Resenha do Filme Minhas Tardes com Margueritte
Por: lanaocp7 • 15/11/2018 • Resenha • 927 Palavras (4 Páginas) • 1.107 Visualizações
RESENHA
Baseado no livro La Tête en Friche, de Marie-Sabine Roger, publicado em 2008, o filme Minhas Tardes com Margueritte (2010) foi dirigido por Jean Becker, responsável também pelo roteiro, juntamente com Jean-Loup Dabadie.
O filme apresenta um encontro casual, em um banco de praça, de um cinquentão rude e uma senhora de idade bastante delicada, duas pessoas diametralmente opostas. Germain Chazes (interpretado pelo ator Gérard Depardieu) é um homem pobre, semianalfabeto, pesando mais de 100 quilos e que carrega consigo uma infinidade de traumas de infância, dúvidas e ignorância. Por outro lado, está Margueritte Van de Veld, ex-ativista da Organização Mundial de Saúde (protagonizada por Gisèle Casadesus), uma frágil senhora de 95 anos, que não deve pesar mais de 40 quilos, mas portadora de um cérebro repleto de boas lembranças resultantes de uma vida pacífica e de dedicação à leitura, e que reside em uma casa para idosos, onde ocupa um quarto cheio de livros, que se tornaram parte essencial de sua existência.
Germain era filho único de uma mulher revoltada em razão dos maus tratos a que foi submetida pelos homens com quem se relacionou, e teve uma infância conturbada devido às agressividades que sofreu e testemunhou. Na escola, haja vista a sua forma física e comportamento introspectivo, era humilhado tanto pelos colegas quanto pelo professor, motivo pelo qual decidiu abandonar os estudos antes mesmo de terminar o primário, tornando-se um feirante resmungão e que não consegue perceber as entrelinhas das relações humanas. Morava sozinho, mas cuidava de sua mãe, que se transformara em uma senhora doente e perturbada pelas recordações de sua vida anterior. Seus únicos momentos de tranquilidade eram propiciados por uma namorada, motorista de ônibus, bem mais jovem, bonita e de boa educação, que via nele algo mais do que a aparente confusão (ao contrário dos outros que o consideravam um idiota completo), assim como os momentos em que sentava na praça para comer seu sanduíche, alimentar e contar os pombos.
No entanto, a vida de Germain se transforma quando numa certa tarde, ele encontra em um banco da praça Margueritte. A partir daí os pombos se tornam assunto e ponto de partida para a construção da amizade entre esses personagens tão diferentes. De forma educada, Margueritte pergunta se ele gostaria de ouvir a história que está lendo, buscando sutilmente atraí-lo para o universo da leitura, e ele aceita. Deste modo, enquanto Germain resmungava e degustava seu sanduíche, ela lia versos dos livros de seus autores preferidos, envolvendo-o em um mundo até então desconhecido para ele, além de aceitá-lo em sua totalidade, não apontando suas falhas e não impondo suas verdades pessoais. Ao contrário, ela evidencia as qualidades dele. Logo, Germain, já tão acostumado a ser inferiorizado desde criança, sobretudo por sua dificuldade em ler, encontra encantamento nesse encontro com a simpática senhora, que tem a capacidade de despertar o seu potencial, se surpreendendo também com o fato de que uma pessoa fisicamente tão frágil, poderia ser ao mesmo tempo forte pela sabedoria e forma pacífica e afetuosa de se relacionar com o outro. Assim, ele vai se envolvendo com os encontros dos dois, sem nem perceber do quanto passa a precisar deles, surgindo, dessa maneira, uma amizade indissolúvel que o ajuda a encarar a vida com outros olhos.
É a partir de seu contato com Margueritte, que se pode observar o quanto Germain é sensível, fraterno e amoroso. É ele quem cuida da mãe, mesmo que esta ainda continue a maltratá-lo até morrer. É ele que, nos momentos de necessidade, sempre consola e dá guarida aos amigos. O gigante na verdade é um homem solidário e gentil.
Nesse sentido, não é surpresa quando Germain ao saber que Margueritte sofre de uma doença que causa problemas de visão e que por isso pode ficar cega, ele, mesmo relutante por causa de sua dificuldade na leitura, passa a ler histórias para ela. Além disso, posteriormente, quando a família de Margueritte a tira da casa de repouso onde morava por questões financeiras, colocando-a em um lugar distante e sem suporte adequado; não a encontrando, Germain localiza a sua nova morada e a leva para viver em sua casa, fato que a senhora aceita alegremente.
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