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Anemimia Falciforme

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Por:   •  8/5/2014  •  5.476 Palavras (22 Páginas)  •  369 Visualizações

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0021-7557/04/80-05/347

Jornal de Pediatria

Copyright © 2004 by Sociedade Brasileira de Pediatria

ARTIGO

DE

REVISÃO

Anemia falciforme e infecções

Sickle cell disease and infection

Dayana V. P. Di Nuzzo1, Silvana F. Fonseca2

Resumo

Objetivo: A alta prevalência de anemia falciforme em nosso meio e a elevada morbimortalidade por infecções associada a esta condição estimularam a realização deste artigo de revisão. Fonte de dados: Realizamos uma revisão bibliográfica no banco de dados MEDLINE no período de 1986 até 2003. Foram encontradas cerca de 600 referências sobre o tema, sendo selecionados 35 artigos, os quais, aliados a capítulos de dois livros-textos, compuseram esta revisão. Síntese dos dados: Neste artigo, além de informações gerais a respeito da doença falciforme, são abordados alguns tópicos sobre as infecções mais freqüentemente observadas no paciente com anemia falciforme, assim como a profilaxia medicamentosa e imunizações disponíveis. Conclusões: Esta é uma revisão que visa fornecer à comunidade pediátrica informações sobre o binômio anemia falciforme e infecções, a fim de minimizar suas complicações nesta comunidade específica. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5):347-54: Anemia falciforme, infecção, penicilina, imunização. J Pediatr (Rio J). 2004;80(5):347-54: Sickle cell disease, infection, penicillin, immunization.

Abstract

Objective: To discuss the high prevalence of sickle cell disease in our environment and the increased morbidity and mortality as a result of infection associated with this condition.

Sources of data: Review of MEDLINE from 1986 to 2003. We found around 600 references about the subject. Thirty-five journal articles were reviewed, in addition to chapters in two text books. Summary of the findings: We discuss general information concerning sickle cell disease as well as a few topics about the most frequently observed infections in these patients. Drug prophylaxis and immunizations are also covered. Conclusions: This review hopes to provide the pediatric community with information concerning the association between sickle cell disease and infections, so as to minimize the occurrence of complications.

A doença falciforme

Doença de caráter genético, descrita pela primeira vez em 1910 por Herrick 1,2 , freqüente, mas não exclusiva, em indivíduos de origem africana, é originada por uma mutação no cromossomo 11 2 que resulta na substituição de um ácido glutâmico pela valina na posição 6 da extremidade N-terminal na cadeia ß da globina, dando origem à hemoglobina S. Os eritrócitos cujo conteúdo predominante é a hemoglobina S assumem, em condições de hipóxia, forma semelhante à de uma foice – daí o nome falciforme –, decorrente da polimerização da hemoglobina S 3,4 . Os glóbulos vermelhos em forma de foice não circulam adequadamente na microcirculação, resultando tanto em obstrução do fluxo sangüíneo capilar como em sua própria destruição precoce. Este mecanismo fisiopatológico acarreta graves manifestações clínicas, com maior freqüência após os 3 meses de idade (Tabela 1) 3. Durante os 6 primeiros meses de vida, esses

indivíduos são geralmente assintomáticos devido aos altos níveis de hemoglobina F1. O gene da hemoglobina S é um gene de alta freqüência em toda a América, e no Brasil é mais freqüente nas regiões sudeste e nordeste5. Na África Equatorial, 40% da população é portadora, e a doença falciforme atinge uma prevalência de 2 a 3% da população1. As hemoglobinopatias constituem uma das principais e mais freqüentes doenças genéticas que acometem seres humanos; e, dentre elas, a anemia falciforme é a doença hereditária mais prevalente no Brasil5,6, chegando a acometer 0,1 a 0,3% da população negróide, com tendência a atingir parcela cada vez mais significativa da população, devido ao alto grau de miscigenação em nosso país5. De fato, estudos populacionais têm demonstrado a crescente presença de hemoglobina S em indivíduos caucasóides6.

1. Pediatra. Professora substituta da disciplina de Medicina da Adolescência, Departamento de Pediatria, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, BA. 2. Hematologista infantil. Professora adjunta, UFBA, Salvador, BA. Este artigo é dedicado a Maria de Lourdes Santos Pardo - in memoriam. Artigo submetido em 16.01.04, aceito em 31.03.04.

Como citar este artigo: Di Nuzzo DVP, Fonseca SF. Anemia falciforme e infecções. J Pediatr (Rio J). 2004;80:347-54.

347

348 Jornal de Pediatria - Vol. 80, Nº5, 2004

Tabela 1 - Manifestações clínicas da doença falciforme Vaso-oclusão Necrose avascular da medula óssea (crises álgicas/síndrome mãopé/necrose da cabeça do fêmur) Filtração esplênica alterada (aumento do

risco de infecções por germes encapsulados) Fibrose esplênica progressiva Osteomielite Síndrome torácica aguda Vasculopatia cutânea (úlceras crônicas) Priapismo Retinopatias proliferativas Acidente vascular encefálico Acometimento renal (tubulopatia/insuficiência renal crônica) Seqüestro de glóbulos vermelhos (agudo ou crônico) Crescimento e desenvolvimento puberal atrasados Hemólise Anemia (Hb entre 6 e 9 g/100 ml) Hiperbilirrubinemia, icterícia e pigmento biliar Expansão da medula óssea Crise de aplasia induzida pelo parvovírus humano B19 Adaptada1,2,4

Anemia falciforme e infecções – Di Nuzzo DVP e Fonseca SF

Doença falciforme e infecção

As infecções são as complicações mais freqüentes nos indivíduos com anemia falciforme1. Observa-se, na primeira infância, uma esplenomegalia decorrente da congestão na polpa vermelha pelo seqüestro de eritrócitos falcizados nos cordões esplênicos e sinusóides, que evolui com a formação de trombose e infartos, culminando com a atrofia e fibrose do órgão. Este fenômeno, denominado de auto-esplenectomia, ocorre geralmente até os 5 anos de idade7,8. Entretanto, mesmo antes da autoesplenectomia, a capacidade fagocítica mediada por opsoninas e a produção de anticorpos são afetadas em conseqüência da persistente agressão esplênica9, levando à asplenia funcional, que se torna permanente em torno do

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