O SER HUMANO NO TRABALHO MOVIMENTA

O ser humano no trabalho movimenta-se através das ferramentas, mas principalmente através de seu corpo. O corpo é o primeiro e mais natural instrumento do homem e os gestos adotados são mais do que encadeamentos musculares eficazes e operatórios, são atos de expressão da postura.

As regulações adotadas pelos trabalhadores e toda a dinâmica que está por trás da adoção de determinadas posturas podem ser evidenciados em análises ergonômicas realizadas com operadoras que atuam em guichês de supermercados e trabalhadoras que estão na indústria com produção de embalagens.

Em algumas situações em que o ciclo se modifica, no caso dos supermercados, as operadoras de caixa, a depender da forma, peso e natureza do produto, interferem nos gestos operatórios e precisam alterar suas posturas. Ao manusearem itens como caixas de garrafas plásticas, necessitam de efetuar a abertura do pacote, interrompendo assim o fluxo funcional da atividade e precisam de força e precisão dos dedos, além de angulação acentuada dos punhos. Em caso de produtos idênticos, com mesmo rótulo, é necessário que a operadora tenha mais atenção para que verifique se há sabores distintos, pois os preços podem não ser os mesmos. Além disso, há mudança no modo operatório quando os itens não são lidos no scanner, o que acontece frequentemente, seja porque não há código de barra ou a imagem encontra-se ilegível, é necessário digitar treze cifras que compõe o código exigindo precisão dos dedos e atenção na digitação para não errar.

Na indústria de fabricação de embalagens, foi constatado aumento na produção das embalagens e que esta alteração não foi acompanhada de ajustes no efetivo das trabalhadoras. Em função disso, houve aumento das demandas físicas, com exigências de movimentos repetitivos, posturas anômalas e força com mãos e dedos nas tarefas de jogar, dobrar e puxar as embalagens. Para evitar irregularidades na qualidade do produto, observou-se, por exemplo regulações das funcionárias durante alguns ciclos, de colocar a mão sob a  bancada, que não é regulável, e puxar o produto por baixo, adotando postura anômala. Além disso, o medo de não corresponder ao desempenho das atividades, já que o trabalho implica em atingir a meta de produção conforme a demanda especificada, gera ansiedade e implica em aceleração do ritmo visando a compensação do tempo destinado à regulação das perturbações no processo.