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BELCHORZINHO – UM LOUCO DE RUA DE PATOS DE MINAS

Por:   •  28/4/2016  •  Artigo  •  7.516 Palavras (31 Páginas)  •  615 Visualizações

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BELCHORZINHO – UM LOUCO DE RUA DE PATOS DE MINAS[1]1)

                     MADUREIRA, Renata Fernandes[2]2) 

PINHEIRO, Heitor Rocha de Mendonça[3]3) 

PINHEIRO, Aurélio Rocha de Mendonça[4]4)

RESUMO: Este trabalho focou a humanização dos trabalhos de enfermagem junto às pessoas com sofrimento mental como uma alternativa de aumento ou de inserção de qualidade de vida para estes pacientes. Para tanto, procurou-se fazer uma breve retrospectiva do sentido que a loucura alcançou ao longo da história, antes que se tivesse uma concepção dela como a que se tem hoje. Além disso, evidenciou a história de vida de um louco de rua da cidade de Patos de Minas, abrangendo a sua relação com a comunidade e, por meio da percepção de alguns entrevistados, procurou-se elaborar sua biografia, definindo, sobretudo, que tipo de relação existia entre este personagem e a comunidade. Constatou-se que, no imaginário popular, a loucura do Belchiorzinho era aceita de forma amigável, demandando uma relação caritativa e assistencialista. No que diz respeito ao enfermeiro na área da saúde mental, considerou-se, por fim, que é indispensável que este busque, no treinamento e na educação continuada, formas de atuação profissional que lhe permitam aliar o tratamento físico ao emocional, tão importante para a recuperação e a reinserção social destes pacientes.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde Mental. Louco de rua. Humanização da enfermagem.

ABSTRACT: This work focuses on the humanization of the nursing tasks with mentally-diseased people as an alternative of improving or inserting quality to these patients' lives. For so, its objective was to do a retrospective of the sense of mental illness along the history before the creation of its today's conception. In addition to this, it showed the life history of a mentally-ill street man from Patos de Minas, it in-depth showed his relation to the community and, for some interviewees' perception, it was elaborated a biography of him defining the mentally-ill street man's existing relation to the community. It was proved by people's imagination that Belchiorzinho's mental sickness was taken friendly and accepted by them, and it is conceptualised as a charity and assistance needed relation. To the nurse's interest practising in the mental diseases area, it was considered that it is indispensable that one searches for continuous specialised training and for professional practices ways that enables one to combine both physical and emotional treatment, which are so important to the mentally-ill patient's recovery and their re-insertion to the society.[pic 2][pic 3]


KEY WORDS: Mental Health, mentally-ill street men, humanization of nursing

1  INTRODUÇÃO

A preocupação de estabelecer conceitos para a loucura tem origem na Antiguidade, tendo sido, ao longo da história, fartamente abordada pela literatura e pela filosofia, antes de tornar-se domínio da medicina. Destaca-se, nesta linha de pensamento, a célebre obra de Erasmo de Rotterdam “Elogio da Loucura”, em que o filósofo humanista critica os conceitos da sua época, propondo uma nova perspectiva para a visão da loucura, para quem ela se assemelha à felicidade:

Todas as coisas são de tal natureza que, quanto mais abundante é a dose de loucura que encerram, tanto maior é o bem que proporcionam aos mortais. Sem alegria, a vida humana nem sequer merece o nome de vida. Mergulharíamos na tristeza todos os nossos dias, se com essa espécie de prazeres não dissipássemos o tédio que parece ter nascido conosco (ROTTERDAM, 1509).

Entretanto, para Foucault (apud Ferraz, 2000), a maneira de o homem lidar com a loucura só tomou forma significativa no século XVIII, uma vez que havia, até então, uma confusão implícita na conceituação entre a loucura e a razão. Isso porque a idéia de razão sempre esteve associada à de lucidez, à clareza de idéias, enquanto a loucura, ao seu oposto.

Nesse sentido, Pereira Neto (1998) analisa que:

Até o final do século XVII, segundo Foucault, loucura e razão não estavam ainda separadas. Não havia um vazio entre elas. Loucura e não-loucura, razão e ‘des-razão’ estariam confusamente implicadas. Para Foucault, durante a Época Moderna, o renascimento científico, associado à filantropia, buscou progressivamente cercar a loucura. Essa tendência se deu dentro da ordem absolutista. Assim ocorreu a passagem da experiência medieval da loucura para a atual, que a confina com o estatuto de doença mental (PEREIRA NETO, 1998, s.p)

É nesse contexto que surge a Psiquiatria, como sendo a “Ciência da Loucura”, mas sem ter ainda se delineado como a ciência que é hoje conhecida, o que só começou a ocorrer no início do Séc. XIX (FERRAZ, 2000). Conforme sintetiza Ferraz (op cit.), nesse momento histórico apontado por Foucault, em que a loucura começou a ganhar conotações científicas, o louco perdeu o lugar que ocupava na sociedade, transformando-se não em um doente passível de tratamento, mas, sim, em um verdadeiro caso de polícia. Assim sendo, o modelo de internação adotado era mais parecido com um procedimento policial que propriamente médico, resultando em uma exclusão sem precedentes. A instituição de reclusão era compreendida como um depósito de loucos, situação que, de acordo com Ferraz (2000, p.87), “demorou mais de um século e meio para que viesse a ser contestada por movimentos que defendessem uma outra visão tanto da doença mental quanto do tratamento”.

O ajustamento social pode ser definido como o reflexo das interações sociais do indivíduo com as outras pessoas, seu desempenho e satisfação nos diversos papéis sociais, que podem ser modificados pela cultura e pela expectativa familiar. Além disso, é preciso ressaltar que os transtornos mentais freqüentemente causam prejuízo ao funcionamento social, trazendo sofrimento para o indivíduo e para os seus familiares (MOREIRA, CRIPPA e ZUARDI, 2002).

Sob essa perspectiva, nos cursos de formação dos profissionais de enfermagem, as aulas de enfermagem psiquiátrica ganham maior relevância, considerando-se que alguns transtornos psiquiátricos exigem cuidados profissionais de maior complexidade técnica e conhecimentos de base científica, visto que, em suas tarefas cotidianas; precisam estar preparados para lidar com pacientes que estejam em estado de sofrimento mental.

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