Sistema Sensorial
Monografias: Sistema Sensorial. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 24/11/2014 • 3.774 Palavras (16 Páginas) • 625 Visualizações
8. Sensibilidade proprioceptiva: vestibular
O termo propriocepção foi proposto por Sherrington para designar as aferências sensoriais originadas em músculos e articulações. Essas aferências fornecem informações sobre a posição e movimentos dos membros, permitindo que o sistema nervoso tenha uma “imagem” do corpo no espaço. A inclusão da sensibilidade vestibular como uma modalidade proprioceptiva deve-se à importante inter-relação dessa aferência sensorial com aquelas originadas em músculos e articulações quanto à organização da motricidade. Aferências vestibulares fornecem informações sobre a posição, movimentos lineares e movimentos angulares da cabeça. Essas informações deverão integrar-se àquelas fornecidas por músculos e articulações para que posturas adequadas e movimentos harmoniosos possam ser executados. Além disso, movimentos oculares compensatórios são produzidos a partir de informações vestibulares, constituindo uma série de reflexos denominados reflexos vestíbulo-oculares. O labirinto ósseo é um conjunto de cavidades localizadas na porção petrosa do osso temporal, que abriga as estruturas auditivas e vestibulares. No interior do labirinto ósseo encontra-se o labirinto membranoso, constituído de uma monocamada epitelial, e preenchido com endolinfa. O labirinto vestibular membranoso é composto por dois conjuntos de estruturas: os órgãos otolíticos (sáculo e utrículo) e os canais semicirculares. Os primeiros são responsáveis pela detecção da posição estática da cabeça e de seus movimentos lineares, enquanto os últimos possuem uma estrutura destinada à detecção de movimentos de rotação do segmento cefálico.
Os canais semicirculares são toros que se comunicam entre si por meio de uma câmara, o utrículo. Antes de cada canal penetrar no utrículo, seu diâmetro se duplica formando a ampola, estrutura que abriga o epitélio sensorial. Há um conjunto de três canais semicirculares em cada lado do crânio (denominados anterior, posterior e horizontal), sendo que esses três canais formam, aproximadamente, ângulos retos entre si. O utrículo e o sáculo localizam-se na porção ventromedial do labirinto sendo que o epitélio sensorial (mácula) do utrículo situa-se horizontalmente, enquanto o sáculo possui a mácula localizada em um plano sagital.
Dois tipos de células ciliadas (tipo I e tipo II) são responsáveis pelo processo de transdução sensorial na periferia vestibular. Essas células assemelham-se, no entanto, quanto à organização morfológica desses cílios e ao seu papel funcional. Em geral, os cílios estão imersos em algum tipo de substrato, que fornece um meio cuja inércia favorece a sua deflexão que, como veremos, é o início do processo de transdução. Nos órgãos otolíticos, os cílios das células ciliadas estão envolvidos por uma capa gelatinosa. No utrículo, o epitélio sensorial situa-se sobre o assoalho da câmara com os cílios direcionados verticalmente. No sáculo, o epitélio sensorial situa-se na parede vertical, com os cílios direcionados horizontalmente. A capa gelatinosa que envolve os cílios do epitélio do sáculo e utrículo está impregnada de pequenos cristais de carbonato de cálcio, mais densos que a endolinfa circundante. A mera ação da força gravitacional, agindo sobre esses cristais, será suficiente para defletir os cílios do epitélio sensorial. Além da aceleração da gravidade, que entra em cena devido a mudanças da posição estática da cabeça, os cílios serão também defletidos, devido à inércia dos cristais de cálcio, por acelerações lineares. A deflexão do conjunto de cílios em direção ao cinocílio causa hipopolarização da célula ciliada, enquanto essa célula é hiperpolarizada por deflexões no sentido contrário. A hipopolarização das células ciliadas leva à liberação de um neurotransmissor excitatório, que age sobre a fibra nervosa aferente causando um aumento em sua frequência de descarga.
