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Relatório Do Filme: Assim Como As Estrelas Toda Criança é Especial

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Por:   •  1/6/2014  •  2.053 Palavras (9 Páginas)  •  612 Visualizações

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Análise do Filme:

Como estrelas na terra, toda criança é especial

Antes mesmo de seu início propriamente dito, nas cenas que precedem a ficha técnica, o filme indiano “Como estrelas na terra, toda criança é especial” apresenta sua temática. Em um ritmo cada vez mais frenético, combinado com a sirene de fundo musical, uma lousa de sala de aula vai sendo preenchida por números e letras misturados aleatoriamente, enquanto, diante dela, professoras típicas evocam os nomes de seus alunos e “cantam” suas notas. A grande maioria, pelo bom desempenho, ganha como reforço positivo um sorriso de satisfação das professorinhas; apenas um garoto, Ishaan, recebe de volta a mesma expressão de desesperança e decepção. É sempre o pior da classe. Então, quando a lousa se torna apenas um bloco branco repleto de rabiscos e símbolos ininteligíveis, faz-se silêncio, e nosso olhar pode finalmente ter algum descanso na imagem de um pequeno lago. À beira dele, o protagonista Ishaan contempla os peixinhos, e, concentrado, se prepara para caçá-los com uma técnica precisa, que, certamente, foi desenvolvida ao longo do tempo dedicado à atividade. Mas esse descanso dura pouco; logo é interrompido por um adulto que o chacoalha irritado, reclamando do fato de Ishaan sempre atrasar a todos na ida à escola de ônibus.

O filme tem início, e vamos sendo apresentados ao cotidiano escolar e doméstico desse garotinho feliz, de 8 anos de idade. A temática do contraste de tempos vai então sendo enfocada de diversas formas, em vários momentos e situações. Em uma das muitas cenas de sala de aula, em vez de se ater ao conteúdo das matérias e à fala enérgica e ininterrupta da professora, cobrando e avaliando desempenhos da forma mais tradicional e retrógrada possível, o saudável Ishaan busca alguma salvação na janela, contemplando a forma como os pneus das bicicletas passam em uma poça d’água barrenta. Logo, obviamente, recebe a bronca esperada, que, invariavelmente é acompanhada de humilhações, ou pelos outros alunos, que se divertem à custa do coleguinha, ou pelos próprios professores, que ignoram as “dificuldades” de aprendizagem de Ishaan, qualificando-o de engraçadinho, sem-vergonha, preguiçoso e que tais...

Em casa, temos mais do mesmo: em contraste com a organização de tempo do filho problemático, pai, mãe e irmão seguem o script de uma vida produtiva. A cena que sintetiza esta ideia chega a ser hilária – vemos os três cumprindo rituais e tarefas cotidianas prosaicas em uma “rotação” acelerada, uma crítica clara ao ritmo frenético que temos de imprimir em nossas ações para conseguirmos um lugar ao sol na sociedade contemporânea. O valor está nessa pressa, na hiperatividade, como se isso fosse sinônimo de determinação, empenho. Como bem destacou Rosely Sayão em texto recente, “A pressa tomou conta de nossas vidas. Corremos desde que acordamos... Incentivamos a corrida sem fim dos mais novos: queremos que aprendam tudo rapidamente e cedo...” (Apressando a vida, in: http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/). Mais uma vez, o alívio para essa tortura e ansiedade cotidianas nos chega pelos olhos sonhadores de Ishaan – ele demora a acordar, encomprida o sonho na cama, nesse estado fértil entre o sono e a vigília, um sorriso no rosto que pede para ser compartilhado. Mas não há tempo para isso. A mãe-produtiva, que lhe dedica cuidados mecânicos, tem como tarefa tirá-lo desse estado, apressá-lo e adaptá-lo para a vida real, do trabalho, do horário a cumprir.

Como se não bastasse, ela também acompanha o filho na lição de casa, apenas e tão somente para destacar seus erros, demonstrando irritação e desesperança com a repetição deles, com a falta de capricho e empenho do filho: “Pare de brincar e conserte seus erros!”. As mensagens se repetem: preguiçoso, disperso, incompetente para aprender; enfim, não há projeto de futuro possível para esse menino que insiste em contemplar a vida, enquanto o tempo não para...

“Aqui nesta pedra alguém sentou olhando mar. O mar não parou para ser olhado. Foi mar pra tudo quanto é lado”, diz o poema de Paulo Leminski. No filme, quem “atropela” Ishaan é o pai, que, depois de uma reunião com os “educadores” da escola, em que o fracasso do filho é reafirmado em frases como: “ele não evolui, repete os mesmos erros de propósito...”, decide mandá-lo para um colégio interno, afastá-lo da família como castigo por não ter se esforçado. Tem início então um segundo momento da vida desse menino: toda a sua vivacidade, o sorriso malandro, a alegria de criança, a curiosidade e fascinação pelas cores e movimentos das ruas, que depois reproduzia em desenhos e pinturas belíssimos, são substituídos pela tristeza do abandono, pela decepção, em especial com a atitude da mãe, que, embora não concorde com a ideia da separação, submete-se ao marido.

Impossível ao espectador não se sensibilizar com o sofrimento que parece não ter fim do menino. O lema da “nova” escola, entoado com orgulho pelo corpo técnico, é: “Disciplina. Já domamos cavalos selvagens, vamos domar este também”. Ou seja, Ishaan é de imediato identificado como o garoto desregrado e incapaz de se desenvolver intelectualmente. Pior: agora, ele aceita esses rótulos e começa a se anestesiar para não sofrer, submetendo-se às novas humilhações dos professores sem qualquer reação. Deixa de falar, de desenhar e vai se tornando indiferente a tudo e a todos. Ishaan foi impedido de ser ele mesmo.

Mas este filme indiano não foge à regra e, para alívio de todos, repete a fórmula do clássico pioneiro “Ao mestre com carinho”, seguido de “Sociedade dos poetas mortos”, e mais recentemente “Escritores da liberdade”, já comentado nesta seção. Também aqui há um professor herói, um salvador, e a redenção finalmente chega pelo personagem Ram Shankar, que assume as aulas de artes.

Ram tem um percurso profissional interessante: vem de uma escola especial da região, na qual desenvolve um trabalho belíssimo com crianças deficientes. Esse percurso e sua própria história nos bancos escolares o equipam para aproximar-se de Ishaan e empatizar-se com ele. O professor de artes logo percebe que o garoto está profundamente deprimido, pois não responde a sua forma inusitada de ministrar aulas: ele se apresenta aos alunos fantasiado, tocando uma flauta e convidando-os a dançar, cantar e, depois, desenhar livremente, deixando a imaginação correr solta no papel: “Divirtam-se, estão livres para desenhar o que quiserem!”. Ou seja, tudo que Ishaan fazia antes da opressão e violência que sofreu no ambiente escolar e familiar. Encapsulado, o garoto não reage mais; está tão anestesiado que

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