A Importância da Comunidade Andina para a economia da América Latina
Por: Badaroa13 • 10/5/2015 • Trabalho acadêmico • 6.360 Palavras (26 Páginas) • 401 Visualizações
A importância da Comunidade Andina para a economia da América Latina
José Ultemar da Silva Uninove/FEA-USP. São Paulo – SP [Brasil] ultemar@uninove.br
Neste artigo, trata-se da formação da Comunida- de Andina (CAN) e de sua importância no proces- so de integração da América Latina. Nesse con- texto, enfatiza-se a organização do bloco andino, analisando os países-membros, a situação socioe- conômica e política, os principais parceiros e como estão as relações desse bloco com o Brasil, uma vez que o país possui uma participação expressiva nesse mercado, atualmente prejudicada com os discursos de nacionalização do gás boliviano.
Palavras-chave: Desenvolvimento. Diplomacia. Industrialização. Investimento.
Revista Gerenciais, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 71-82, 2006.72
1 Introdução
O Pacto Andino – que instituiu a Comunidade Andina (CAN), com sede em Lima (Peru) – foi estabelecido, em 1969, com a assi- natura do Acordo de Cartagena (COMUNIDAD ANDINA, 2006a). No entanto, somente a partir de agosto de 1997 é que se iniciaram suas funções. Segundo Seitenfus (2000), diante das dificuldades encontradas pela Associação Latino- Americano de Livre-Comércio (ALALC), no fim da década de 1960, alguns países se convence- ram da necessidade de construir blocos sub-re- gionais de integração, o que levou à criação dessa comunidade. Entre 1997 e 1990, a CAN passou por di- ferentes estágios, dos quais o mais importante foi o da troca do modelo de substituição de im- portações por um mercado regional livre. Dessa forma, de uma concepção original de integração fechada, a CAN evoluiu, nos anos de 1990, para um esquema de regionalismo aberto. De acordo com Krugman e Obstfeld (2005, p. 503), “[...] a verdade é que, até a década de 1970, o altíssimo custo de crescer voltado para dentro baseado na substituição das importações não havia se tornado evidente na América Latina”. Segundo Krugman e Obstfeld (2005), após a Segunda Guerra Mundial, acreditava-se que a chave para o desenvolvimento econômico seria criar um forte setor de manufaturas voltado para o mercado interno e depois protegê-lo contra a concorrência internacional. No entanto, muitos países permaneceram estagnados por anos, pois suas empresas não eram fortemente estimuladas para a exportação. Na América Latina, o Chile foi um dos primeiros países a abandonar a estra- tégia da industrialização pela substituição das im- portações e a implantar políticas para as novas exportações. Desde sua formação, a CAN objeti- va promover o desenvolvimento balanceado e harmônico dos países-membros em condições de equilíbrio pela integração e pela coopera- ção econômica e social, acelerar o crescimento dos países andinos, gerar empregos e facilitar a participação no processo de integração regio- nal, com o intuito de formar, gradualmente,
um mercado comum latino-americano. Nesse sentido, a proposta é reduzir a vulnerabilidade externa dos países-membros e impor sua posição no contexto econômico internacional, reforçar a solidariedade regional e reduzir as diferenças no desenvolvimento que existem entre os países e, por fim, definir metas sociais orientadas para a melhoria da qualidade de vida dos diferen- tes grupos, com o fito de promover o desen- volvimento comum. De acordo com Vesentini (2000, p. 78), “[...] apesar de todos os objetivos e esforços de desenvolvimento, a CAN trata- se de uma associação fundada muito antes da tendência atual de globalização, mas que nunca caminhou a passos longos.” A CAN possui uma população de mais de 105 milhões de habitantes, numa área de aproxi- madamente 4,7 milhões de quilômetros quadra- dos, e um produto interno bruto (PIB) de cerca de 319 milhões de dólares. Os países, em sua maioria, estão localizados na Cordilheira dos Andes, sendo, por isso, chamados de países andinos. São eles: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Chile. Cabe lembrar que o Chile, embora tenha participado da CAN desde a sua fundação, retirou-se em 1977. A população da América Andina é formada, sobretudo, por mestiços, descenden- tes de espanhóis e indígenas. Além deles, ainda existem grupos indígenas que habitam as áreas elevadas e conservam sua cultura, permanecendo à margem da sociedade moderna. Dessa forma, a população da América Andina reflete o proces- so de colonização espanhola: a língua oficial é o espanhol, e a religião predominante, o catolicis- mo. Na Venezuela, Colômbia e Equador, há um pequeno número de negros, descendentes dos escravos trazidos pelos colonizadores. Segundo pesquisas, os problemas socio- econômicos, tais como deficiência alimentar, analfabetismo, habitações insuficientes e falta de saneamento básico, são dramáticos e constituem realidade comum aos países andinos. O êxodo rural é acentuado, devido, principalmente, às precárias condições de vida no campo. As capitais abrigam enorme população em condições muito difíceis de vida, tais como subemprego, mendicância e mar- ginalidade, hoje bastante visíveis em cidades como
Artigos
73Revista Gerenciais , São Paulo, v. 5, n. 2, p. 71-82, 2006.
La Paz (Bolívia), Caracas (Venezuela), Bogotá (Colômbia). Na região, são registradas as maiores taxas de mortalidade e natalidade. Do ponto de vista físico, a América Andina se caracteriza por três paisagens distintas: a Cordilheira dos Andes, as planícies litorâneas e as planícies orientais, com clima e vegetação bem diversificados. A maioria dos pontos eleva- dos está acima de 3 mil metros (m) de altitude, destacando-se o Pico do Aconcágua, com 7.040 m. Nos planaltos da Cordilheira dos Andes, veri- ficam-se as maiores densidades populacionais da América Andina. A maioria da população é jovem, situan- do-se abaixo de 20 anos. Esse é um problema grave para a economia, pois os jovens são chama- dos muito cedo para o mercado de trabalho, sem terem completado a formação escolar básica. Se isso não ocorresse, a população adulta ficaria so- brecarregada, visto que haveria, relativamente, muita oferta e pouca demanda profissional. A pre- dominância de jovens despreparados no mercado de trabalho compromete os níveis de produtivi- dade tanto no presente quanto para o futuro, e a população economicamente ativa ocupa princi- palmente o setor terciário da economia (comércio e prestação de serviços). Nesses países, a maior parte da população vive em áreas urbanas, onde os jovens dependem de investimentos em edu- cação para que possam absorver as poucas vagas oferecidas pelas organizações. Segundo Krugman e Obstfeld (2005, p. 503),
[...] apesar dos enormes recursos na- turais, a maior parte da população da América Latina permanece mergulhada na pobreza e a região tem sido castigada por [seguidas] crises financeiras. Embora haja um caminho difícil a ser seguido pelos diversos países da região, alguns têm obtido progressos significantes na direção da estabilidade econômica e dos padrões de vida crescente de forma sus- tentável.
A questão do desenvolvimento possui origens tanto teóricas quanto empíricas e muitas
são resultantes das crises econômicas; daí os diversos conceitos. Por exemplo, na América Latina, após a Segunda Guerra Mundial, como muitos países estavam mergulhados em crises, criou-se a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal)1, cujo objetivo era promo- ver o crescimento econômico da região e reduzir as desigualdades sociais. Segundo Cherem e Sena Júnior (2004, p. 3),
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