Os Horários do Corpo
Por: Heloísa Tenroller • 13/6/2019 • Projeto de pesquisa • 672 Palavras (3 Páginas) • 204 Visualizações
Rio Grande do Sul, 14 de outubro de 2018
IFRS Campus Feliz
Disciplina: Português&Literatura Professor: Marcelo Calixto
Aluno: Heloísa Tenroller Turma: 3TQ
É inevitável e necessário o contato com o grande número de material em todo mundo sobre a II Guerra Mundial e o massacre relacionado a ela, mostrando o quão desumano era a situação e a pertinência de a partir daí ressaltar a dignidade de qualquer ser independente de questões de gênero, cor, patamar social ou religiosidade. A obra Diário da Queda do escritor e jornalista gaúcho Michel Laub acaba mostrando os danos que podem repercutir durante gerações às vítimas desse holocausto.
O esquema de construção textual do livro é dividido entre coisas que sabe sobre o avô, coisas que sabe sobre o pai e coisas que sabe sobre ele mesmo, além de notas para complemento, que de fato não acaba tendo nenhuma importância já que nessa divisão não são assuntos muito filtrados, ele constrói como uma falsa lista, mas muitas vezes a narrativa é contínua, só feita daquela forma por uma necessidade de dizer mais coisas.
A tortura de lembranças do avô é herdada pelo pai e pelo neto, cada um sofrendo à sua maneira e com o fator a mais da geração anterior. O avô escreve 16 diários como uma forma de lidar com todas as informações que adquiriu indo para um novo país depois de conseguir fugir do holocausto, mas sozinho pois o resto de sua família morreu naquele lugar. O pai do personagem narrador cresce nesse ambiente do pai ausente que estava reservando o restante de sua vida a suas obras que foram desencadeadas pela II Guerra, sem mesmo tocar um pouco no assunto de como ele vivia antes da chagada ao Brasil, mas assim o pai teve que ajudar nos negócios da família e colocar de lado qualquer ressentimento do próprio pai ou do massacre que ele presenciou, e deu certo, mas acabou espelhando no seu filho o que aquele episódio mundial podia causar na cabeça das pessoas. O neto a cada fase de sua vida consegue ouvir do pai a explicação histórica de porque não se deve angustiar alguém por uma característica intrínseca e porque era tão importante honrar o judaísmo, mas com isso também dava para perceber a dor do pai. Percebe-se que ele não quer carregar aquilo, mas mesmo tentando se livrar exibe como uma maldição pensar nisso, não importa o tanto que os personagens tenham construído suas vidas normalmente, parece um fardo sempre lembrar da angústia que o holocausto trouxe mas ter que lutar para fazer daquilo uma lembrança que só lembre a honra. No decorrer do enredo vemos outros fatores que vão constituindo a vida do neto, mas o que dá mais sentido à obra é quando ele nos diz que existe uma inviabilidade da experiência humana e que devemos encontrar um sentido para esquecer isso. Isso explica a raiva que o neto sente pelo avô por ter se suicidado, que explode num momento, já que ele já tinha casa, negócio, mulher e filho, então ficava indignado em como isso não dava motivo suficiente para esquecer as outras questões na vida, tendo visto o quanto o pai sofreu por isso.
Regido em primeira pessoa, é o desabafo de alguém – em nenhum momento citado o nome – judeu que sente seus atos sempre voltados a sua raiz religiosa, como um tormento. Talvez o autor quis compartilhar as memórias do avô do personagem principal sobre o que passou em Auschwitz e ainda adicionou pensamentos que necessitavam ser expostos, assim como os outros dois. É importante ressaltar que a questão meio filosófica da inviabilidade da experiência humana é um elemento surpresa que aparece no texto depois de toda a autodepreciação do narrador, e mesmo parecendo uma trama sonolenta e também curiosa, existe um estorvo emocional compartilhado inclusive com os leitores, mesmo não parecendo um objetivo da obra.
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