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Poucas Baleias Muitas Historias

Por:   •  4/8/2015  •  Dissertação  •  1.363 Palavras (6 Páginas)  •  684 Visualizações

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Em princípios do século XX, mesmo diante da redução drástica do número de baleias a aparecer na costa Brasileira, a caça aos grandes “monstros marinhos” continuou ante o olhar de muitos curiosos, habitantes das cidades e povoações que cresciam rapidamente, contornando a extensa região costeira do Brasil, muitas delas como resultado da prática pesqueira. Após tentativa frustrada do governo imperial, nas derradeiras décadas oitocentista, em restaurar as lucrativas e tradicionais armações de desmancho de baleia, no limiar da República os negócios baleeiros estavam consolidado nas mãos de homens destituídos de fortunas ou, de quando em vez, controlados por alguns investidores nacionais, de pequena monta, ou por algumas empresas estrangeiras, notadamente a japonesa.

Na área do Brasil Meridional, após um breve período de inatividade, depois da falência das armações, ocorrida na segunda metade do oitocentos, algumas regiões voltaram a caçar baleias de modo ainda bastante rudimentar, embora inovações fossem implementadas no decorrer dos anos. Exemplo disso foram as povoações de “Lagoinha” (praia de Armação, Florianópolis), Garopaba e Imbituba. As duas primeiras retomaram a matança de animais esporadicamente até a década de 1950, ao passo que a última, a de Imbituba, surpreendentemente, continuou até 1973, em total desrespeito aos acordos internacionais que, desde a década de 1930, conferiam proteção integral às baleias Francas, espécie que mais aparecia por aquelas águas.

Foi também em Imbituba onde experimentaram, a título de inovação, dois artefatos de grande capacidade letal. O primeiro foi a comumente chamada “bombilança”, uma comprida lança, com cabo de madeira, na qual se fixava dinamite e que era cravado nas costas da baleia simultaneamente ao arpão principal, preso à baleeira por uma comprida corda.

Mais tarde, em 1952, uma nova arma, mais mortífera ainda, também foi introduzida na captura de baleias em Imbituba. Dessa vez, o “canhão-arpão”, arma fatal, montado na proa da baleeira, aumentou a capacidade de capturar cetáceos, levando a um pico de eficiência em 1957, com a matança de dez animais, das quais duas foram perdidas em alto mar. A caça nessa região seguiu claudicante e oscilando para baixo, em termos de lucratividade até 1973,

quando a captura de apenas um animal, medindo 14 metros de comprimento, decretou a falência para sempre da indústria baleeira nas águas catarinenses.1

No Rio de Janeiro, principalmente em jurujuba, caçadores de baleia mantiveram a antiga prática de arpoar baleias como sempre fizeram no passado. Algumas informações nos dão conta de que em áreas do litoral paulista, como Bertioga, São Vicente e São Sebastião, a caça de baleias também prosseguiu, porém de maneira modesta. Na realidade, toda a costa brasileira fora devastada pela exploração agressiva da COPESBRA, uma empresa pesqueira, nipo-brasileira, criada em 1910, cuja sede estava localizada em Cabedelo, um povoado de pescadores situado no litoral paraibano.2 Em 75 anos de exploração da costa brasileira, a COPESBRA abateu nada menos de que 22.000 baleias de todas as espécies, conforme os registros deixados pela própria empresa.

E foi lá mesmo, na Paraíba, o último bastião da caça das baleias a cair, em meados da década de 1980. Lá, a caça da baleia industrializada teve início, de modo pioneiro no Nordeste do Brasil, primeiramente em Lucena, em 1911. Foi iniciada pela Cia. de Pesca do Norte do Brasil, que no início consistia em uma fábrica flutuante e só se aproveitava o óleo, sendo a carne e todo resto devolvido ao mar. Em 1912 a fábrica flutuante acabou. Em apenas seis meses, em 1913, foi construída a Companhia de Pesca, que funcionou até a proibição da captura da baleia, em nível nacional, em 1987.3 Fechava-se, dessa maneira, mais um ciclo da caça do cetáceo em áreas brasileiras.

Na Bahia, entretanto, esse processo parece ter sido bem diferente. Nesse estado, não houve implantação de indústria baleeira moderna e, nos parece que no interior da baía de Todos os Santos, as embarcações japonesas da empresa COPESBRA não atuaram de modo efetivo. Desse modo, a caça da baleia no golfo baiano prosseguiu mantendo-se uma prática bastante semelhante àquela praticada nos séculos passados, inclusive com o uso de embarcações típicas do oitocentos. Memórias de muitos habitantes da capital e do interior retratam de forma impressionante um espetáculo visto a olhos nu, de vários ângulos da baía de Todos os Santos. Também são as lembranças fragmentadas de antigos caçadores de baleia e de moradores de povoados, onde tradicionalmente se desmanchavam cetáceos, que fornecem preciosos detalhes sobre a antiga forma de se matar baleias, prática persistente em pleno século XX.

Na povoação do Manguinho, situada na Ilha de Itaparica, um dos últimos locais da Bahia a manter funcionando as indústrias baleeiras, ainda se era possível colher notícias orais, do tempo de caça do cetáceo, por volta da década de 1990. Dentre alguns importantes depoimentos, destaquemos um pequeno trecho do Sr. Artur da Costa Lima. Filho de um

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antigo caçador de baleia da localidade e descendente de uma família tradicional Itaparicana, que no século XIX possuía armações de desmancho de baleias em Manguinho,

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