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Somos Todos Do Mesmo Mundo

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Por:   •  24/9/2014  •  946 Palavras (4 Páginas)  •  309 Visualizações

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A todo instante estamos reagindo a algum estímulo, seja ele bom ou ruim. Mas, se agirmos apenas seguindo nossos padrões inconscientes, cairemos facilmente na armadilha dos esquemas já formatados de nossos hábitos mentais negativos. Os padrões positivos são sempre bem-vindos - eles são um recurso valioso quando estamos diante de desafios físicos e emocionais. O fato é que não é fácil mudar nosso ambiente interno se não acendermos as luzes de nosso mundo interior.

Algumas cenas da vida são tão desconfortáveis de serem vistas ou lembradas que buscamos fechar os olhos da alma assim como quando evitamos ver as cenas de um filme violento. É simplesmente demais.

Mas, passado o susto, podemos nos propor a visitar estes lugares escuros, não para escarafunchá-los, colocando o "dedo na ferida", mas sim, para nos tornarmos mais abertos, livres e relaxados diante daquilo que reagimos até mesmo diante de um breve contato.

Em nossa cultura ocidental, conhecer implica em "saber mais" a respeito de algo. Mas, a psicologia budista não busca acumular conhecimentos sobre o nosso mundo interior, mas sim, a ampliar nossa capacidade de nos abrir para nós mesmos. Em outras palavras, é mais importante como nos observamos, do que o que analisamos. Afinal, será o estado de abertura e receptividade que cultivamos interiormente que nos sustentará a olhar para estas cenas emocionais complexas e doloridas.

É como ao visitar um país estranho. Ao invés de lermos tudo que pudermos a respeito deste local, abrimo-nos para deixar que o lugar nos conte como ele é.

O ambiente interno nos induz na forma como percebemos o ambiente externo. Por exemplo, se crescemos sem a familiaridade de sermos vistos pelos outros e reconhecidos em nossas necessidades e desejos, podemos nos tornar cegos ao olhar sincero e afetuoso daqueles que buscam nos amar.

Se pudéssemos imaginar as lentes de nossa vista interior, poderíamos reconhecer se precisamos de mais foco para olhar aqueles que estão mais perto ou distante de nós.

Isso me fez lembrar há uns anos quando fui ao oculista, pois necessitada, pela primeira vez, de usar óculos. Para quem está acostumado a enxergar, o desconforto de não ver é muito desagradável. O fato é que quando o oculista acertou as lentes de meus óculos, foi notório como senti meu peito relaxar e respirei de uma maneira muito agradável. De lá para cá, aprendi que quando preciso pensar melhor é bom usar os óculos!

Nosso cérebro reflete nosso mundo subjetivo. Se nos mantivermos numa atitude de autodefesa constante, não importa o que e com quem estivermos, não conseguiremos nos abrir para escutá-los. Sem escuta não há transformação.

O primeiro passo para nos abrirmos interiormente e, consequentemente, para os outros, é treinarmos a reconhecer se estamos presos numa atitude de ataque ou defesa. Para tanto, podemos observar nosso corpo. Estamos contraídos ou confortáveis em nós mesmos?

Cabe ressaltar que rastrear com atenção nosso corpo não é uma tarefa óbvia. Há quem é tão pouco familiar com o próprio corpo que, ao ser indagado de como está se sentindo, responde simplesmente "nada". Mas, não é bem assim. Se aprendermos a nos auto-observar iremos nos supreender como podemos sentir ansiedade no peito e ainda assim os pés relaxados no chão. Ou a cabeça agitada, pulsando de tanto pensar, e a barriga solta e tranquila. Qual e como cada parte do nosso corpo reage diferentemente é muito particular de acordo com o momento. Eu diria que é como as notas e acordes musicais podem ser harmoniosos ou dissonantes numa mesma melodia.

A área de nosso cérebro responsável por nossa capacidade de autopercepção chama-se ínsula. Por meio dela, recebemos sinais dos órgãos vicerais. Algumas pessoas são de fato muito sensíveis aos sinais do corpo, enquanto outras mal notam o que se passa interiormente. Ambos extremos são problemáticos. Por exemplo, a hipersensibilidade pode gerar um estado altamente desconfortável num ataque de pânico ou levar a pessoa a desconfiar de qualquer alteração e tornar-se hipocondríaca.

O fato importante é que a ínsula nos dá tanto a capacidade de autopercepção física quanto emocional, por isso, na medida em que aprendemos a nos autoperceber, desenvolvemos também a capacidade de sustentar as emoções, sejam as emoções positivas ou negativas.

Quem nos explica tudo isso de uma maneira muito fácil de entender é o neurocientista Richard Davidson com Sharon Begley no livro "O estilo emocional do cérebro" (Ed Sextante, 2013, p. 77). Eles acrescentam: "Os sinais emocionais estão presentes em toda a nossa vida e no ambiente que nos cerca e constituem fortes distrações, frequentemente, interferindo em nossa capacidade de realizar tarefas e de manter tranquilidade. Descobriu-se que a capacidade de filtrar distrações emocionais se correlaciona com a capacidade de filtrar distrações sensoriais. Uma pessoa concentrada consegue prestar atenção em uma única conversa numa festa barulhenta, ao passo que alguém desconcentrado desvia constantemente a atenção e o olhar para o estímulo mais chamativo a cada instante. Algumas pessoas conseguem se desconectar apesar de estarem em meio a um redemoinho emocional - elas se situam no extremo concentrado do espectro da Atenção. Outras são distraídas com frequência por impulsos emocionais que não têm nenhuma relação com a tarefa que estão realizando - elas estão no extremos desconcentrado. Pessoas concentradas conseguem manter a atenção mesmo quando ocorrem intromissões carregadas de emoção, pois filtram a ansiedade que toma conta do ar ao seu redor, algo que as desconcentradas são incapazes de fazer".

O fato é que gastamos muita energia evitando encarar a realidade simplesmente por sentir intuitivamente que não temos espaço interior para contemplá-la. Não precisamos nos vulnerabilizar nos atirando em nossa dor sem cuidado nem proteção, mas podemos nos propor a encará-la gradualmente nos autoacolhendo ao invés de continuamente evitá-la. Abrir-se para si mesmo é ao mesmo tempo um ato de coragem e autocompaixão.

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