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A NEUROPSICOLOGIA: HISTÓRIA

Por:   •  7/3/2017  •  Monografia  •  2.955 Palavras (12 Páginas)  •  438 Visualizações

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  1. NEUROPSICOLOGIA: HISTÓRIA

Apesar da Neuropsicologia ter surgido, de fato, em meados do século XX, a necessidade de estabelecer um vínculo entre o cérebro e a mente provém dos antigos egípcios. Seu objetivo é compreender o comportamento humano com base nos estímulos cerebrais. Um fator importante para o desenvolvimento desta área foi a aceitação da Psicologia como uma ciência.

Conforme a ocorrência do desenvolvimento cerebral, a mente e a consciência passarão por processos evolutivos. Assim, pode-se afirmar que o Homo neanderthalensis possuía um sistema nervoso diferente, logo, uma mente diferente. O sepultamento dos mortos é um grande registro arqueológico que demonstra indícios de consciência, pois pode-se reconhecer uma interpretação da morte e do eu. Segundo Richard Leakey (1995, p.148), um dos paleontologistas mais famosos do século XX, “...o sepultamento Neandertal não há muito mais que 100 mil anos (...). Antes de 100 mil anos atrás, não há indício de qualquer tipo de ritual que pudesse indicar consciência reflexiva”.  Isto não quer dizer que não existia consciência, mas sim que foi evoluindo até chegar ao Homo erectus, considerado a primeira mente humana, capacitando-o com habilidades linguísticas, reflexivas e sociais. Foram descobertos em diversos continentes, crânios que passaram pelo processo de trepanação, datados entre 7.000 e 20.000 anos. Com a ausência de registros escritos, não podemos concretizar motivos para tais operações.

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Evolução do crânio humano | Reprodução: Dorling Kindersley

Levando-se em consideração provas documentais, o registro mais antigo sobre o sistema nervoso está no Egito, atribuído ao papiro de Imhotep, sacerdote e médico, escrito aproximadamente em 1.700 a.C, porém, supõe-se que tirou bases em textos do Antigo Império, cerca de 3.000 a.C.  O papiro, descoberto por Edwin Smith, apesar de ter referências ao sobrenatural, por conta da religião politeísta na época, descreve diversos tratamentos e cirurgias para lesões cerebrais, contendo as primeiras discussões sobre o encéfalo, as meninges e a medula espinhal.

Além dos egípcios, vários povos da idade antiga possuíam sua interpretação da relação entre o comportamento e o corpo, mas, o que mais diferenciava suas ideias era a questão de qual órgão seria o responsável pela alma e mente. Muitos acreditavam que era o coração, como os hebreus e os próprios egípcios.  Outros, como Alcmeão de Crotona, representando os gregos, alegavam que o cérebro comandava os pensamentos.  

Na antiga Grécia os responsáveis pela medicina eram os filósofos cientistas. No século V a.C ocorreu a separação entre Ciência e Filosofia, desse modo, as doenças que antes eram vistas através do meio mitológico, passaram a receber olhares mais científicos. A saúde dependia da harmonia entre corpo e alma. Para eles, o encéfalo envolvia a mente e a alma intelectual. As sensações e a alma afetiva se localizavam no coração. Herófilo, médico de Alexandria, é considerado o primeiro anatomista da história, reconhecendo o cérebro como o centro o centro da inteligência e do sistema nervoso.

Cláudio Galeno, um dos mais memoráveis médicos do período pré-medieval, foi de suma importância para os estudos cerebrais. Por cuidar dos ferimentos de gladiadores, podia estudar os efeitos de lesões medulais e cerebrais. Neste período, a dissecação humana era proibida, então seus estudos sobre anatomia eram realizados através de vivissecção, principalmente de macacos.  Para ele, o encéfalo era constituído por duas partes, o cerebrum e o cerebellum. Dizia que o cérebro é o responsável pelas sensações e pela memória, já o cerebelo, estaria relacionado com o controle dos músculos. O pensamento pré-socrático em que o mundo era feito de quatro elementos (fogo, água, terra e ar), serviu para dar origem à concepção dos quatro líquidos essenciais: sangue, fleuma, bile amarela (pituíta) e bile negra (atrabílis), onde, quando em equilíbrio, certificavam que o indivíduo estava com a saúde perfeita. Porém, o desequilíbrio causa as doenças e mudanças de comportamento. Por exemplo, se há predominância no sangue, o indivíduo torna-se otimista, irresponsável e falante. Uma pessoa calma, lenta e impassível estava com predominância na fleuma. Estes são os princípios da psiquiatria e da teoria química utilizada nas atividades do cérebro.

A Igreja Católica possuía grande influência e importância durante a Idade Média, fazendo com que o conhecimento médico fosse desprezado, pois a alma era mais preciosa do que o corpo. Ela tentava adaptar os conhecimentos biológicos para seus próprios ideais. Utilizaram, por exemplo, as ideias de Galeno sobre os ventrículos cerebrais, cujos quais haveriam três, representando a Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

A época da Renascença foi marcada pelos avanços nos estudos da anatomia humana graças à Leonardo da Vinci e Andreas Vesalius. Da Vinci contribuiu com seus desenhos representando o corpo humano e com o molde dos ventrículos cerebrais feito através de cera quente, foi nessa época que descobriram que haviam dois ventrículos em cada hemisfério cerebral, resultando em quatro, desmistificando a crença medieval. Considerado o pai da anatomia moderna, Vesalius publicou sua mais famosa obra, publicada em 1543, De Humani Corporis Fabrica Libri Septem, descreve o modo de como o corpo humano é organizado, rompendo a tradição da dissecação de animais e passando a realizá-la em cadáveres humanos.

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Imagem do livro De corporis humani fabrica libri septem”, Andreas Versalius (1543), página 606

A questão de corpo versus alma começou a motivar novas interpretações sem contar com o fundamento empírico e sim com o método racional entre os séculos XVII e XVIII. O filósofo francês René Descarte, para entender o cérebro, não usou somente as dissecações cerebrais como base. Ele preferiu estudar a lógica para compreender como nosso encéfalo produz o comportamento. Em sua primeira teoria, diz que a mente e o corpo são separados, outrora, interligados. O corpo era apenas uma máquina orgânica, movida pelos reflexos. Já o cérebro ajudaria no trabalho mecânico, nos movimentos, e a atividade mental dependeria da alma. Essa teoria da separação da mente e do corpo é chamada de dualismo cartesiano. Descartes também dizia que a alma é uma entidade livre e imaterial, e o corpo era somente a parte mecânica e material. Mesmo sendo diferentes, um é interligado ao outro, interagindo através da glândula pineal.  As deduções do filósofo não foram aceitas pelos cientistas e médicos da época, porém a ideia de que a mente é separada do corpo mudou o rumo da medicina, que passou a investigar e tratar somente as doenças físicas, e ignorar as doenças psicológicas.

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