Uma Breve, Não Tão Breve, História do Pi
Por: Tarcísio Geovane • 25/5/2019 • Resenha • 2.713 Palavras (11 Páginas) • 130 Visualizações
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte[pic 1]
Faculdade de Ciências Exatas e Naturais - FANAT
Departamento de Física - DFIS
Curso: Licenciatura em Física
Disciplina: Álgebra Linear Aplicada à Física
Professor: Dr. Aureliano Puça
Tarcísio Geovane Pereira Fernandes
Uma breve, não tão breve, história de pi
MAIO, 2019
Mossoró, RN
A educação matemática que é dada no ensino básico deixa, muitas vezes, a falsa impressão de que a Matemática é um assunto cientificamente morto, isto é, que a Matemática é obra, somente, de alguns grandes matemáticos do passado (Euclides, Arquimedes, Lagrange, Cauchy,...) e que estudar Matemática consiste exclusivamente em rever o que esses matemáticos nos deixaram. Aqui pretendo mostrar, com um exemplo concreto, como a Matemática é um assunto dinâmico onde o passado, longe de ser um objeto estático feito apenas para ser admirado é uma fonte de inspirção para novos avanços. O exemplo em questão é o número .[pic 2]
É difícil conceber algum tema matemático que seja mais popular do que o estudo das propriedades do número . De fato, π e um dos poucos conceitos matemáticos que, quando citado, provoca uma reação de reconhecimento ou de interesse por parte de quem não está, usualmente, ligado ao assunto. Quase qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento matemático sabe que e a razão do perímetro pelo diâmetro de uma circunferência, e que o seu valor é, muito aproximadamente, 3,14. É também conhecido que a área de um círculo pode ser obtida multiplicando pelo quadrado do seu raio.[pic 3][pic 4][pic 5]
O perímetro de um círculo poder ser obtido multiplicando o seu diâmetro por uma constante é um conhecimento antigo; já há cerca de 4000 anos os babilônios afirmavam que aquela constante é e os egípcios que o seu valor é Que uma tal constante deveria existir é algo que não é difícil de conjecturar, ou seja, é normal que se pense que, se tiver dois círculos, e se o diâmetro do primeiro é k vezes o diâmetro do segundo (para algum número positivo k), então o perímetro do primeiro também é igual a k vezes o perímetro do segundo. Por outras palavras, o quociente entre o perímetro e o diâmetro é o mesmo para todos os círculos. O problema está então em determinar o valor daquele quociente. Analogamente, basta alguma prática de cálculo de áreas para que se torne natural pensar que ao multiplicarmos o raio de um círculo por um número positivo k, estamos a multiplicar a sua área por k²; consequentemente, o quociente entre a área de um círculo e o quadrado do raio é o mesmo para todos os círculos. Uma questão que se levanta é a seguinte: dado um círculo de raio r, perímetro p e área A, porque os quocientes acima mencionados, são iguais? Há várias maneiras de justificar. A mais simples consiste, talvez, em observar que se dividir o círculo em um número elevado (e par) de pedaços iguais, como na Figura 1, então é possível reordenar esses pedaços do modo a obter algo muito próximo de um retângulo com altura r e largura igual a metade do perímetro da circunferência, ou seja, igual a . Logo, a sua área é igual a .[pic 6][pic 7][pic 8][pic 9]
Como poderá ser visto, os matemáticos ocuparam-se não apenas com o cálculo do valor de π mas também com a tentativa de determinar a sua natureza.
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Figura 1
Naturalmente, as primeiras tentativas de determinar o valor de π devem ter tomado a seguinte forma: algu´em enrolava uma corda em torno de um objeto circular (uma roda, por exemplo), marcava o ponto onde a corda tocava novamente na sua origem e em seguida via quantas vezes ´e que esse peda¸co de corda (o que ia desde origem at´e o ponto marcado) era maior do que o diˆametro da roda, eventualmente pegando um graveto do tamanho do diˆametro e observando quantos daquele tamanho eram precisos para que a soma dos seus comprimentos fosse igual ao comprimento da por¸c˜ao de corda. Então, por este processo, pode-se concluisr que π ´e ligeiramente superior a 3. Infelizmente, muitos povos antigos n˜ao deixaram documentos para explicar como chegaram aos resultados matem´aticos que obtiveram, mas por vezes´ , é poss´ıvel conjecturar quais foram os m´etodos utilizados. Por exemplo ´e razo´avel supor que o valor aproximado de π obtido pelos antigos eg´ıpcios que foi acima mencionado , seja proveniente da seguinte observação: considera-se uma circunferência inscrita num quadrado que está dividido em nove quadrados iguais, como na Figura 2. É natural supor que as áreas do círculo e do octógono (irregular) que podem ser observados, são semelhantes. A área do octógono é igual à área de sete quadrados pequenos (ou seja, cinco quadrados pequenos mais quatro metades de quadrados). Se cada quadrado pequeno tiver 3 unidades do comprimento, a área do octógono será igual a Então, a área do círculo de raio é aproximadamente igual a 63 que, por sua vez, é aproximadamente Então, um valor aproximado para é:[pic 13][pic 14][pic 15][pic 16][pic 17]
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Figura 2
Um grande progresso com relação à determinação do valor de teve lugar, simultaneamente (e independentemente), na China e na Grécia no século III a.c. A ideia que surgiu foi a de considerar dois polígonos regulares com o mesmo número de lados, dos quais um estava dentro do outro de modo que o círculo cujo perímetro que desejava-se determinar, estivesse entre os dois. E mais, como na Figura 3, o polígono menor deveria estar inscrito na circunferência (ou seja, seus vértices deveriam ser pontos da circunferência) e, por outro lado, o polígono maior deveria estar circunscrito, desse modo, seus lados deveriam estar tangentes à circunferência. Então, o perímetro do círculo seria um valor intermédio entre os perímetros dos dois polígonos. Assim, quanto maior o número de lados dos polígonos, mais próximo os valores estariam do perímetro do círculo.[pic 20]
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