ASSOCIAÇÃO DOS POLIMORFISMOS DO GENE LGALS3 COM ÚLCERA DE MEMBROS INFERIORES EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME
Por: Luana Tais • 19/12/2018 • Projeto de pesquisa • 4.254 Palavras (18 Páginas) • 309 Visualizações
UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
ASSOCIAÇÃO DOS POLIMORFISMOS DO GENE LGALS3 COM ÚLCERA DE MEMBROS INFERIORES EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME
Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti
Co-orientadora: Dra. Taciana Furtado de Mendonça Belmont
Estudante: Luana Taís Bezerra Silva
Recife
2016[pic 1][pic 2][pic 3][pic 4][pic 5][pic 6]
RESUMO
Anemia falciforme (AF) é uma doença genética hereditária causada por uma mutação de ponto, substituindo o aminoácido ácido glutâmico pela valina na posição 6 da cadeia β-globina. Desta troca, resulta a polimerização da Hb, em baixas tensões de oxigênio, o que torna o eritrócito rígido e em forma de foice, diminuindo sua flexibilidade e, consequentemente, a passagem destes eritrócitos falcizados, através da microcirculação, levando a fenômenos vaso-oclusivos, hemólise, dano tecidual e surgimento de úlcera de membros inferiores (UMIs). Os pacientes com AF apresentam manifestações inflamatórias, ocasionadas por diferentes fatores interligados que se retroalimentam, formando um constante ciclo inflamatório. A galectina-3 (gal-3) é uma proteína multifuncional envolvida em diversos processos biológicos, incluindo inflamação, apoptose e adesão celular. Estas ocorrências estão frequentes em pacientes com AF. O objetivo foi determinar as frequências alélicas e genotípicas dos SNPs das regiões +191 e +292 do gene LGALS3 e verificar sua associação com a susceptibilidade à ocorrência de úlcera de membros inferiores (UMIs) em
pacientes com anemia falciforme (AF). METODOLOGIA: Foram avaliados, até o presente momento, prontuários de 339 pacientes com AF, acima de 18 anos, classificados de acordo com a presença/histórico ou ausência de UMI. Destes, 134 pacientes apresentaram lesões conclusivas de UMI, definindo o grupo caso, e 205 pacientes, que nunca apresentaram UMI, definindo o grupo controle. Em paralelo, foram realizadas extrações do DNA genômico a partir dos leucócitos, pela técnica de fenol clorofórmio. A detecção dos polimorfismos +191 (rs4644) e +292 (rs4652) do gene LGALS3 será realizada por PCR em tempo real. A análise estatística dos dados será realizada pelo programa GrandPad Prism 6.0, utilizando-se os testes apropriado para cada análise. RESULTADOS: Dentre as variáveis clinicas e laboratoriais, o grupo de casos apresentam a maior faixa de idade 36 (18-81) (p= 0,0001). O sexo masculino (55%) foi mais prevalente nos pacientes com UMI (p=0,0074). Níveis mais elevados de hemoglobina S (HbS) (p=0,0015), bilirrubina total (BT) (p= 0,0065), e aspartato aminotransferase (AST) (p= 0,0495) estão associados com a presença de UMI. No grupo controle, foi observado um maior nível de hemoglobina fetal (HbF) (p= 0,0017), hemoglobina A (HbA) (p=0,0055) e hematócrito (Ht) (p= 0,0020), quando comparado com os casos.
Palavras-chave: Anemia falciforme, galectina-3, LGALS3, polimorfismo, úlcera de membros inferiores.
1 INTRODUÇÃO[pic 7][pic 8]
A anemia falciforme (AF) é uma doença genética hereditária, causada por uma anormalidade na Hb, presente nos eritrócitos, onde ocorre uma substituição de uma base nitrogenada adenina (A) para timina (T) (GAG →GTG), resultando na troca do ácido glutâmico (Glu) pela valina (Val) na posição 6 da cadeia β-globina. Assim, a hemoglobina A (HbA) é substituída por uma Hb anormal (HbS). Desta troca, resulta a polimerização da Hb, em baixas tensões de oxigênio, em longas fibras, formando um gel, o que torna o eritrócito rígido e em forma de foice, diminuindo sua flexibilidade e, assim, dificultando sua passagem através da microcirculação (BRIEHL, 1995; MARQUES et al., 2012; ARAÚJO et al., 2014).
A maior prevalência da HbS ocorre na África e entre os negros, principalmente nos países que participaram do tráfico de escravos. No Brasil, estima-se, e que pelo menos dois milhões de indivíduos são portadores da HbS em heterozigose (HbAS). No Brasil, nascem cerca de 200.000 HbAS e de 700 a 1000 com AF (HbSS), a proporção de nascidos vivos HbAS no estado de Pernambuco é de 1:21. No Brasil, 78,6% dos óbitos devido à doença ocorreram até os 29 anos de idade, e 37,5% concentraram-se em menores de 9 anos. (LOUREIRO; ROZENFELD, 2005; FELIX et al., 2010; SILVA, 2012;). Nos estados Brasileiros que concentram a maior parte da população negra do país, tais como a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Minas Gerais, à partir de dados da triagem neonatal, indicam as mais altas incidências de AF (JESUS, 2010; DIAS, 2013).
AF caracteriza-se por manifestações inflamatórias crônicas, decorrentes de diversos fatores que se interligam e se retroalimentam, formando um ciclo inflamatório permanente. De fato, a gênese de seus eventos clínicos é ligada a três mecanismos inter-relacionados: 1) a adesão de eritrócitos, granulócitos, monócitos e plaquetas ao endotélio vascular; 2) fenômenos inflamatórios crônicos, exacerbados por episódios agudos e produção de intermediários inflamatórios, como citocinas; 3) alterações do metabolismo de óxido nítrico (ZAGO; PINTO, 2007).
A ocorrência de vaso-oclusões, processos de isquemia-reperfusão e consequente ativação do endotélio vascular, induzem a contínuas respostas inflamatórias na AF. Estes fenômenos, juntamente com a hemólise, representam os eventos fisiopatológicos que possivelmente determinam a origem da maioria dos sinais e sintomas presentes nestes pacientes, tais como úlcera de membros inferiores (UMIs), entre outros (CONRAN et al., 2009).
A UMIs é uma complicação que acomete em 8-10% dos pacientes com AF, podendo atingir cerca de 50% dos que residem em áreas tropicais, além disso, é predominante no sexo masculino e em criança com AF acima dos 10 anos de idade. A UMI pode incapacitar o paciente e tem como surgimento associado a pequenos traumas, que vão desde as picadas de insetos a cortes e arranhões, também, podendo aparecer sem causa identificada (PALADINO, 2007; STEINBERG, 2008; ARAGÃO, 2015). Esta complicação que ocorre devido a vaso-oclusão, hipóxia tecidual, hemólise e fatores genéticos, apresenta cicatrização lenta e alta taxa de recorrência. Como no processo de vaso-oclusão, ocorre a liberação de fatores mediadores da inflamação capazes de promover a adesão de eritrócitos e reticulócitos ao endotélio, diminuindo o fluxo de sangue e provocando danos tecidual, é possível que proteínas envolvidas na modulação da inflamação estejam envolvidas neste processo (SERJEANT et al., 2005; PALADINO, 2007; MINNITI et al., 2010).
...