Antropologia, Etica E Cultura
Trabalho Escolar: Antropologia, Etica E Cultura. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 1168084 • 12/2/2015 • 4.913 Palavras (20 Páginas) • 560 Visualizações
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Anexo 1
UM SENTIDO PARA A VIDA
Palestra realizada em 20 de novembro de 1997 na Federação
do Comércio do Estado de São Paulo, onde Frei Betto, um dos maiores teólogos e intelectuais brasileiros, fala do papel da ciência,
da educação e da religiosidade no mundo moderno.
Minha intenção é falar sobre o momento que estamos vivendo,
momento confuso em termos de perspectiva do futuro. A primeira
evocação que faço é da pintura de Michelangelo na Capela Sistina, “A criação de Adão”, em que a figura de Deus, recoberto de mantos e com a barba longa, estende o dedo para Adão. Ao mesmo
tempo em que Adão, como símbolo da humanidade, é atraído em direção à Terra, ele estende o dedo na direção do Criador, espécie
de premonição nostálgica de que é preciso não perder o contato
com a fonte, com a raiz, que é Deus. Michelangelo foi genial, porque é muito difícil compreender o momento em que se vive. É fácil analisar os momentos depois que eles passaram. O artista, com sua intuição, com seu talento, tem o dom de captar o momento,
que depois a epistemologia e a filosofia tentam explicar.
O que acontecia naquele momento da “descoberta” da América,
da “descoberta” do Brasil? A passagem. Diria que não estamos vivendo uma época de mudanças. Estamos vivendo, hoje, uma mudança de época. A última mudança de época foi justamente na “descoberta” da América, quando o Ocidente passou do período medieval para o moderno. A pintura de Michelangelo expressa, com genialidade, essa chegada de um tempo em que o conhecimento,
a epistemologia, se desloca de uma perspectiva teocêntrica
para uma perspectiva antropocêntrica. A rainha das ciências, durante mil anos, no período medieval, foi a teologia. A rainha das ciências, da modernidade é a física. O período medieval se baseava
na fé; o moderno, na razão. O período medieval se baseava
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© Anexo
na contemplação das verdades reveladas; o moderno, na busca da compreensão da mecânica deste mundo e no pragmatismo, na transformação deste mundo.
Quando os camponeses medievais preparavam o campo, aspergiam
água benta e ainda pagavam aos padres pela água comprada.
Até que apareceu um sujeito, que não era cristão, com um pozinho preto, dizendo: “Ponham isso na terra, e irão produzir mais do que com a água benta dos padres”. De fato, o adubo resultou
numa produtividade muito maior do que a água benta. Isso criou uma crise de fé no fim da Idade Média. Por quê? Porque a fé medieval, como muitas vezes a nossa fé hoje, é uma fé sociológica,
que tem como anteparo nossa compreensão do mundo. Uma vez que essa compreensão é mudada, a fé desaba. Aliás, muitas vezes passamos por crises espirituais que, na verdade, não deveriam
ser entendidas assim, mas como crises de cosmovisões ou de mundividências que sustentam nossa maneira de compreender a experiência da fé.
Descartes e Newton
A modernidade aparece, primeiro, com o grande movimento da globalização que foram as navegações ibéricas. Falamos hoje em globalização como se fosse novidade. Mas, na Escola de Sagres, já se falava em globalização, com outras palavras. E tanto globalizaram
que conseguiram abarcar outras regiões do planeta, embora Colombo tenha morrido sem saber que havia chegado à América. Morreu convencido de que tinha alcançado Cipango, nome que se dava ao Japão. As descobertas marítimas, a criação das universidades,
principalmente da Sorbonne, que é do século 12, e da Universidade de Bolonha, e as corporações marítimas, que são as matrizes dos sindicatos, foram três fatores que, de certa forma, prepararam o advento da modernidade. Todos nós somos filhos da modernidade. Nossa estrutura de pensamento é moderna, mas nem sempre foi assim, e nem em toda parte do mundo é assim.
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Qual é a característica da modernidade? São duas pernas: a filosofia de René Descartes e a física de Isaac Newton. Descartes, com o “Penso, logo existo”, mostrou que a razão é capaz de decifrar
os enigmas do conhecimento. Já contemporaneamente a ele, ou um pouco antes, um acontecimento marcou decisivamente a introdução da visão moderna: a astronomia de Nicolau Copérnico, depois complementada por Galileu Galilei. Copérnico fez algo de revolucionário, a ponto de hoje se falar de revolução copernicana, porque até então as pessoas olhavam o mundo com os pés na Terra.
Copérnico fez o inverso: como será a Terra se eu me imaginar com os pés no Sol? A partir dessa mudança, ele teve uma compreensão
completamente diferente do universo, mas só ousou partilhá-la em seu leito de morte, com medo da Inquisição. Depois veio Galileu e acabou com a idéia de que a ciência é baseada no senso comum. Detalhe: o que Galileu constatou cientificamente no século 17, Eratóstenes já havia comprovado na Grécia, três séculos
antes de Cristo. Eratóstenes, astrônomo grego, afirmava que a Terra é redonda e gira. Ele teve o cuidado de colocar estacas entre duas cidades e medir a incidência do Sol sobre essas estacas, constatando que a sombra que o Sol projetava comprovava que a Terra era redonda e gira. Mas Eratóstenes não tinha lobby suficiente
para fazer prevalecer sua opinião. O mais fantástico é que ousou medir a cintura da Terra, e chegou à conclusão de que ela tinha 39 mil quilômetros. No século 20, a ciência constatou que são 40.008 quilômetros.
A idéia de que vivemos num planeta, que não é o centro do universo, foi extremamente desconfortável para a Igreja, primeiro porque, na Bíblia, consta que Josué parou o Sol. Se a palavra de Deus afirma que Josué parou o Sol, como um cientista ousa afirmar
que não é o Sol que gira, mas é a Terra que gira em torno do
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