A disposição dos epitélios sensoriais no sáculo e utrículo faz com que o primeiro seja sensível a movimentos com componentes no plano sagital, enquanto o segundo possa detectar movimentos no plano horizontal. Portanto, qualquer movimento linear complexo poderá ser descrito por meio de suas componentes vetoriais, detectadas separadamente pelos órgãos otolíticos. Nos canais semicirculares, a ampola abriga uma estrutura gelatinosa, a cúpula, que obstrui o canal na região ampular, e na qual os cílios das células ciliadas estão fixados. A rotação de um canal semicircular no sentido horário faz com que a endolinfa que o preenche tenha uma movimento relativo no sentido anti-horário, deformando a cúpula e defletindo os cílios aí imersos. Se a rotação, com velocidade angular constante, continuar por tempo suficiente, a fricção da endolinfa com as paredes do canal semicircular levará ao desaparecimento do movimento relativo entre eles, e à cessação do processo de ativação sensorial. Vemos, portanto, que é a aceleração angular a grandeza detectada pelos canais semicirculares. O processo de transdução sensorial no epitélio dos canais semicirculares é semelhante àquele descrito acima para os órgãos otolíticos.
O fato de haver três canais semicirculares, localizados em planos aproximadamente ortogonais entre si, garante que qualquer rotação da cabeça, em torno de qualquer possível eixo, seja detectada por uma combinação adequada de ativação dos canais. Além disso, as atividades dos dois conjuntos de canais estão vinculadas entre si: o canal anterior de um lado está localizado em um plano aproximadamente paralelo ao canal posterior contralateral, formando o que se denomina de um par sinérgico de canais semicirculares. Também localizam-se em um mesmo plano os canais horizontais de ambos os lados. Temos, portanto, três pares de canais sinérgicos: dois pares do tipo anterior-posterior e um par horizontal-horizontal. Assim, uma rotação da cabeça em um plano paralelo a um único canal semicircular irá ativar aquele canal em um dos lados da cabeça, e inibir o canal sinérgico contralateral, sem produzir qualquer ativação ou inibição dos demais canais semicirculares1. A ativação de um dado canal (e a inibição do canal sinérgico contralateral) será interpretada como uma rotação da cabeça naquele respectivo plano.
Num caso mais complexo, a ativação e a inibição do conjunto de canais, com uma dada combinação de intensidades, serão integradas e interpretadas permitindo a determinação tanto do plano de rotação da cabeça quanto da magnitude e do sentido da aceleração angular. As acelerações angulares que compõem os movimentos da cabeça duram, na maioria das vezes, apenas alguns segundos, ou mesmo frações de segundos. Nesse regime, a frequência de descarga nas fibras aferentes que inervam os canais semicirculares reflete mais de perto, não a aceleração, mas a velocidade angular de rotação da cabeça. A presença de uma frequência basal de descarga nas fibras vestibulares, que pode ser finamente modulada, faz com que o aparelho vestibular seja muito sensível aos respectivos estímulos. Por essa razão, o limiar para a detecção, pelos canais semicirculares, de uma aceleração angular é da ordem de 0,1°/s2, enquanto os órgãos otolíticos podem detectar acelerações lineares da ordem de alguns décimos de milésimos da aceleração da gravidade.
Os corpos celulares das fibras aferentes que inervam o aparelho vestibular localizam-se no gânglio de Scarpa. Os prolongamentos centrais desses neurônios bipolares, cujos prolongamentos periféricos inervam as estruturas vestibulares do labirinto, juntam-se aos axônios que se originam no gânglio espiral da cóclea, constituindo o nervo vestíbulo-coclear, VIII par craniano. A porção vestibular do VIII par projeta-se, no entanto, aos núcleos vestibulares, que ocupam uma extensa porção do tronco cerebral. Esse conjunto de núcleos é composto pelos núcleos vestibulares lateral, inferior, medial e superior. Esses núcleos diferem quanto à sua estrutura citoarquitetônica e também quanto às relações hodológicas que mantêm com outras regiões do sistema nervoso, particularmente a medula espinal, os núcleos oculomotores e o cerebelo.
Dentre as conexões vestibulares destacam-se dois sistemas de grande relevância para a integração sensório-motora: os circuitos vestíbulo-oculares e os circuitos vestíbuloespinais. Circuitos vestíbulo-oculares Os núcleos vestibulares mediais e superiores recebem aferências principalmente dos canais semicirculares, projetando-se, por intermédio do fascículo longitudinal medial, aos núcleos oculomotores, cujos motoneurônios inervam os músculos extrínsecos do olho. Movimentos oculares podem ser iniciados e controlados por diferentes subsistemas neurais, dependendo de sua natureza, voluntária ou reflexa. Por exemplo, os movimentos denominados sacádicos são desencadeados por projeções descendentes aos motoneurônios oculomotores, originadas no campo ocular frontal do córtex cerebral. No entanto, o processamento adequado da informação visual exige uma estabilidade mínima da imagem que é projetada sobre a retina.
