A Apostila Guaraná
Por: Matheus Souza • 19/6/2019 • Bibliografia • 16.099 Palavras (65 Páginas) • 376 Visualizações
Cultura do Guaranazeiro (Paullinia cupana var. sorbilis)
Prof. Ari de Freitas Hidalgo DPAV / FCA / UFAM
INTRODUÇÃO: O guaranazeiro é uma espécie nativa da região amazônica e durante muitos séculos o seu fruto foi utilizado pelas civilizações indígenas pré-colombianas do norte da América do Sul, devido principalmente às suas propriedades estimulantes e medicinais. Estas propriedades despertaram nos colonizadores da região o interesse na sua domesticação e exploração na forma de plantios racionais.
De acordo com registros históricos a sua área geográfica estava rigorosamente determinada pela mundurucânia (área localizada entre os rios Tapajós, Amazonas, Madeira e a Serra de Parintins, região habitada pelos índios Mundurucus, conquistadores e caçadores de cabeças, sendo ainda encontrado na Venezuela (Orinoco) e Colômbia. A espécie não foi ainda encontrada em estado nativo, estando sempre associada a agrupamentos humanos.
A primeira vez que a espécie foi citada em literatura, o foi em 1669, pelo superior da Companhia de Jesus (Jesuítas) do Maranhão, Frei Betendorf, que o encontrou entre os índios Andirás, no Amazonas. Em 1810, os botânicos Humboldt e Bompland coletaram material botânico para estudo pela primeira vez, quando viajavam pela Venezuela, onde o material era conhecido vulgarmente como cupana. Este material foi descrito e classificado como Paullinia cupana.
Em 1830, Martius coletou material botânico de guaraná na região do Baixo Amazonas e classificou-o como Paullinia sorbilis. Posteriormente, em 1937, Adolpho Ducke verificou a semelhança entre os materiais de Humboldt /Bompland e de Martius, e considerou tratar-se de uma única espécie, com duas variedades, acatando a denominação dada por Humboldt e Bompland (Paullinia cupana) pela regra de prioridade, classificando a variedade do alto Rio Negro como P. cupana var. cupana e a variedade do Baixo Amazonas como P. cupana var sorbilis. A denominação Paullinia é uma homenagem ao sábio alemão Christian Franz Paullini; o nome da espécie “cupana” é como os índios do alto Rio Negro denominavam o fruto e o nome da variedade sorbilis deriva do latim, significando "o que se pode sorver".
Paullinia cupana H.B.K. var. cupana (ou typica) quando nova, apresenta folíolos fortemente lobados e recortados e são desprovidas de gavinha em qualquer idade. As flores e os frutos são maiores que na variedade sorbilis; os frutos são acentuadamente obovadopiriformes e vermelho bastante escuro, com pouco brilho. As plantas de P. cupana var. sorbilis, por sua vez, apresentam as seguintes características: Folíolos menos lobados e plantas providas de gavinhas quando adultas; flores ligeiramente menores, frutos com metade a um terço do tamanho da variedade cupana, aproximadamente esféricos, de coloração vermelho brilhante. Tal planta era conhecida vulgarmente como Guaraná.
Dados apresentados pela EMBRAPA (1988) afirmam que o Brasil é o único produtor de guaraná (com registros de pequenos plantios na Venezuela), sendo que o Estado do Amazonas não é mais o maior produtor. O mato Grosso e Bahia são os esrados que vêem apresentando as maiores produções nos últimos anos. O município de Maués é o maior produtor amazonense, com cerca de 2.600 produtores, com aproximadamente 3.120 ha, dos quais foram colhidos, em 1997, 1.800 ha, originando uma produção de 270 toneladas, com produtividade média de 150 Kg/ha. O município de Urucará vem expandindo suas áreas de plantio e já destaca-se como produtor de importância da cultura.
No entanto, face à grande demanda pelo produto, principalmente de países europeus e da América do Norte, diversos outros estados (e países) iniciaram plantios, o que acarretará em futuros problemas de perda de mais uma cultura pelo Estado do Amazonas, uma vez que esta não vem recebendo a devida atenção, sendo plantada e explorada através de técnicas próximas do extrativismo. Se não forem tomadas providências, breve perderemos a hegemonia em mais esta cultura com um grande potencial econômico.
2.0. BOTÂNICA - Paullinia cupana var. sorbilis (Mart.) Ducke pertence à família Sapindaceae, esta com cerca de 130 gêneros e cerca de 1100 espécies, com distribuição essencialmente pantropical, abundantes na Ásia e na América. Entre os gêneros mais vastos encontra-se Paullinia, com cerca de 130 espécies. As sapindaceae caracterizam-se pelas folhas geralmente pinuladas, pelas gavinhas circinadas, enroladas na forma de mola nos gêneros de lianas (trepadeiras), pelas flores pequenas geralmente poligamodióicas, pelas pétalas com apêndices escamiformes ou glandulares, pelo ovário tipicamente tricarpelar e pela semente em geral arilada. A família apresenta outros representantes conhecidos, como a pitomba (Talisia esculenta), o rambutan (Nephellium lappaceum) e a lichia (Litchi chinensis).
De acordo com Cronquist (1981), a espécie pertence à divisão Angiospermae, Classe dicotiledonaea, ordem Sapindales, família Sapindaceae, Gênero Paullinia, espécie P. cupana. A variedade conhecida como guaraná pertence à variedade sorbilis.
O guaranazeiro é uma planta perene, trepadeira, nativa da Amazônia brasileira, podendo atingir até 10 metros de altura, quando tem como suporte árvores de porte elevado.
O caule apresenta-se sulcado e com coloração castanha-amarelada; os ramos novos apresentam-se tetra ou penta-sulcados, de coloração verde-amarelada que vai-se tornando verde escura /castanha-amarelada com a idade.
As folhas são alternas, compostas de 5 folíolos, dos quais dois são opostos entre si e o quinto localiza-se na extremidade da ráquis. As bainhas são bem desenvolvidas, medindo,em média, 1,5 cm. O pecíolo principal (ráquis) tem de 8 a 19 cm, sendo canaliculado no bordo superior; os pecíolos dos folíolos são muito curtos. Os folíolos tem a forma quase oval, ápice dentado, com largura que varia de 10 a 14 cm e comprimento de 27 a 33 cm, bem espaçados e com as nervuras da face inferior proeminentes. Podem ser encontradas folhas com 1 e 3 folíolos. A coloração das folhas é verde-escura, com a face superior luzidia, sendo a face inferior de coloração verde-clara. As folhas novas apresentam os folíolos moles e pendentes. Na base de cada folha existe uma gema vegetativa e uma reprodutiva.
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