, em sar a própria vida, na sua precariedade de subsistência, como um vetor de autovalorizaçãoo? Quando um grupo de presidiários compõe e grava sua música, o que eles mostram e vendem não é só sua música, nem só suas histórias de vida escabrosas, mas seu estilo, sua singularidade, sua percepção, sua revolta, sua causticidade, sua maneira de vestir, de “morar” na prisão, de gesticular, de protestar, de rebelar-se – em suma, sua vida. Seu único capital sendo sua vida, no seu estado extremo de sobrevida e resistência, é disso que fizeram um vetor de existencialização, é essa vida que eles capitalizaram e que assim se autovalorizou e produziu valor. Costrução de territórios sbjetivos a partir das próprias linhas de escape a que são provenientes.

A capacidade social de produzir o novo está dis- seminada por toda parte, sem estar essa capacidade subordinada aos ditames do capital. todos produzem constantemente, mesmo aqueles que não estão vinculados ao processo produtivo. Produzir o novo é inventar novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação. A invenção não é prerrogativa dos grandes gênios, ela é a potência do homem comum.

Ao invés de serem apenas objeto de uma vampirização por

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