Dentre os reflexos que se destinam a manter essa estabilidade destacam-se os reflexos vestíbulo-oculares. Esse conjunto de reflexos é desencadeado por movimentos da cabeça que tenderiam a deslocar a imagem projetada na retina. Movimentos oculares compensatórios são assim deflagrados a partir da informação vestibular, sendo que os olhos tendem a se mover de tal forma a anular o deslocamento da imagem que seria provocado pelo movimento da cabeça. Por exemplo, um movimento de rotação da cabeça para a direita provoca um movimento reflexo dos olhos para a esquerda, com a mesma velocidade angular, de tal forma que, idealmente, a imagem projetada sobre a retina permanece imóvel. Assim, rotações da cabeça detectadas pelos canais semicirculares darão origem a reflexos vestíbulo-oculares, cuja função é organizar os movimentos compensatórios dos olhos, mantendo a estabilidade das imagens retinianas.
O núcleo medial envia também projeções bilaterais aos níveis cervicais da medula espinal, por intermédio do trato vestíbulo-espinal medial. Essas projeções influenciam os motoneurônios medulares que inervam músculos cervicais, participando de reflexos que controlam movimentos do pescoço de maneira correlacionada e sinérgica aos movimentos oculares. É interessante notar que movimentos reflexos do pescoço deflagrados por estimulação vestibular (denominados reflexos vestíbulocólicos) terão influência sobre o próprio sistema vestibular, já que esses movimentos do pescoço serão detectados pelas estruturas labirínticas. Esse sistema de controle é por isso denominado um sistema de retroalimentação em alça fechada, o qual se distingue de um sistema em alça aberta representado pelos circuitos vestíbulooculares. Nesses últimos, a ação vestibular sobre os movimentos oculares não será realimentada ao sistema vestibular, por isso caracterizando um sistema em alça aberta. Circuitos vestíbulo-espinais A porção ventral do núcleo vestibular lateral recebe aferências do utrículo e dos canais semicirculares, contribuindo também para os circuitos vestíbulo-oculares. A porção dorsal desse núcleo, recebendo aferências do cerebelo e da medula espinal, envia projeções ipsilaterais ao corno anterior da medula espinal, por intermédio do trato vestíbulo-espinal lateral. Essas projeções possuem um efeito facilitatório sobre motoneurônios alfa e gama que inervam os músculos dos membros, exercendo uma excitação tônica sobre músculos extensores dos membros inferiores que contribuem na manutenção da postura fundamental. O núcleo vestibular inferior recebe aferências tanto dos canais semicirculares quanto do sáculo e utrículo, além de projeções cerebelares. Suas projeções incluem circuitos vestíbulo-espinais, integrando aferências vestibulares e cerebelares. Existem evidências de que as conexões nesses circuitos aqui descritos apresentem um elevado grau de plasticidade, envolvendo rearranjos dos circuitos sinápticos que organizam os reflexos vestibulares. Essa plasticidade participa, por exemplo, na recuperação de patologias que envolvem o sistema vestibular, e também na adaptação a ambientes distintos do habitual, por exemplo como aquele encontrado por astronautas na ausência de campos gravitacionais. Uma pequena porcentagem de aferências vestibulares alcançam o núcleo ventral posterior do tálamo, projetando-se daí para o córtex somatosensorial. Essa projeção pode estar envolvida na percepção consciente de determinados aspectos da posição e dos movimentos do corpo processados pelo sistema vestibular.
9. Sensibilidade proprioceptiva: articular e muscular
Sensibilidade articular
Diferentes tipos de mecanoceptores estão localizados nas cápsulas das articulações. Esses receptores, além de sua morfologia, diferem quanto a aspectos funcionais, como limiares e velocidades de adaptação. Receptores de adaptação lenta são propícios para a detecção de posições da articulação, enquanto os de adaptação rápida são mais sensíveis à velocidade e aceleração dos movimentos articulares. A percepção que temos da posição e dos movimentos de nossos membros é denominada cinestesia. Durante muito tempo acreditou-se que as informações originadas nas articulações fossem as principais responsáveis pela percepção cinestésica. Evidências anatômicas e fisiológicas têm indicado, entretanto, que a sensibilidade muscular também contribui para a percepção cinestésica. Por exemplo, tem-se verificado que os receptores articulares não são sensíveis aos ângulos intermediários de uma articulação, mas apenas aos ângulos mais extremos. Além disso, indivíduos submetidos à colocação de uma prótese, em substituição a uma articulação, são ainda capazes de perceber as posições do respectivo membro. Enquanto tem-se demonstrado a contribuição da sensibilidade muscular para a cinestesia, uma percepção cinestésica plena depende da integração de informações musculares, articulares e também somestésicas.
