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A Resenha do Livro Holocausto

Por:   •  24/8/2019  •  Resenha  •  1.240 Palavras (5 Páginas)  •  258 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA[pic 1]

ESCOLA DE ENFERMAGEM

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ENF011- Enfermagem no Cuidado à Saúde Mental

Discente: Jaianúzia Souza Silva

ARBEX, Daniela. Holocausto Brasileiro. 1 ed. São Paulo: Geração Editorial, 2013.

 O livro-reportagem “Holocausto Brasileiro”, escrito pela jornalista Daniela Arbex, publicado em maio de 2013 pela editora Geração, narra fatos históricos envolvendo brutalidade, desumanidade e torturas praticadas no maior hospício do país, um manicômio localizado na cidade de Barbacena no estado de Minas Gerais, conhecida como Colônia. Recebe a denominação de holocausto, por ter sido palco de muita crueldade, comparado com os que ocorreram com os judeus durante o período nazista, pois assim como os judeus, os pacientes eram encaminhados ao manicômio de Barbacena em vagões de cargas. Os passageiros transportados no chamado “trem de doido” (termo criado pelo escritor Guimarães Rosa), ficavam acuados a espera da ordem dos guardas para descer e se agruparem em fila indiana, sem terem noção de sua localidade ou o motivo de estarem alí, eram  obrigados a entregar seus pertences, realizar banho coletivo (tipo de desinfecção) e terem a cabeça raspada (homens) como ocorria com os judeus nos campos de concentrações.

O colônia teve sua inauguração em 1903, sendo cenário do maior genocídio do Brasil, por computar 60 mil mortes entre 1903 e 1980 de homens, mulheres e crianças, sendo o período mais escuro da história o intervalo 1930 e 1980. Nessa época a maioria das pessoas eram internadas sem terem sintomas ou diagnóstico de insanidade e/ou loucura (70% das pessoas), ou seja, bastava um simples atestado médico, e isso era assegurado pelo decreto 24.559 de 1934, que previa o recolhimento de pacientes a hospital psiquiátrico. As pessoas simplesmente eram internadas pelo fato de serem um problema, como moças que engravidavam dos patrões após serem estrupadas, jovens que perdiam a virgindade antes do casamento, por ser extremamente tímidas, por não possuírem nenhum documento, por serem esposas de homens que queriam conviver com as amantes, por se rebelarem diante da família ou da sociedade em busca de direito ou dignidade como a história de Conceição Machado que foi enviada para o hospital por reivindicar ao pai a mesma remuneração que recebiam seus irmãos, ou simplesmente por não serem dignas de compor a sociedade por serem alcoolistas, prostitutas ou homossexuais, além de outros motivos que não se associavam em nada com loucura ou qualquer outra doença mental.

 Analizando a narrativa dos fatos ocorridos no colônia, fica nítido que o local era um depósito de seres humanos e esses sofriam as piores atrocidades possíveis sem qualquer diagnóstico que justificasse sua internação. Uma vez na instituição, os pacientes sofriam com os maus tratos e procedimentos como lobotomia (intervenção cirúrgica que consistiam em desligar os lobos frontais direito e esquerdo de todo o encéfalo, visando modificar o comportamento ou curar doenças mentais), que segundo MASIERO (2003) a mesma chegou ao Brasil a partir da década de 1930, sendo mais utilizada nas instituições entre 1936 e 1956; eletrochoques, fome, frio, doença e violência sexual. Tais atos ocasionavam várias mortes por dia, chegando essas a 16 mortes em um único dia. Isso acabou se tornando um grande comércio de lucro para a instituição uma vez que os corpos eram vendidos para as faculdades de medicina em todo país como material de estudo, tendo essa sua dignidade retirada até após a morte por um valor estipulado pelo IGP-DI (Índice Geral de preço) por R$ 200 e quando não foram mais uteis para as faculdades, foram decompostos em ácidos na frente dos outros pacientes no pátio do colônia de modo a comercializar as ossadas. Mais de 1.800 corpos foram vendidos pelo colônia entre 1969 e 1980.

Ao ver as imagens (maioria tiradas pelo fotografo Luiz Alfredo, reporter fotográfico da revista O Cruzeiro na época), assistir o documentário “Em nome da razão” feito por Helvécio Ratton e ler as narrativas dos personagens que vivenciaram as atrocidades daquela época, o sentimento que nasce é de indignação e revolta, por perceber a capacidade que profissionais, portadores do conhecimento científico, possuem em colocar os interesses políticos, por mais absurdos que sejam, acima da dignidade humana, como mostrado ao longo do livro, pessoas andando completamente nuas, com frio, dormindo em palhas, se alimentando de ratos, pombos e até bebendo água de esgotos, sem falar na dor das mães que tiveram seus filhos arrancados dos seus braços, e das jovens abusadas e encarceradas naquele local pelo fato de terem engravidado, pelos jovens que nunca tiveram a chance de conhecer e conviver com sua verdadeira mãe, as mães que entregaram seus filhos a própria sorte do colônia por achar que o mesmo melhoraria e retornaria para casa. O que mais assusta, é que se pararmos para pensar, a culpa não é apenas dos funcionários, mas também, da própria sociedade que compactua, a partir do momento em que omite. O que consola diante das barbaridades, são as tentativas de amenizar a “tragédia”, por alguns funcionários, com pequenos gestos, como usar seu próprio salário para comprar latas de leite para amenizar a fome das crianças internas, a carta de pedido de socorro de uma mãe, entregue ao filho, mesmo sabendo que isto poderia culminar na sua demissão, o casamento realizado na residência terapêutica, com tudo o que era de direito do casal, e o reencontro da mãe com o filho, chefe da banda do batalhão do Corpo de Bombeiros, e a filha de Sueli, que mesmo tendo descoberto muito tarde a sua verdadeira origem, teve a chance de resgatar a história da mãe, buscando nos prontuários do hospital.

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