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O Personagem De Egri

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Por:   •  28/2/2014  •  1.813 Palavras (8 Páginas)  •  1.141 Visualizações

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Modelo para biografia de personagem

Lajos Egri

Este é um texto clássico na literatura sobre dramaturgia. Que eu saiba, pela primeira vez criou-se um modelo de ficha biográfica para personagens. Ao ler a descrição de Irene deve-se ter em mente que o modelo de drama para Egri é Ibsen. Isto fica evidente no uso de um determinismo familiar que chega até à fisiologia. Mas sua visão naturalista -e marxista também- ainda é um ótimo ponto de partida para compreender as múltiplas motivações que podem estar por trás das ações de uma personagem. Apesar de datado em sua moral, os aspectos repertoriados por Egri obrigam a desenvolver uma visão multidimensional da personagem. O único aspecto que eu acrescentaria à sua lista é o medo: definir o medo de uma personagem é tão importante quanto encontrar a sua ambição. Mais uma observação. Egri não está preocupado em ser original, mas sim em demonstrar um método. Leiam este texto apenas como um ponto de partida, o início de um processo incessante de reescrita ao final do qual, quem sabe, algo interessante pode aparecer.

Vamos parar agora, congelar um ser humano e deixa-lo imóvel. Vamos analisar detidamente a garota que abandonou uma família religiosa para se tornar uma prostituta. Não é suficiente dizer que certas forças causaram sua degeneração. Houve forças, é claro, mas quais foram? Alguma força sobrenatural a guiou? Ela honestamente considerou a prostituição promissora? Dificilmente. Ela leu e ouviu de seus pais ou do pastor na igreja, que a prostituição é um mal terrível da sociedade, repleto de incertezas, doenças e horror. Ela sabia que uma prostituta é caçada pela lei, explorada por cafetões, que tanto seus clientes como seus senhores, vão tirar vantagens e que, ao final, a espera uma morte solitária e miserável.

É quase impossível uma garota normal, de boa família, querer tornar-se uma prostituta. No entanto, esta se tornou uma prostituta e outras também.

Para compreender as razões para a ação dessa garota nós precisamos entendê-la completamente. Só então poderemos perceber as contradições internas e externas a ela, e, através destas contradições, o movimento que é a vida.

Vamos chamar essa garota Irene; esta é a estrutura óssea do caráter de Irene:

FISIOLOGIA

Sexo: Feminino.

Idade: Dezenove.

Altura: 1,55 metros.

Peso: 49 quilos.

Cor do cabelo: Castanho escuro.

Cor dos olhos: Castanhos.

Pele: Lisa.

Postura: Ereta.

Aparência: Atraente.

Estilo: Muito arrumado.

Saúde: Ela fez uma operação de apêndice quando tinha 15 anos. É muito suscetível a resfriados, e toda a família tem um medo mórbido que fique tuberculosa. Ela parece não dar atenção, mas na verdade está convencida que vai morrer cedo e quer aproveitar a vida enquanto pode.

Marcas de nascimento: Nenhuma.

Anormalidade: Nenhuma, se não levarmos em conta a sua hipersensitividade.

Hereditariedade: Uma constituição frágil que herdou de sua mãe.

SOCIOLOGIA

Classe: Classe média. Sua família vive confortavelmente. Seu pai tem um mercadinho, mas a competição tem tornado sua vida insuportável. Ele teme ser ultrapassado por pessoas mais jovens. Este medo ainda vai se tornar realidade, mas ele nunca vai incomodar sua família com isso.

Ocupação: Nenhuma. Irene deveria ajudar nos serviços domésticos, mas ela prefere ler e deixa o trabalho cair nas costas de sua irmã mais nova, Sylvia.

Educação: Colegial. Ela queria largar no segundo ano, mas a insistência e ameaças de seus pais a fizeram terminar o curso. Ela nunca gostou da escola ou de estudar. Não conseguia entender matemática ou geografia, mas

gostava de história. A ousadia, os casos de amor, as traições a fascinavam. Ela lia muita história, mas como se fosse uma ficção. Datas e nomes não tinham importância e apenas o glamour a interessava. Sua memória era fraca e seus hábitos desleixados de trabalho levavam a constantes conflitos com seus professores. Sua boa aparência física não se refletia nas suas desamarradas e mal escritas composições. Terminar o colegial foi o dia mais feliz de sua vida.

Vida familiar: Os seus dois pais estão vivos. Sua mãe tem 48 anos e seu pai, 52. Eles se casaram tarde. A vida de sua mãe foi muito turbulenta. Ela teve um namorado durante dois anos e meio, ao final dos quais foi trocada por outra. Ela tentou se matar. Seu irmão a encontrou tentando se asfixiar com gás no banheiro. Teve um colapso nervoso e foi enviada para se curar na casa de uma tia. Depois, ficou nesta casa durante um ano, recuperou sua saúde e encontrou o homem que agora é seu marido. Eles se tornaram noivos, apesar dela não o amar. Seu desprezo pelos homens a tornou indiferente quanto a personalidade do homem com que se casou. Ele, por outro lado, era um homem bem normal, orgulhoso que uma garota tão bonita aceitasse casar consigo. Ela nunca contou de seu caso com o outro homem, mas também não se preocupou que ele descobrisse. Ele nunca o fez, já que não se importava com o passado dela. Ela a amava, ainda que no início ela fosse uma esposa muito pouco aplicada.

Depois do nascimento de Irene, ela mudou completamente. Se interessou pela casa, pela criança e até por seu marido. Mas agora os cálculos de sua vesícula biliar, que a incomodaram durante vários anos, só poderão ser retirados com uma operação. Ela ficou nervosa e irritável. Não lê mais como antigamente, nem mesmo os jornais. Ela só tem o primário e sonhava com Irene indo para a faculdade. Mas a rejeição de sua filha pelos estudos frustrou sua ambição.

Sua educação foi estupidamente negligenciada e ela atribui seu primeiro mau passo à negligência de seus país. Por isso ela controla de perto cada passo de Irene. Isto leva a constantes discussões entre mãe e filha. Irene odeia ser supervisionada, mas sua mãe insiste que, não apenas esta é uma prerrogativa sua, mas também seu dever sagrado.

O pai de Irene é de descendência escocesa. Ele é frugal, mas faz de tudo para satisfazer as

necessidades de sua família. Irene é sua queridinha. Ele se preocupa com sua saúde e diversas vezes fica a seu lado nas discussões

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