As fibras aferentes articulares pertencem aos grupos I e II, e de maneira semelhante às aferências de origem muscular, vão integrar o lemnisco medial, alcançando os núcleos posteriores do tálamo e daí o córtex somestésico. Essas projeções, da mesma forma que as projeções de origem cutânea, são topograficamente organizadas. Além das projeções articulares contribuírem, ao menos parcialmente, na elaboração da percepção cinestésica, a ativação de receptores articulares pode modular a atividade de neurônios motores espinais e corticais, modificando, por exemplo, os limiares de reflexos miotáticos.
Sensibilidade muscular
Duas estruturas fundamentais são relacionadas à sensibilidade muscular: os fusos neuromusculares, responsáveis pela detecção do comprimento de um músculo e das variações desse comprimento ao longo do tempo; e os órgãos tendíneos de Golgi, envolvidos na sinalização da força de contração realizada pelo músculo. Os fusos neuromusculares, arranjados em paralelo com as fibras musculares, são estirados ou encurtados simultaneamente ao estiramento ou encurtamento do músculo, podendo então detectar essas alterações de comprimento.
Os órgãos tendíneos de Golgi localizam-se na inserção tendinosa das fibras musculares, situando-se, portanto, em série com o músculo, o que o torna apropriado para a detecção da força contrátil. Os fusos são constituídos por fibras musculares modificadas, denominadas intrafusais (em contraposição às fibras extrafusais que compõem o músculo propriamente dito), agrupadas em feixes e envoltas por uma cápsula de tecido conjuntivo. Cada fuso, cujo tamanho situa-se entre 5 e 10 mm, é inervado por fibras sensoriais e motoras, sendo essa última inervação principalmente veiculada por motoneurônios g (gama). Já as fibras musculares extrafusais, como vimos, recebem inervação de motoneurônios a (alfa).
Uma terminação periférica da fibra sensorial, enrolando-se em torno da região central de uma fibra intrafusal, forma uma estrutura denominada receptor ânuloespiral, cuja ativação se dá pelo estiramento da fibra intrafusal. Isso acontece pois o estiramento das fibras intrafusais deforma os receptores ânulo-espirais, ativando canais iônicos responsáveis pela gênese de um potencial receptor. A amplitude do potencial receptor, que aumenta com o grau de estiramento, é codificada pela frequência de descarga dos potenciais de ação na fibra sensorial aferente. A sensibilidade das terminações sensoriais ao estiramento pode ser aumentada pela ativação de motoneurônios g. Esses motoneurônios, inervando as extremidades de uma fibra intrafusal, promovem sua contração deformando a região central da fibra e aumentando a sensibilidade das terminações sensoriais.
Em mamíferos, a maioria dos músculos possui fusos neuromusculares, sendo que alguns músculos os possuem em maior densidade como, por exemplo, os músculos das mãos e pés, pescoço, e musculatura extrínseca do olho (alguns mamíferos, como cães e gatos, não possuem fusos neuromusculares nos músculos oculares extrínsecos). Os fusos neuromusculares possuem diferentes tipos de fibras musculares intrafusais, cujas diferenças morfológicas conduzem a diferentes propriedades mecânicas. Dois tipos de fibras sensoriais inervam as fibras intrafusais: as fibras nervosas do grupo Ia formam as terminações primárias, e fibras do grupo II formam as terminações secundárias. Essas duas diferentes inervações estão associadas às diferentes propriedades mecânicas das fibras intrafusais, de tal forma que as fibras Ia são muito mais sensíveis à velocidade de variação do comprimento de um músculo. A descarga nas fibras II aumenta gradualmente com o estiramento do músculo, refletindo essencialmente o comprimento estático do músculo.
