João E Steiner A Origem do Universo
Por: Jurema Santana • 16/3/2024 • Artigo • 98.663 Palavras (395 Páginas) • 85 Visualizações
Livio Sansone
A Galáxia Lombroso
A extraordinária popularidade de Cesare Lombroso
e dos lombrosianismos em América Latina
Tradução
Roberto Vico
SUMÁRIO
Prefácio
Introdução: Seguindo os passos de Nina Rodrigues
1. A questão racial no final do século XIX
Degeneração e raça
Lombroso, a África e os Africanos
2. A Galáxia Lombroso como home science global
Oficina, museu, revista e sala de estar
A rede internacional: o exterior como uma brecha
Um olhar sobre Cuba, México e Argentina
No Brasil
3. Encontros e desencontros na América do Sul
Guglielmo Ferrero e Gina Lombroso
Enrico Ferri
4. O papel do Brasil e da América Latina, na geopolítica do conhecimento: raça e positivismo
"Lombriosianismos" e a América do Sul
Lombrosianos depois de Lombroso,
5 - Reflexões finais sobre a circulação do pensamento lombrosiano na América Latina
Apêndice. A trajetória das ideias de Cesare Lombroso na Itália e no mundo
Bibliografia e fontes
Índice de nomes
Índice de lugares
Lombroso era filólogo, filósofo, místico, anatomista e antropólogo, neurologista, psiquiatra, sociólogo, estatístico e especialista em ciências sociais e políticas.
Kurella 1911: 1
Lombroso era um poeta antes de ser um cientista, um homem de imaginação antes de ser um pesquisador.
Necrológio no jornal Estado de S. Paulo
A 'escola' de Lombroso é um fenômeno interessante na psicologia coletiva. O professor de Turim é o símbolo convencional de um partido científico. Ninguém acredita nele de todo o coração, ninguém compartilha suas teorias sem o benefício do inventário; mas todos o chamam de mestre, mestre ilustre, mestre eminente.
A primeira impressão que uma reunião de seus discípulos dá é desagradável: parece um comitê de políticos pouco competentes, uma assembleia de padres incrédulos, um conselho de idólatras que riem do fetiche.
Porém, estudando-o melhor, por detrás daquela aparente comédia convencional com aquele homem carinhoso, descobrimos uma sincera satisfação com aquele homem bondoso e frágil que lutou tenazmente e com rara persistência pelo triunfo de novos horizontes que vislumbrava, mas não sabia definir.
Eles sabem, e ousam dizê-lo em voz baixa, que Lombroso foi apenas um grande promotor, um grande portador de ideias, e que caberá a outros realizar a verdadeira elaboração crítica e a generalização precisa de seus teoremas primitivos.
Ingenieros 1905: 43
Lombroso [...] um estudioso onívoro
Frigessi 2004: 1
Qualquer pessoa podia, portanto, se apropriar da linguagem de Lombroso, mesmo sem citá-lo.
Maristany 1983: 362
PREFÁCIO
Este livro trata de uma questão crucial na história das ciências sociais, em particular das ideias sobre raça, a África, o africano e o negro a forte influência que o pensamento de Cesare Lombroso, ou suas reinterpretações, e a rede de pesquisadores que ele criou exerceram na formação das ciências sociais na América Latina e, mais especificamente, no Brasil.
Como acontece com todos os que lidam com personalidades que o tempo está definindo como controversas e difíceis, frequentemente me perguntam por que me interesso tanto por Cesare Lombroso. Talvez porque eu também, como muitos outros antes de mim, no fundo, me sinto atraído por temas que talvez sejam escabrosos hoje, mas sempre atuais como atavismo, degeneração, fisionomia, hipnose, a relação entre loucura e gênio, arte prisional, tatuagens, jargões e messianismos? Lombroso faz parte de um longo percurso e se insere em um projeto mais amplo que visa escrever uma história universal do racialismo – termo utilizado para indicar a construção e circulação de ideias de raça – e racismo verdadeiro – o uso de ideias de raça para excluir o Outro. Um projeto que busca entender não apenas a complexidade do contexto em que essas ideias foram criadas, para as quais contribuíram não apenas teóricos conservadores, mas também estudiosos ligados à emancipação de grupos subalternos ou discriminados (como vários teóricos judeus) e até boa parte dos socialistas e anarquistas. Nesse sentido, vários líderes afro-americanos retomam as categorias racistas - por exemplo, a crença na existência de quatro “grandes raças” - para criar um novo discurso sobre a emancipação do racismo (colonial).
Venho lidando com "raças", etnicidade e racismo desde que comecei a me formar como antropólogo no final da década de Setenta, com pesquisas voltadas para a etnografia e, mais recentemente, baseadas no trabalho de arquivo. Esse último, de fato, considera nós antropólogos pouco preparados e até nos cria uma certa inibição, levando-nos a nos perguntar: o que estamos fazendo nós nos arquivos, quando esse é o lugar dos historiadores? Entretanto, hoje não é possível estudar os temas candentes levantados pelas novas etnicidades, pelos neonacionalismos antiglobalização, pelos usos políticos da raciologia para excluir o Outro como parte de novas formas de populismo, mas também por um certo novo uso de categorias de tipo étnico-raciais por grupos subalternos que buscam respeito e cidadania, sem tentar historicizar e entender as origens do pensamento racial como parte integrante do contexto em que se criaram e desenvolveram tanto a maioria dos movimentos sociais como as verdadeiras ciências sociais. Confesso que, por ter uma formação em sociologia e antropologia, me movo melhor no espaço - pesquisando redes circuitos e rotas - do que no tempo, investigando raízes e "tradições" como um historiador. Apesar disso, tenho de todas as formas que estabelecer um diálogo específico com a história do pensamento racial e do racismo.[1]
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