Trabalho Radiotividade
Por: Vinícius Cruz • 27/10/2016 • Trabalho acadêmico • 13.925 Palavras (56 Páginas) • 373 Visualizações
INTRODUÇÃO:
Em 26 de abril de 1986, ocorreu o mais grave acidente nuclear da história, em Chernobyl, na atual Ucrânia. A explosão de um dos quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl. A força da explosão liberou uma nuvem radioativa que atingiu a parte oeste da antiga União Soviética, hoje os países de Belarus, Ucrânia e Rússia, e todo o norte e centro da Europa. Três dias após a explosão, nenhum comunicado ainda havia sido feito pelo governo soviético a respeito do acidente nuclear em Chernobyl. As autoridades soviéticas só assumiram o ocorrido após o governo da Suécia ter detectado altos níveis de radiação no sul de seu país, correlacionando com a direção do vento, e ter anunciado que um grave acidente havia ocorrido em algum lugar da União Soviética. Um satélite americano varreu a região da Ucrânia, encontrando uma usina com o teto destruído e o reator ainda em chamas, com fumaça vertendo do interior. Mas, Mikhail Gorbáchov, então presidente, demorou 18 dias para comentar o acidente, só o fazendo em 14 de maio22. O total oficial de mortos diretamente relacionado ao acidente no reator foi de 31 pessoas, devido à participação direta no combate aos incêndios da unidade. Outros 237 trabalhadores foram hospitalizados com sintomas da exposição aos altos níveis da radiação ao redor do reator. Muitas destas vítimas apresentaram queimaduras e outros tipos de lesões21. O Brasil é conhecido mundialmente como o pais que ocorreu o maior desastre radioativo, foi o de Goiânia em 13 de setembro de 1987, uma cápsula de césio-137, abandonada há 2 anos nos escombros do antigo Instituto Goiano de Radiologia, desativado depois de sofrer uma ação de despejo – foi removida por dois sucateiros, violada e vendida como ferro-velho. Entre a retirada da cápsula da clínica em ruínas e a descoberta do fato pelas autoridades, dezenas de moradores de Goiânia conviveram com um material radioativo cuja periculosidade era desconhecida. Atraídos pela intensa luminescência azul do sal do césio-137, adultos e crianças o manipularam 3 e distribuíram entre parentes e amigos. Os primeiros sintomas da contaminação (náuseas, vômitos, tonturas e diarreia) apareceram algumas horas após o contato com o material. O saldo dessa experiência foi a morte de 4 pessoas, a amputação do braço de outra e a contaminação, em maior ou menor grau, de mais de 200 pessoas. Somente em 29 de setembro, aqueles sinais foram identificados como característicos da síndrome da radiação.
O conhecimento prévio do risco potencial decorrente de uma ameaça por agentes QBRN e o treinamento adequado dos profissionais permitem, ao poder público e às comunidades (em especial nas emergências nucleares), a preparação para evitar, minimizar ou enfrentar riscos, e ainda facilitar o uso racional de recursos do setor Saúde. A organização do setor Saúde para a resposta às ESP por agentes QBRN, tanto no nível logístico como no operacional, visa preparar o setor para as possíveis intercorrências que possam surgir, unificando os procedimentos e ações. Dessa forma, tendo em vista a diversidade de agentes QBRN e a potencial dimensão que um evento a estes agentes pode causar, é imprescindível, para uma resposta eficaz, o estabelecimento prévio de parcerias e, quando possível, protocolos de ação com instituições nacionais e internacionais e o apoio de especialistas para a mitigação dos danos à saúde, instalações e ao ambiente. Vale destacar que a resposta sempre começará na localidade do evento, portanto, deve-se assegurar a capacidade de resposta inicial a esse nível. Sendo assim, a capacidade da esfera local deve ser aumentada com planos claros de como os recursos estaduais e federais serão mobilizados para fornecer apoio. Tem-se então a necessidade de pessoal treinado, laboratórios especializados e melhores sistemas de comunicação em todos os níveis de governo e no setor privado (FORTES, 2012). A seguir são apresentadas premissas básicas para a implementação deste Plano de Contingência: • Manter uma relação de contatos de instituições parceiras, centros de excelência e de especialistas em agentes QBRN (manuseio, detecção laboratorial, técnicas de descontaminação, tratamento, entre outras especialidades). • Manter uma relação de contatos atualizada dos profissionais das coordenações do Ministério da Saúde e dos Ministérios da Defesa e da Integração Nacional, para o possível acionamento do Protocolo de Ações que visa ao estabelecimento de ações integradas e complementares de resposta em situações de desastres. • Manter parceria com o Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD) e com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), ambos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), para casos de emergência radiológica e nuclear. • Desenvolver e manter atualizados os protocolos e os procedimentos operacionais necessários para a realização das ações para o manejo da resposta por emergência QBRN. • Firmar convênios e termos de cooperação necessários para a implementação do Plano. • Identificar e suprir as necessidades de comunicação para a realização das ações do Plano. • Identificar fontes de equipamentos e de recursos adicionais para a realização das ações atribuídas à SVS na implementação do Plano. 13 Plano de Contingência para Emergência em Saúde Pública por Agentes Químico, Biológico, Radiológico e Nuclear • Prover meios para a garantia da continuidade das ações, incluindo o revezamento dos responsáveis por posições-chave. • Identificar e prover medidas de segurança, de acordo com o agente QBRN identificado, para os profissionais designados para a realização das tarefas na implementação do plano. • Manter um banco de dados atualizado com os profissionais capacitados na área QBRN considerando a necessidade de um possível acionamento para complementar ações de mitigação de incidentes. • Identificar as possíveis instalações que manuseiem agentes QBRN em uma dada localidade, para uma melhor preparação e identificação de possíveis ações diante de uma emergência QBRN.