Os órgãos tendíneos de Golgi são estruturas encapsuladas com aproximadamente 1 mm de comprimento e localizados na junção entre tendão e músculo. São inervados por fibras sensoriais do grupo Ib, cujas terminações se ramificam em meio às fibras colágenas que compõem a estrutura. O estiramento do órgão tendíneo deforma as terminações nervosas entremeadas em suas fibras colágenas, conduzindo à sua ativação. Uma contração do músculo é muito mais eficaz como causa de um estiramento do órgão tendíneo do que um estiramento passivo do músculo. A razão para isso é que a tensão provocada por um estiramento passivo é absorvida quase completamente pelo músculo, mais complacente que a estrutura conjuntiva do órgão tendíneo. Já durante uma contração muscular, a tensão desenvolvida é diretamente transmitida ao órgão tendíneo de Golgi, conduzindo ao processo de transdução. Vemos, portanto, que o conjunto formado pelos fusos neuromusculares e órgãos tendíneos de Golgi permite que o sistema nervoso seja continuamente suprido com informações sobre o comprimento de um músculo, as variações desse comprimento, e a tensão produzida pela contração muscular. Os principais aspectos envolvidos na detecção e codificação dessas variáveis, tanto na situação de estiramento quanto na de contração de um músculo.
Uma característica fundamental da fisiologia do fuso neuromuscular é o controle eferente mediado pelos motoneurônios g. Uma das consequências mais óbvias desse controle é a manutenção da sensibilidade do fuso durante a contração muscular. Quando um músculo se contrai, seu encurtamento leva a uma diminuição da tensão a qual o fuso está submetido, já que este encontra-se em paralelo com as fibras extrafusais. Portanto, durante uma contração, a atividade do fuso estaria diminuída, senão totalmente abolida. No entanto, a ativação dos motoneurônios g leva à contração das fibras intrafusais, estirando a região central dessas fibras e aumentando, portanto, a sensibilidade dos receptores ânulo-espirais. Enquanto em vertebrados inferiores são os próprios motoneurônios a que inervam as fibras intrafusais, em mamíferos tem-se um controle independente, mediado pelos motoneurônios g, os quais representam cerca de 30% das fibras de uma raiz espinal ventral.
Dois tipos de motoneurônios g alteram seletivamente a sensibilidade estática e dinâmica dos fusos neuromusculares. A estimulação de uma classe de motoneurônios g, denominados motoneurônios g estáticos, aumenta a descarga dos aferentes primários durante um estiramento mantido do músculo. Motoneurônios g dinâmicos, por sua vez, aumentam a resposta produzida durante a fase de estiramento, ou seja, durante alterações do comprimento do músculo. Uma co-ativação g-a garante, assim, que a detecção pelos fusos das variáveis cinemáticas de um músculo seja mantida em uma larga faixa de seu comprimento, mesmo durante o processo de contração. Dessa forma os fusos neuromusculares fornecem informações que contribuem para a execução de ajustes rápidos e dinâmicos do tônus muscular.
As informações fornecidas pelos fusos neuromusculares e órgãos tendíneos de Golgi são utilizadas na organização da motricidade, a qual depende da atividade integrada de diversas regiões do sistema nervoso, desde respostas estereotipadas emitidas pela medula espinhal, até o complexo processamento de informações sensoriais e motoras pelo córtex cerebral. Informações trazidas dos músculos por aferentes Ia alcançam, além de regiões subcorticais e cerebelares, também o córtex somestésico. No entanto, parte dessa organização motora é elaborada já na própria medula espinhal, onde tem origem uma séria de respostas reflexas à ativação dessas vias sensoriais. Fibras Ia fazem conexões monossinápticas excitatórias com motoneurônios a que se destinam ao músculo de origem dessas fibras sensoriais. Excitam também motoneurônios que inervam os músculos agonistas e interneurônios que inibem os antagonistas. Essas conexões fornecem a base anatômica para os aspectos funcionais envolvidos no reflexo miotático, descrito adiante, na seção que trata da integração espinhal da motricidade. O reflexo miotático corresponde à contração de um músculo em resposta ao seu estiramento, constituindo-se no único reflexo monossináptico conhecido em mamíferos. A contração de músculos agonistas e o relaxamento de antagonistas do músculo estirado pode ser explicada pelas conexões anatômicas descritas acima, denominadas de inervação recíproca. Fibras II, as quais partem também dos fusos neuromusculares, fazem conexões polissinápticas com motoneurônios associados ao músculo de origem, estando mais envolvidas no componente tônico do reflexo miotático.
