O Corpo Passivo
Por: Jean Schmitz • 2/4/2018 • Resenha • 2.505 Palavras (11 Páginas) • 418 Visualizações
Carne e Pedra
Richard Sennett
Introdução
- O corpo Passivo
O livro carne e pedra é uma historia contada através da experiência corporal do povo, de como mulheres e homens se moviam, o que viam e ouviam os odores que atingiam suas narinas, onde comiam seus hábitos de vestir, de banhar-se e a forma que faziam amor, desde a Atenas antiga à Nova York atual. Richard Sennett foi escrevendo a historia sem levar em conta um grande problema contemporâneo, a privação sensorial a que aparentemente estamos condenados pelos projetos arquitetônicos dos mais modernos edifícios, a passividade, a monotonia e o cerceamento táctil que aflige o ambiente urbano.
O livro mostra de inicio, o que a nudez representava para os antigos habitantes de Atenas, no tempo da guerra do Peloponeso, logo após ele foca em Roma, na época do imperador Adriano e conclui a construção do Pantheon.
CAPÍTULO I
Nudez
“O corpo do cidadão na Atenas de Péricles.”
Uma guerra varreu o mundo antigo, em virtude do antagonismo entre as cidades de Atenas e Esparta, em 431 a.C para Tucídides general de Atenas que foi o escritor da Historia da guerra de Peloponeso, essa guerra foi um confronto social e militar. O mesmo considerava que seus valores estavam bem expressos na oração do funeral, feito no inverno de 431 – 430 a.C, por seu líder Péricles, em honra dos mortos nas primeiras batalhas. A oração de funeral de certa forma tentou transformar o luto do país em orgulho, nas palavras do historiador moderno Nicole Loraux. Em artes, os lideres dos jovens guerreiros foram retratados e descritos quase nus, empunhando lanças e apenas protegidos por peças de metal que lhe cobriam as mãos, os guerreiros mais jovens eram acostumados a se meter em lutas esportivos, sempre despidos e não tentavam ferir o oponente, já nas ruas e lugares públicos esses mesmo homens trajavam com roupas largas que expunham seu corpo livremente. Em inicio de um relato Tucídes informa que os espartanos foram os primeiros a participar de jogos nus, a Grécia civilizada fez do corpo exposto um objeto de admiração. Para os antigos habitantes de Atenas se exibir confirmava a sua dignidade como cidadão. Eles tinham a mesma liberdade de ficar nus como a de pensar. Essa Insistência em mostrar ou exibir, marcou as pedras de Atenas, situado no alto do maior prédio construído na época de Péricles, também chamado de promontório, era o templo de Parthenon e poderia ser avistado de qualquer parte de Atenas, nesta época a nudez simbolizava um povo inteiramente à-vontade em sua cidade, eles estavam expostos e felizes, o contrario dos bárbaros, os mesmos vagavam sem objetivo e sem a proteção da pedra, era celebrada por Péricles uma Atenas que reinava a harmonia entre a carne e a pedra.
Na época de Péricles o calor do corpo era a chave da fisiologia humana, os seres que eram capazes de absorver calor e se manter na temperatura ideal do corpo não precisava de roupas, a fisiologia grega justificava direitos desiguais e espaços urbanos diferentes, o que se acentuava na fronteira entre os sexos, pois as mulheres eram tidas como versões mais frias dos homens, então as mesmas não se mostravam nuas na cidade, elas permaneciam dentro de casa, e vestiam túnicas leves que cobriam ate os joelhos, ou linhos rústicos e opacos, até os tornozelos, quando saiam as ruas. Os cidadãos homens tinham a natureza adequada para o debate e a argumentação, a mulher por se manter em cativo do sexo masculino e ser de origem nobre se tornava cada vez mais lento de raciocínio incapaz de se expressar, apto apenas para as tarefas impostas por seus amos. Mas, não era apenas Atenas que adotava essa imagem padronizada de corpo pela qual era a que decidia a forma de tratar as pessoas radicalmente desigual, moldando a organização do espaço, em partes essa imagem idealizada do corpo levou as crises da democracia ateniense.
O CORPO DO CIDADÃO.
A Atenas de Péricles.
Uma forma de entender a cidade que Péricles admirava com grande entusiasmo, então imaginemo-nos em Atenas, durante o primeiro ano de guerra, estamos passeando pelo cemitério onde ele deve ter proferido a Oração do funeral, um lugar que ficava distante pois os gregos temiam que os corpos dos mortos, a poluição causada pelos que haviam morrido violentamente, e que poderia espalhar se quando vagassem sobre a noite. Os grandes muros de Atenas ficaram responsáveis por contar a historia do poderio que a cidade alcançou, desenvolvendo-se originalmente em torno da Acrópole, que era uma coluna de onde se divisava todo o espaço circundante, e em condições de ser defendida mesmo com armas primitivas, essa muralha de proteção foi erguida mil anos antes de Péricles. A cidade estava ligada ao litoral precariamente, em torno de 480 a.C, os persas atacaram Atenas e esses muros existentes os garantiram pouca proteção, por questão de sobrevivência foi preciso enclausurar a cidade. Em 470 ocorreram as fortificações, um dela exigiram um trabalho mais árduo e movimentos mais difíceis, a respeito dos quais a Oração do funeral não se referia. Havia a área rural de Atenas conhecida como “khora”, com um pouco mais de dois mil km, onde tinham plantações de cevada, que não eram utilizadas para a produção de gado bovino, ela só era utilizada para a criação de ovelhas e cabras. Como os demais helênicos, elites da sociedade ocidentais e até mesmo a era moderna, Aristóteles considerava degrade a luta pela sobrevivência material, de fato na antiga Grécia não existia nenhuma palavra que pudesse expressar a noção do trabalho como função social, talvez ate porque a grande massa da população não tivesse alternativa senão trabalhar duramente para garantir o próprio sustento. Em direção ao centro da cidade, havia uma avenida construída cerca de quinhentos anos antes de Péricles, a mesma era orginalmente margeada por vasos gigantescos, quatro séculos depois ela passou a ser ordenado com marcos de pedra, bem menores um sinal crescente na escultura ateniense, na mesma época então, outros tipos de comercio se desenvolveram ao longo dessa avenida que era conhecida como Dromos ou Via das Panatenéias. Havia um espaço romboide a descoberto, que media em cerca de quatro km, que era onde os atenienses praticavam suas atividades financeiras e comerciais, faziam política e homenageavam os seus deuses. No tempo de Péricles havia um casório bem crescido, concentrando-se numa região conhecida como Koile, em geral era construída de pedras e tijolos fabricados em alto fogo, eram casas com um único pavimento, que muitas vezes era utilizado como local de trabalho, abrigando pequenos bazares ou oficinas.
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