Psicanálise como método de investigação
Pesquisas Acadêmicas: Psicanálise como método de investigação. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Liliane2929 • 26/11/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 4.195 Palavras (17 Páginas) • 363 Visualizações
A Psicanálise
“Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta
freudiana, essa palavra seria incontestavelmente inconsciente”1.
SIGMUND FREUD
As teorias científicas surgem influenciadas pelas condições da vida
social, nos seus aspectos econômicos, políticos, culturais etc. São
produtos históricos criados por homens concretos, que vivem o seu
tempo e contribuem ou alteram, radicalmente, o desenvolvimento do
conhecimento.
Sigmund Freud (1856-1939) foi um médico vienense que alterou,
radicalmente, o modo de pensar a vida psíquica. Sua contribuição é
comparável à de Karl Marx na compreensão dos processos históricos e
sociais. Freud ousou colocar os “processos misteriosos” do psiquismo,
suas “regiões obscuras”, isto é, as fantasias, os sonhos, os
esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos. A
investigação sistemática desses problemas levou Freud à criação da
Psicanálise.
O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um
1 J. Laplanche e J.-B. Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. p. 307.
método de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria,
caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o
funcionamento da vida psíquica. Freud publicou uma extensa obra,
durante toda a sua vida, relatando suas descobertas e formulando leis
gerais sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana. A
Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo
método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é
manifesto por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias,
como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos. A
prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que
busca o autoconhecimento ou a [pg. 70] cura, que ocorre através desse
autoconhecimento. Atualmente, o exercício da Psicanálise ocorre de
muitas outras formas. Ou seja, é usada como base para psicoterapias,
aconselhamento, orientação; é aplicada no trabalho com grupos,
instituições. A Psicanálise também é um instrumento importante para a
análise e compreensão de fenômenos sociais relevantes: as novas
formas de sofrimento psíquico, o excesso de individualismo no mundo
contemporâneo, a exacerbação da violência etc.
Compreender a Psicanálise
significa percorrer novamente o trajeto
pessoal de Freud, desde a origem dessa
ciência e durante grande parte de seu
desenvolvimento. A relação entre autor e
obra torna-se mais significativa quando
descobrimos que grande parte de sua
produção foi baseada em experiências
pessoais, transcritas com rigor em várias
de suas obras, como A interpretação dos
sonhos e A psicopatologia da vida
cotidiana, dentre outras.
Compreender a Psicanálise
significa, também, percorrer, no nível
Sigmund Freud — o fundador da
Psicanálise.
pessoal, a experiência inaugural de Freud e buscar “descobrir” as regiões
obscuras da vida psíquica, vencendo as resistências interiores, pois se
ela foi realizada por Freud,
“não é uma aquisição definitiva da humanidade, mas tem que ser realizada de
novo por cada paciente e por cada psicanalista”2.
A GESTAÇÃO DA PSICANÁLISE
Freud formou-se em Medicina na Universidade de Viena, em 1881,
e especializou-se em Psiquiatria. Trabalhou algum tempo em um
laboratório de Fisiologia e deu aulas de Neuropatologia no instituto onde
trabalhava. Por dificuldades financeiras, não pôde dedicar-se
integralmente à vida acadêmica e de pesquisador. Começou, então, a
clinicar, atendendo pessoas acometidas de “problemas nervosos”.
Obteve, ao final da residência médica, uma bolsa de estudo para Paris,
onde trabalhou com Jean Charcot, psiquiatra francês que tratava as
histerias com hipnose. Em 1886, retornou a [pg. 71] Viena e voltou a
clinicar, e seu principal instrumento de trabalho na eliminação dos
sintomas dos distúrbios nervosos passou a ser a sugestão hipnótica3.
Em Viena, o contato de Freud com Josef Breuer, médico e
cientista, também foi importante para a continuidade das investigações.
Nesse sentido, o caso de uma paciente de Breuer foi significativo. Ana O.
apresentava um conjunto de sintomas que a fazia sofrer: paralisia
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