As fibras Ib, que se originam nos órgãos tendíneos de Golgi, projetam-se polissinapticamente sobre motoneurônios que inervam agonistas e antagonistas de seu músculo de origem. Essa inervação, no entanto, é funcionalmente inversa daquela promovida pelas fibras Ia, sendo inibitória sobre os agonistas e excitatória sobre os antagonistas.
10. Sensibilidade interoceptiva especial: mecanocepção, quimiocepção, osmoscepção, termocepção.
Mecanocepção
A mecanocepção é uma via de entrada para a dor neurogênica, e ocorre quando as fibras nervosas convertem eventos mecânicos em impulsos aferentes. Este mecanismo ocorre tanto nos nervos normais como nos nervos com alterações patológicas. Quando fibras nervosas normais são comprimidas ou estiradas experimentalmente, impulsos são gerados a partir do local de stress mecânico.
Movimentos corporais também desencadeiam impulsos nos nervos, tanto em condições normais quanto patológicas. Em indivíduos assintomáticos, a realização do Teste de Tensão do Membro Superior ou neurodinâmico do membro superior gera sintomas de alongamento, dor, formigamento (picadas e agulhamento) e amortecimento. É importante notar que os sintomas são freqüentemente localizados na região do nervo mediano.
Em condição patológica, uma consequência conhecida da lesão nervosa é o aumento da mecanocepção. Isto ocorre quando um stress mecânico aplicado em um nervo lesado gera impulsos e dor mais facilmente que o normal. Pesquisas atuais em pacientes com neuropatia periférica comprovada e outras desordens neurológicas, através de impulsos medidos por técnicas de exames específicos, têm registrado quando a estrutura neural patológica foi estressada mecanicamente.
Estas estruturas foram o nervo mediano e as raízes nervosas dorsais. Duas observações foram particularmente interessantes: os impulsos nervosos correlacionados diretamente com os sintomas, assim como os sintomas, foram provocados pela colocação da estrutura neural específica sob tensão.
Quimiocepção
Dois tipos principais de quimiorreceptores em vertebrados:
– Olfação (associada às estruturas respiratórias)
– Gustação
Terceiro tipo de quimiorreceptor:
– Órgão Vomeronasal (VNO)
Recepção do sinal químico é baseada na ligação temporária de moléculas odoríferas a um receptor específico (uma célula ou órgão quimiossensor).
Com a recepção da molécula sinalizadora, a proteína receptora se deforma e inicia uma cascata de reações químicas que deflagra o impulso nervoso.
Órgão Vomeronasal:
• Receptor encontrado na maioria dos vertebrados exceto peixes e aves.
• Localizado no palato, abaixo da cavidade nasal.
• Respostas a substancias químicas não voláteis presentes nas secreções naturais.
Osmocepção
Termocepção
Termocepção refere-se a percepção de um animal das alterações térmicas do ambiente, geralmente incluído no sentido do tato. A sensibilidade térmica aumenta conforme o organismo se adapta a uma temperatura, sendo assim um organismo adaptado ao calor é mais sensível ao frio e adaptado ao frio é mais sensível ao calor, tanto a curto prazo quanto a longo prazo por predisposições filogenéticas (da espécie) ou ontogenéticas (do organismo durante a vida).
A percepção térmica é fortemente alterada pela temperatura interna do organismo e podem ser alterados por inúmeras doenças. Tanto a febre quanto a hipotermia aumentam muito a sensibilidade ao frio.
Receptores:
As variações térmicas são discriminadas por pelo menos três tipos de receptores sensoriais: receptores do frio, do calor e da dor. Os receptores de dor são estimulados apenas pelos graus extremos de calor ou frio, identificando as sensações de "frio congelante" e de "calor escaldante" com o objetivo de mobilizar o organismo a se esquivar ou se proteger da origem desse estímulo.
Os receptores de frio e de calor estão localizados imediatamente abaixo da pele e espalhados pelo corpo todo inclusive na boca, nariz e orelha. Cada um deles tem um diâmetro estimulatório de um milímetro. Na maior parte das áreas do corpo há três a dez vezes mais receptores de frio que receptores de calor. A área mais sensível com 15 a 25 receptores de frio por cm² são os lábios, enquanto os dedos possuem apenas 3 a 5 receptores de frio por cm² e certas áreas mais amplas do tronco possuem menos de um receptor de frio por cm².
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