Resenha O filme “O show de Truman: o Show da Vida”
Por: Arlindar • 16/11/2015 • Resenha • 1.345 Palavras (6 Páginas) • 1.896 Visualizações
O filme “O show de Truman: o Show da Vida” retrata a história de um homem que participava de um reality show sem saber. O personagem, interpretado por Jim Carrey, começou a ser filmado ainda dentro do útero da mãe, quando o programa estava selecionando, dentre 5 grávidas, qual seria o bebê escolhido para ser a estrela do show. Fruto de uma gravidez indesejada, Truman - prematuro - nasceu próximo à data em que o programa estava previsto para começar. Por isso foi o selecionado, sendo legalmente adotado pela empresa produtora. Assim, bilhares de pessoas acompanharam seu nascimento e vários países assistiram seu primeiro passo. Mas, o filme só começou quando Truman tinha quase 30 anos.
Gravado 24 horas por dia, durante os sete dias da semana, o personagem principal vive sendo assistido pelo mundo todo, em uma cidade cenográfica. Construída em Hollywood, a Ilha de Seahaven possui uma alta tecnologia e uma complexa cadeia de câmeras escondidas. O idealizador do programa, Christof, é considerado o melhor televisionário do mundo. Criador do “mundo Seahaven” dentro do mundo, ele dirige o reality sem interrupções. E tudo o que há no programa é comercializado - desde as roupas e acessórios dos atores, até a comida e as casas existentes no cenário. Entretanto, o que mais chama atenção nessa grandiosa produção é o fato de que Truman, apesar de ser a estrela do Show, não tem consciência disso. Pois como foi criado desde seu nascimento na cidade cenográfica, ele não tem conhecimento de que a Ilha é artificial. Muito menos tem ideia, num primeiro momento, de que as pessoas que se relacionam com ele são todas atores. Seus pais, sua mulher, seu melhor amigo – todos são atores profissionais. Também são artificiais os eventos meteorológicos, o sol, a lua etc. Tudo o que está à sua volta tem “uma marcação”, um “script” - apesar de o diretor do programa dizer que não.
Segundo Christof, ainda que o mundo em que Truman viva seja falso, o que importa é que não há falsidade nenhuma nele. Diz ainda que não há scripts, não há interferências,sendo genuíno o que se assiste. O que não é verdade, já que as interferências eram comuns. Todos aqueles que conviviam com Truman seguiam um roteiro preestabelecido, interpretando papéis e comunicando-se com a direção por meio de um aparelho colocado no ouvido. E, a todo o momento, a direção do programa interferia, seja manipulando notícias e informações, seja criando situações de todo tipo.
O idealizador do reality show – Christof – queria que Truman vivesse toda sua vida pautada em uma concepção de mundo ontológico. É dito isso porque, pelo enredo desenvolvido, se mostra que o diretor esperava do astro apenas o cumprimento de seu destino. Ou seja, a “vida” se encarregaria de conduzir os acontecimentos, de forma a alegrar os milhares de espectadores que assistiam Truman todos os dias. Além disso, Christof agia tal como uma autoridade divina, e não se submetia a valores ou normas, já que sua onipresença e onipotência eram naturais e legítimas, não necessitando de justificativas. Pode-se perceber esse comportamento quando o diretor engana Truman, fazendo-o acreditar que se relaciona com pessoas sinceras e rais, quando controla o rádio de seu carro de forma a lhe criar medos e bloqueios. Ou quando cria uma tempestade colocando em risco sua vida. A ideia era de que Truman entendesse que nasceu com um destino impossível de se afastar. Ele já possuía uma bela esposa, família, casa, trabalho. Então, por que reclamar? Cabia-lhe apenas seguir um roteiro, deixar os acontecimentos do seu dia a dia conduzir seu futuro.
Ainda, a cidade cenográfica aonde Truman foi criado reproduziu a era moderna. Lá existia tecnologia, carros potentes, arquitetura padronizada, padrões de moda e de consumo. Em várias cenas aparecem propagandas de produtos, e o próprio personagem principal trabalha com o mundo dos negócios vendendo seguros. Desse modo o contexto do reality apresenta uma cópia do que se refere ao mundo fora de lá, tornando-o mais real para os telespectadores.
Contudo, o Show de Truman é facilmente comparado a um famoso mito de Platão. O mito se refere a cativos que desde a infância foram acorrentados nas pernas e nos pescoços, em uma caverna. Nela, eles ficavam virados de frente para uma parede e de costas para a entrada da caverna, de forma que só lhes era possível ver e ouvir as sombras e os ecos daqueles que desfilavam do lado de fora. Se algum deles conseguisse se libertar e fosse em direção à luz , de primeira, nada do que visse ou ouvisse lhe faria sentido. As sombras, inicialmente, ainda pareceriam mais verdadeiras, pois seria necessário um tempo até que os olhos acostumassem com a claridade. Só depois, o ex-cativo perceberia a realidade como era de fato. Ainda assim, não adiantaria àquele que conheceu a verdade voltar à caverna e contar a boa-nova aos demais acorrentados, porque estes não lhe dariam ouvidos, só acreditando naquilo que suas próprias percepções lhes revelassem.
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