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RESENHA DO FILME UM EVENTO FELIZ

Por:   •  22/11/2018  •  Resenha  •  1.900 Palavras (8 Páginas)  •  573 Visualizações

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RESENHA

“Um Evento Feliz”

Jéssica Paulus¹

O filme “Um Evento Feliz”, de Rémi Bezançon, conta a história de Barbara e Nicholas, desde o momento em que se conhecem até decidirem formar uma família e todos os problemas subsequentes.

O casal se conheceu em uma locadora, Nicholas era o caixa e tinha o sonho de ser cineasta e Barbara trabalhava em sua tese de doutorado, logo já tiveram um relacionamento bem intenso. Em decorrência desse relacionamento eles decidem ter um filho.

O filme em si representa muito bem o que acontece no período da gravidez. Primeiramente apresentando a juventude do casal, com seus medos, suas dúvidas e sua insegurança de estarem preparados ou não para serem pais. Conseguimos observar isso nas brigas decorrentes do casal, como saber ou não o sexo do bebe, onde já há um estranhamento por parte da Barbara, pois ao saber o sexo da criança se cria uma noção de realidade, e ela não queria saber o sexo do bebe (Nicholas queria), assim, talvez, inconscientemente para não encarar o “problema”. Nesse momento a questão financeira também é abordada, como Nicholas trabalha em uma locadora aparentemente teria que mudar de emprego e Barbara não trabalhava, se dedicava apenas a sua tese. Dessa forma vimos claramente a impulsividade na decisão de ter um filho, já que normalmente é comum o casal planejar seu futuro, para quando chegar este momento estejam bem preparados.

Barbara foi abandonada pelo seu pai aos 4 anos, sua mãe teve que criar as duas filhas sozinhas, tornando-se insensível ao passar dos anos. Isso nunca foi elaborado pela Barbara, o que explica sua relação com a mãe, baseada em brigas, mesmo que as vezes existisse apoio. O casal planeja contar a ela sobre a gravidez, mas primeiramente a Barbara tenta esconder, mas ela percebe e se inicia uma briga, onde observa-se que Barbara teve uma infância conturbada. A mãe também fala para Barbara sobre sua inexperiência, sobre o casal não ser financeiramente independente e se recusa a ajudar quando o bebe vier.

Durante a gravidez, o filme mostra os momentos cotidianos, como os enjoos, as mudanças frequentes de humor, a preocupação com o enxoval. Apresenta também a mudança no papel e condição feminina: de mulher, que se arruma, se ajeita, “vive para si” á mãe, mostra as fases de ambivalência: sentir-se vigorosa e ao mesmo tempo angustiada e temerosa, assim demostrando a parte psicológica da personagem.

Se aproximando dos quatros meses de gravidez presenciamos outro conflito. Barbara se sente no auge da sua feminilidade, por conta do aumento da quantidade de hormônios no seu organismo, tinha o desejo de manter relações sexuais. Mas Nicholas mostrava um medo de ter relações sexuais com ela, dizia que “poderia estar machucando o bebe”, mas ela não era apenas um útero e sim uma mulher com necessidades também. Barbara passa por uma objetificação durante o filme nota-se além dessa situação, os médicos a observarem somente como um corpo. Essa situação junto com a exclusão, do marido, amigos, que está passando devido aos cuidados com a gravidez, faz com que barbara passe muito tempo só.

É interessante também observar no filme as sensações descritas por Bárbara em relação a criança que está gestando, em uma cena ela cita “Eu me sentia possuída, habitada por uma outra criatura, um alienígena, um estranho, que modificava e controlava meu corpo, um ser com suas próprias preferencias e desejos que me controlavam por dentro [...]”.

Ao se aproximar do parto, ocorre uma cena que chama muita atenção. Bárbara tem um sonho muito realista e representativo, que transmite o que ela estava sentindo durante a gravidez, todo o medo e insegurança. Em seu sonho ela está dormindo e sente que a bebe se mexe quando ela acorda, chama por Nicholas, mas ele não está ao seu lado e não responde, então com dificuldade ela se levanta da cama e ao colocar os pés no chão vê que a casa está inundada, ela tenta fugir e se afoga. Após o sonho ela já está no hospital esperando o bebe que se chama Leia.

