Narrativa
Seminário: Narrativa. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Divinum • 30/3/2014 • Seminário • 830 Palavras (4 Páginas) • 610 Visualizações
Na Ilíada, uma das mais belas e antigas narrativas da história, heróis travam guerras épicas sem conseguir escapar de seus fins trágicos, traçados pela lei do destino. Destino que sempre foi controlado pelo maior dos deuses: o autor. Dos poemas gregos às telenovelas, ele sempre esteve presente, desenhando o fio da história. Mas agora a narrativa de simples contos ou fatos passa por uma revolução: no videogame o personagem escolhe seu destino. O Aquiles moderno escapou da linearidade. E, independente do seu criador, pode morrer lutando ou então se casar e ter filhos.
O videogame, ou jogo digital, é a nova face da arte de contar uma história. Suas qualidades lúdicas se apropriam da linguagem hipertextual: imersão, interatividade e conteúdo multimídia. Sua narrativa pode se adaptar às decisões do jogador/leitor de tal forma que é preciso perguntar: Se o personagem tem liberdade em sua própria história, então qual a função do autor? A narração digital irá matar o roteiro?
Qualquer julgamento é precipitado. Mas é bom lembrar que a modernidade da narração digital resgata a flexibilidade dos contos orais, que têm como característica o contato direto entre o autor e seu público. Enquanto a história progride, o autor ou contador de história se certifica da reação de seus ouvintes, percebendo quais passagens geram mais interesse e adaptando seu enredo de acordo. Porém, essa flexibilidade se perdeu nos impressos, nos filmes e em outros produtos audiovisuais.
Os primeiros videogames, surgidos na década de 1970, não resgatam de imediato a fluidez das histórias orais, embora introduzam um enredo próprio cujo resultado depende da ação do jogador.
A partir do Colossal Cave Adventure, de 1975, surgiram as ficções interativas, que são versões digitais dos livros-jogos – em que é possível chegar ao final escolhendo os caminhos distintos ou mesmo morrer tentando chegar ao fim. Os primeiros jogos digitais de RPG (jogos de interpretação de personagens) permitiram ao jogador a imersão em histórias complexas, apesar de ainda limitadas pela programação. “O que chamamos de interativo é visto por Raymond Williams, acadêmico galês que pesquisou a interação na mídia televisiva, apenas como reativo, ou seja, uma escolha entre opções preestabelecidas”, alerta Julia Stateri, designer e mestra com especialização em narrativa dos videogames. “Interatividade implica escolhas não programadas”, diz ela.
Uma narrativa livre, interativa e colaborativa surge com os MMORPGS (jogos on-line de RPG para múltiplos jogadores). São games sem roteiros lineares, em que é oferecido basicamente um cenário. Cabe ao jogador escolher o que irá fazer e criar a própria história. “O autor, contudo, não morreu”, explica Roger Tavares, pesquisador do Centro Universitário Senac, doutor com especialização em videogames e fundador da comunidade virtual Gamecultura (gamecultura.com.br). “O segredo está em dar ferramentas para a atuação do jogador, mas sabendo limitar suas ações. Senão todos seriam invencíveis. O jogo precisa dessa diferença de potencial, de você receber ora prêmios, ora punições”, diz Tavares.
Câmbio
Essa criação coautoral dos jogos digitais provém da cibercultura. As primeiras teorias da comunicação definiam que um emissor envia uma mensagem
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