Um acidente/incidente trata-se da ocorrência em si de um evento por agente QBRN, de caráter intencional ou não, podendo acarretar danos à saúde humana, ao ambiente e às instalações. Nesse tipo de evento é necessária uma resposta coordenada para reduzir e mitigar riscos à saúde humana, primeiramente pela contenção da zona quente e pela prevenção da propagação de doenças relacionadas a agentes biológicos ou à propagação de material químico, radiológico ou nuclear. Em um acidente/incidente há também a atenção permanente para o fluxo de comunicação com a população, para amenizar o nervosismo coletivo e a insegurança causados pelo evento. 4 Ameaça: evento físico, potencialmente prejudicial, fenômeno e/ou atividade humana que pode causar a morte e/ou lesões, danos materiais, interrupção de atividade social e econômica ou degradação ambiental. Isso inclui condições latentes que podem levar a futuras ameaças ou perigos. As ameaças podem ser individuais, combinadas ou sequenciais em sua origem e efeitos. Cada uma delas caracteriza-se por sua localização, magnitude ou intensidade, frequência e probabilidade (EIRD-adaptado). 16 17 Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Um desastre5 por agentes QBRN caracteriza-se por um acidente/incidente de grande magnitude que leva a perdas humanas e/ou importantes perdas materiais, econômicas ou ambientais e que se traduz numa situação de emergência em saúde pública. Nessas situações é imprescindível a atuação coordenada das três esferas de gestão para reduzir riscos e mitigar danos. Uma vez entendida as diferenças entre ameaça, acidente/incidente e desastre por agentes QBRN é preciso conhecer a definição dos limites de zonas de trabalho em um evento por estes agentes, para que a distribuição de competências e tarefas não se sobreponham e, principalmente, não exponham os profissionais envolvidos na resposta aos agentes QBRN. É importante destacar que, mediante a constatação de qualquer risco potencial e/ou perigo, o local do evento deverá ser imediatamente interditado e isolado e a vigilância em saúde não será, em momento algum, o primeiro respondedor, uma vez que ela atua apenas na zona fria, ou seja, em um ponto já fora de risco de contaminação. As zonas de trabalho são classificadas em: • Zona quente: é uma área restrita, imediatamente ao redor do acidente, que se prolonga até o ponto em que efeitos nocivos não possam mais afetar as pessoas posicionadas fora dela. Dentro desta área ocorrerão as ações de controle, sendo permitida apenas a presença de pessoal técnico qualificado (equipes de primeira resposta para produtos perigosos nos níveis local, municipal e estadual, e as equipes da Defesa para atuarem depois de esgotadas essas capacidades iniciais). • Zona morna: é uma área demarcada após a zona quente, onde ocorrerão as atividades de descontaminação de pessoas e de equipamentos, triagem, bem como suporte ao pessoal de combate direto. Nesta área será permitida somente a permanência de profissionais especializados e devidamente trajados com equipamentos de proteção individual (EPI), os quais darão apoio às ações de controle desenvolvidas dentro da zona quente. Eventuais ações de resgate são desencadeadas também a partir desta área (Equipe de Defesa QBRN do Exército, Órgão Ambiental, técnicos da Vigilância em Saúde, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Samu). • Zona fria: área destinada para outras funções de apoio, também conhecida como zona limpa. Imediatamente estabelecida após a zona morna. É o local onde estará a logística do atendimento e evacuação, o estacionamento de viaturas e equipamentos, a área de abrigo, o descanso, a alimentação entre outros. • Zona de exclusão: nesta área permanecerão as pessoas e instituições que não possuem qualquer envolvimento direto com a ocorrência, como imprensa e comunidade.
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