Durante o parto percebemos que há dentro dela, uma mistura de sensações, medo, irritabilidade, angustia, dor. Bárbara mostra muitas dificuldades após o parto, desde a saída do hospital, em que ela menciona em relação a Leia “E se eu não for com a cara dela? ”sentindo-se imponente em relação a capacidade de cuidar da filha, assim tendo que cuidar de leia sem enfermeiras por perto, passando pela primeira mamada, o primeiro colo e troca de carinho, o choro e quando a mãe já começa a se preocupa. Notamos também a falta da presença do apoio da família quando a enfermeira aconselha Bárbara falando que não precisa ter medo que tudo vai dar certo, fazendo Bárbara se sentir mais confortável ao deixar o hospital, pois é nesse momento que costumasse ter a família do lado, apoiando e ajudando para que ela se sinta protegida.

Logo após o nascimento de Leia, o pai de Bárbara, que até então não muito presente na história, se comunica enviando uma filmadora e também por e-mail para tentar se reaproximar da fila e conhecer a neta, assim através de vídeos, Bárbara mostra toda a angustia e decepção que sente pelo pai. Por isso ao longo do filme e principalmente depois do nascimento de Leia, na cena em que os vídeos para o pai são gravados, Barbara usa da regressão a qual o ponto de fixação é o período que foi abandonada pelo pai e criticando-o, inclusive rejeita bastante Nicholas durante o período que ficam juntos e a relação esfria. Bárbara se apega muito a Leia e tem dificuldades de se separar dela mantando uma relação de tal forma íntima entre os organismos envolvidos que se torna obrigatória, por exemplo na cena em que Barbara comenta com Nicholas que não conseguiu vaga na creche, mas na verdade o que aconteceu é que ela não queria que acontecesse a separação entre ela e Leia.

Após chegar em casa, no filme, vimos que Bárbara enfrenta muitas dificuldades, mudanças em sua rotina, por exemplo a dificuldade de conciliar a sua tese com os cuidados ao bebe. No início do filme era uma mulher bonita, gostava de se arrumar e alegre, depois ela para de se arrumar pois afirmava não ter mais tempo para isso. Observamos a grande dificuldade que a mãe sente em frustrar a criança, o quanto deixa de fazer coisas que são importantes para ela e pensamos o quanto a mãe protege a menina e de certa forma não deixa o pai se aproximar para de fato exercer a função paterna, mesmo que silenciosamente ele mesmo concorde com isso.

A um estudante de psicologia, algumas cenas durante esse período do filme chamam a atenção como a cena em que Bárbara está ocupada escrevendo a tese no computador e não consegue acalmar Leia, que chora ao lado, mas ao começar a digitar, o barulho do tclado deixa a bebe mais calma. Outra cena é quando Leia não consegue dormir e Barbara a leva para o quarto do casal, Nicholas discorda da ideia a interrogando se é uma boa ideia, ele pensa assim pois possui o aparelho psíquico atravessado pelo recalcamento, fazendo jus quando se aconselha aos pais, que a criança não deve dormir no mesmo quarto dos pais, mas Barbara o convence falando “só hoje”. Também destacamos a cena em que Nicholas decide trocar as fraldas de Leia e fala mal do coco da filha, Barbara escuta e fala que a bebe vai ter problemas de prisão de ventre “como o pai” se ele continuar falando mal do coco da filha, pois a mãe de Nicholas teria “passado uma imagem feia do coco” dele quando ele era pequeno, e isso explicaria ele ter prisão de ventre na vida adulta, então Nicholas passa a elogiar o coco de Leia. E por último entre muitas há uma cena em que Bárbara conversa com a mãe sobre amamentação, e a avó da bebe diz que a sociedade obriga as mulheres a amamentar e menciona o “clube do leite”. Nesse clube, as mulheres são a favor de amamentar, porém quando Bárbara comenta que produz pouco leite as integrantes dizem que “a mamadeira é inimiga da amamentação”, mas concordam do bebe dormir no mesmo quarto que os pais.

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