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SEXUALIDADE MASCULINA E PARAPLEGIA

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Por:   •  26/3/2015  •  1.442 Palavras (6 Páginas)  •  259 Visualizações

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Enfocar a sexualidade masculina a partir da deficiência não é um tema recorrente na literatura da Psicologia. A rigor, verifica-se que os trabalhos sobre o assunto são poucos e esses, de modo geral, tratam de aspectos específicos de determinado tipo de deficiência. Nas paraplegias adquiridas, a deficiência em foco neste trabalho, a ênfase tem recaído sobre a reabilitação da função sexual, a qual compreende os aspectos fisiológicos, tais como ereções, ejaculações, orgasmo, por exemplo.

De forma mais detalhada, o estudo da área permite constatar algumas evidências. A primeira caminha em direção às conclusões de Bruns (1998), que vê a sexualidade das pessoas com deficiência velada pelo silêncio. A segunda aponta para o universo representacional que cobre a sexualidade dessas pessoas.

Nesse último domínio, um relevante estudo é apresentado por Giami e D'Allonnes (1984). Pesquisando a representação de pais e professores a respeito da sexualidade de pessoas com deficiência mental, eles se depararam com dois tipos predominantes de atitudes: pais que a vêem como angelical e professores que a recobrem com a dimensão da monstruosidade. Se a sexualidade é de anjo, ela não existe; se ela é de monstro, é necessário escondê-la. Os autores escrevem:

O sistema de representação edificado pelos pais e pelos educadores em torno da sexualidade dos deficientes mentais funciona como um sistema de defesa coletivo para com a sexualidade compreendida como ameaçadora, tanto em sua dimensão "selvagem" e "bestial", como na dimensão "angelical". É o conjunto da organização psicossexual dos deficientes mentais (com todas as diferenciações possíveis quanto à natureza da deficiência) que é apreendido fundamentalmente como intolerável. (GIAMI; D'ALLONNES, 1984, p. 40)

Investigando a sexualidade de pessoas cegas, Bruns e Leal Filho (1996) analisaram anúncios classificados, que visavam o estabelecimento de correspondência e ou vínculo afetivo, publicados na Revista Brasileira para Cegos e no jornal Folha de São Paulo. Entre outras constatações, os pesquisadores se depararam com descrições nas quais as pessoas com deficiência visual expressavam uma supervalorização dos atributos visuais.

Se no primeiro estudo citado, o de Giami e D'Allonnes (1984), a sexualidade é adjetivada, de modo a ser negada, no segundo, o de Bruns e Leal Filho (1996), ela mostra que os indivíduos com deficiência visual lançam mão do que consideram ser um comportamento padrão quando se lida com as coisas do sexo.

Em um artigo sobre sexualidade e deficiência, Mazin e Pinel (1984) apontam que a negação da sexualidade das pessoas com deficiência acontece da mesma forma que lhes são vedadas melhores condições de vida e o desenvolvimento de potencialidades não exploradas. Para esses autores, a origem da dificuldade dessas pessoas no desempenho dos papeis de gênero deve-se à introjeção excessivamente rígida de papéis sexuais.

Estudando o autoconceito e a postura frente à sexualidade em dez pessoas com deficiência física, Aloisi e Lipp (1988) constataram que os homens (cinco ao todo) se atribuíram um número maior de pontos positivos que as mulheres em um questionário que avaliava a visão que tinham de si e a que supunham que os outros tinham sobre eles. Dos sujeitos pesquisados, 71,4% indicaram que a maior dificuldade que encontravam para ter um relacionamento sexual era o constrangimento que sentiam em expor sua deficiência física. Destacando a importância dos papéis sociais tradicionais nos resultados, os autores afirmam: "As respostas parecem refletir muito mais os papéis sociais a que todos estão, geralmente, expostos, do que uma dicotomia "deficiência não-deficiência", desde que o defeito físico não pareceu estar determinando seu comportamento verbal." (ALOISI; LIPP, 1988, p.138)

Num dos poucos artigos que encontramos em que a condição masculina é pensada tendo em vista o uso de cadeira de rodas, Melo (1986) observa que é no confronto com os papéis sociais atribuídos aos homens que se localizam as maiores dificuldades de ser homem e ter uma deficiência física. Vale a pena reproduzir a cena narrada, tanto pelo seu caráter patético, como pelo que ela elucida.

Uma família comum de classe média, como muitas outras, foi passar um fim de semana em um sítio. Na hora em que se preparavam para deitar, eis que surge, dentro da rústica casa em que se alojavam, um perigoso agressor: um rato. A mulher dá um sonoro alerta, corre com as crianças para fora da casa e de pronto convoca o marido para cumprir sua missão histórica de defender a família das ameaças externas. Rapidamente, como qualquer macho que se preze, o marido pega uma vassoura para esmagar o insólito inimigo. Tudo seria fácil e natural, se este protetor não fosse um deficiente físico em cadeira de rodas! Entretanto, neste caso, como matar o pequenino roedor, se a mesma mão que é necessária para segurar a vassoura também é necessária para deslocar a cadeira de rodas e perseguir o agressor? Depois de longa e difícil disputa, de muito pega e solta vassoura, de muito pega e solta a cadeira de rodas, e de inúmeras e frustradas tentativas, o marido aliviado pode exibir o pequeno roedor morto, como símbolo de sua masculinidade e do cumprimento de seu papel de forte e protetor da família – do macho. (MELO, 1986, p. 79)

Segundo Nolasco (2001b), a representação do universo masculino está em crise. "Tarzan", arquétipo do herói viril e lutador, já teria começado esse século decrépito e o gordo e derrotado "Homer Simpson" seria o protótipo do homem médio, o oposto da virilidade e sedução. Para o autor, os homens estão expostos a um tipo de morte: o fim da sua representação

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