Doação de Órgão e Tecidos: O papel do enfermeiro na manutenção do potencial doador
Por: ECFlohr • 25/9/2018 • Projeto de pesquisa • 1.636 Palavras (7 Páginas) • 382 Visualizações
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS: O PAPEL DO ENFERMEIRO NA MANUTENÇÃO DO POTENCIAL DOADOR
Ellen Cristina Flohr [1]
Beatriz Murata Murakami [2]
1. INTRODUÇÃO
O transplante de órgãos consiste na terapia de substituição de um órgão essencial, funcional e irreversivelmente acometido. Este processo se inicia com a doação de órgãos de um doador vivo ou falecido; neste contexto iremos tratar do doador falecido em morte encefálica. O número de transplantes efetivos frente a necessidade de órgãos ainda é extremamente insuficiente. Inúmeros fatores concorrem para esta desproporção: recusa familiar, subnotificação de morte encefálica, não detecção do doador, problemas logísticos das equipes de transplantes e por fim o tema de relevância deste estudo, baseado nas contraindicações médicas associadas à inadequada manutenção do potencial doador em morte encefálica. Nessa perspectiva, torna-se mister uma reflexão acurada sobre o papel do enfermeiro e sua equipe no processo de doação e transplante de órgãos.1
O processo de doação e transplante origina-se após a detecção de morte encefálica, notificação aos órgãos competentes e centrais de captação, autorização familiar, manutenção do doador, seguido da avaliação clínica e laboratorial criteriosa para a validação do potencial doador quanto à viabilidade dos órgãos, e efetivação do doador.2
Morte encefálica é definida pela condição neurológica onde há perda irreparável das funções do encéfalo: corticais e tronco encefálico. Caracteriza-se por coma aperceptivo (ausência de movimentos espontâneos e de resposta motora supra espinal), ausência de reflexos do tronco cerebral (pupilar, corneano, óculo-cefálico, vestíbulo-ocular, tosse) e apnéia.3
O diagnóstico de morte cefálica é confirmado pelo médico através de exames clínicos e exames de imagem complementares, cumprindo-se todos os critérios definidos em lei e protocolos específicos. Num contexto geral, o paciente deve apresentar coma aperceptivo de causa conhecida excluindo-se condições fisiopatológicas, instabilidade hemodinâmica e metabólica, uso de fármacos sedativos, bloqueadores neuromusculares e intoxicações exógenas.3
As lesões cerebrais irreversíveis decorrentes de Acidente Vascular Encefálico (AVE) e Traumatismo Crânio Encefálico (TCE), totalizam 90% das causas de morte encefálica. Outras, compreendem tumores intracranianos e encefalopatia anóxica pós-parada cardiorrespiratória. A fisiopatologia está relacionada ao aumento da pressão intracraniana por hipóxia e edema, ocasionando herniação transtentorial do tronco, interrompendo completamente a circulação arterial encefálica. 1-3
No Brasil o transplante de órgãos iniciou-se na década de 60, porém a política só foi estruturada e regulamentada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na constituição de 1988. Em 1997 foi publicada a Lei 9.434 que foi a base da política até o ano de 2017, quando o decreto federal 9.175 juntamente com a resolução 2.173 do Conselho Federal de Medicina (CFM), expuseram mudanças em alguns aspectos da legislação anterior. Estas contemplam novas regras para o diagnóstico de morte encefálica, reforçam o consentimento informado da família para a autorização da doação e ainda estabelecem novas diretrizes logísticas, como a inclusão da central nacional no Sistema Brasileiro de Transplantes (SBT) e sua articulação com a Força Aérea Brasileira (FAB) no transporte de órgãos.4
Hoje, o Brasil destaca-se no âmbito internacional por ser o segundo maior país transplantador e também por deter o maior sistema público de transplantes do mundo.4,5
Consonante a isto, ao examinarmos dados estatísticos de 2017 comparados ao ano de 2010 evidenciamos que nos últimos sete anos, houve um aumento considerável no número de transplantes. Dados revelam que o número de doadores efetivos cresceu 69%, passando de 9,9 doadores por milhão de população (pmp), para 16,7 pmp. Em contraste, estimou-se que em 2017 haviam 33.441 pacientes em lista de espera por um transplante, onde 1.930 foram à óbito. Expõem ainda, que dentre os 10.629 potenciais doadores notificados, somente 3.415 transplantes foram efetivados.6
O doador em morte cefálica apresenta diversas repercussões fisiopatológicas deletérias decorrentes da inativação do centro pressórico, hormonal e respiratório. Instabilidade hemodinâmica severa relacionada à hipotensão, diabetes insípido, hipotermia, hipernatremia, acidose metabólica, edema pulmonar, coagulação intravascular disseminada (CIVD) e hiperglicemia, invariavelmente ocorrem nestes indivíduos, contribuindo para a ocorrência de parada cardiorrespiratória. Tal evento não contraindica absolutamente a doação de órgãos, porém é um fator limitante quando houver lesão isquêmica orgânica associada.5,7
Estudos evidenciam que de um modo geral não há sistematização para a condução de protocolos nas unidades de manutenção do potencial doador. Muitos enfermeiros que atuam nestes serviços, possuem um conhecimento científico e preparo insuficiente quanto ao manejo do potencial doador, concernente ao diagnóstico de morte encefálica e suas repercussões fisiológicas, terapias de suporte e cuidados específicos. Do mesmo modo se mostram incapazes de lidar com os conflitos éticos e psicológicos que este processo suscita em todos os membros envolvidos. Além disso, muitos potenciais doadores são perdidos, pelo atraso do diagnóstico de morte encefálica e aspectos administrativos, prejudicando a celeridade de todo o processo. Estes fatores também contribuem de forma direta para a negligência do cuidado pela equipe e atitude negativa da família quanto autorização da doação.1,7,8
O cuidado com o potencial doador tem como objetivo principal manter a viabilidade do órgão até o momento da extração. A assistência prestada é motivada no sentido de reduzir as perdas de doadores, salvar vidas, e melhorar a qualidade de vida do receptor.9
Nesta perspectiva, identificamos a necessidade de se desenvolver novos estudos e evidências científicas que fundamentem e padronizem o cuidado de enfermagem, para que o doador seja bem assistido e desta forma se possa otimizar quantitativa e qualitativamente a oferta de órgãos e o processo de doação e transplante de órgãos.5,10
2. JUSTIFICATIVA
A relevância deste estudo está compreendida quando avaliamos as estatísticas supracitadas, ou seja, a disparidade entre a oferta e demanda de órgãos e sua causalidade. A inadequada manutenção do potencial doador implicará necessariamente na inviabilidade dos órgãos e/ou sobrevida do receptor. Trata-se da segunda maior causa evitável de não efetivação do doador, dependente exclusivamente da qualidade do cuidado prestado pela equipe.
3. OBJETIVOS
Identificar, na literatura científica nacional, artigos que abordem a manutenção do potencial doador de múltiplos órgãos.
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