HISTÓRIA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: UM BALANÇO PRÉVIO E NECESSÁRIO
Por: Luna Porto • 15/11/2016 • Artigo • 7.996 Palavras (32 Páginas) • 514 Visualizações
Ecologia Profunda
Freya Mathews
A expressão “ecologia profunda” foi introduzida na literatura através de um pequeno artigo em um obscuro jornal acadêmico no início dos anos 70 (Naess, 173 a). O autor, Arne Naess, foi um professor de filosofia norueguês, que foi conhecido na Noruega por seu ativismo político, mas virtualmente desconhecido, fora dos estritos círculos acadêmicos. Apesar disso, atualmente “ecologia profunda” é uma expressão que detém um prestigio e um amplo carisma no movimento ambiental internacional. Qual é a história anterior dessa expressão e como alcançou importância?
Não é possível explicar simplesmente a ecologia profunda de um modo definitivo, por duas razões:
[a] primeiro, em função das sucessivas revisões que sofreu desde a proposta original de seus expoentes;
[b] segundo, porque seu significado foi sendo assimilado pela cultura popular.
Essas diversas formas que tomou contribuíram para que a “ecologia profunda” tenha se tornado popular.
Entretanto, qualquer exposição sobre ela deve começar pela formulação original fornecida por Naess em seu artigo de 1973. No início do artigo Naess apresenta a distinção entre:
[a] “ecologia superficial”;
[b] “ecologia profunda”.
Segundo Naess, a “ecologia superficial” se caracteriza como um movimento que se preocupa, exclusivamente, com a poluição e a conservação dos recursos naturais na medida em que elas têm um impacto direto sobre a vida das pessoas e sobre o desenvolvimento das cidades.
Por outro lado, Naess elabora o movimento de “ecologia profunda” a partir de sete princípios, a saber:
[1] uma metafísica das inter-relações;
[2] um ethos do igualitarismo biosférico;
[3] dos valores da diversidade e da simbiose;
[4] uma postura anti-classista;
[5] oposição a poluição e a degradação dos recursos naturais;
[6] do valor da complexidade;
[7] uma ênfase sobre a autonomia local e a descentralização.
Em seu comentário explicativo sobre esses princípios, ele realiza o esboço daquilo que atingiu uma visão ecológica de mundo.
[1] Inter-relacionalidade
Conforme o primeiro princípio, a identidade de cada individuo (qualquer que seja o nível ontológico), não é logicamente independente do resto da realidade, mas tem uma função de relação do individuo em questão com os outros indivíduos. A realidade é vista como fundamentalmente relacional (ecológica), mais do que um agregado, uma estrutura.
[2] Igualitarismo biosférico
A essa metafísica da inter-relacionalidade é acrescentada uma ética da inter-relacionalidade, de acordo com a qual todas as formas de vida são igualmente consideradas como vivas. Em outras palavras, os seres humanos não são moralmente privilegiados de algum modo nesse esquema ecológico – outras formas de vida são tão moralmente consideráveis como nós.
[3] Diversidade e simbiose
Os princípios ecológicos da diversidade e da simbiose são invocados a serviço do igualitarismo ético, pois ao apoiar a base da seleção natural e, desse modo, promover o projeto de vida sobre a terra, esses princípios realçam as oportunidades para todos os seres com vida.
[4] Postura anti-classista
O valor da diversidade é qualificado pelo quarto principio que acrescenta que certas formas não-ecológicas de diferença não são encorajadas, a saber, aquelas diferenças que têm como resultado a não-mutualidade, mas a exploração e supressão de um grupo ou outro.
[5] Contra a degradação
O quinto princípio, contra a poluição e a degradação dos recursos naturais, é incluído na ecologia profunda (como é na ecologia superficial), mas sob a cláusula de que os outros princípios não deveriam estar subordinados a esse – a poluição não deveria ser combatida de modo que excedesse as classes diferentes.
[6] Complexidade
O apelo à complexidade é um chamado ao pensamento ecológico – um argumento para o reconhecimento da inter-relacionalidade ecológica observado sob o primeiro principio. O reconhecimento da interdependência dos elementos incluídos no sistema natural conduz para o reconhecimento da imprevisibilidade da escala dos efeitos de nossas intervenções nesse sistema.
[7] Descentralização
Finalmente, o principio de descentralização é invocado sobre a base de que, em um sistema ecologicamente estável, formas de vida particulares são primariamente vulneráveis as influências de fora do sistema e uma dessas influências de fora provavelmente origina um processo destrutivo. No interesse de promover a integridade dos indivíduos e do sistema, a autonomia local deve ser protegida.
Embora neste artigo os princípios a partir dos quais Naess define a abordagem da “ecologia profunda” sejam apresentados resumidamente, eles apontam para uma visão ecológica de mundo coesa e para algumas implicações éticas e políticas.
A “ecologia profunda” poderia significar:
[1] Que nosso mundo é ecológico, ou seja, relacional, por sua profundidade ontológica;
[2] E que nossa relação com a natureza tem que ser reinterpretada a luz disso.
Quando a “ecologia profunda” é compreendida desse modo, ela converge com uma corrente interdisciplinar de pensamento que foi desenvolvida por volta dos anos 80 e que foi algumas vezes descrita como constituindo um “novo paradigma”.
O “novo paradigma” foi em geral definido em contraste com o “paradigma dominante”, que foi basicamente o paradigma do “Iluminismo Europeu”.
O Iluminismo foi construído sobre a visão cientifica clássica da natureza e da visão liberal de sociedade. A partir da perspectiva do Iluminismo:
[a] O mundo físico foi compreendido em termos mecanicista, como consistindo de um reino inerte com um conjunto de partículas autônomas em movimento segundo as leis cegas da física.
[b] A sociedade humana foi compreendida como um agregado de indivíduos racionais autônomos dirigidos conjuntamente pela lei “cega” do auto-interesse (Mathews, 1991).
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