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A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

Por:   •  30/3/2016  •  Artigo  •  3.861 Palavras (16 Páginas)  •  335 Visualizações

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CAPÍTULO 7

A REVOLUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

Considerada de um ponto de vista técnico, toda produção depende das propriedades físicas, químicas e biológicas de materiais e dos processos que se baseiam nelas. A gerência, em suas atividades como organizadora do trabalho, não lida diretamente com esse aspecto da produção; ela meramente proporciona a estrutura formal para o processo produtivo. Mas o processo não está completo sem o seu conteúdo, que é uma questão de técnica. Esta, como já foi observado, é primeiramente a da especialidade, do ofício, e depois assume um caráter cada vez mais científico à medida que o conhecimento das leis naturais aumenta e destitui o conhecimento fragmentário e as tradições fixas do ofício. A transformação do trabalho de uma base de especialidade para uma base de ciência pode-se, pois, considerar como incorporando um conteúdo fornecido por uma revolução científica e técnica, dentro de uma forma dada pela rigorosa divisão e subdivisão do trabalho patrocinada pela gerência capitalista.

Com o surgimento da indústria moderna, escreveu Marx, as “formas diversas, aparentemente desconexas e petrificadas dos processos industriais agora dissolveram-se em tantas outras aplicações conscientes e sistemáticas da ciência natural para a consecução de efeitos proveitosos”." Mas, como muitas das mais esclarecedoras observações de Marx, esta era em seus dias mais uma previsão e introvisão profética do que uma descrição da realidade. A era das “aplicações conscientes e sistemáticas da ciência natural” havia escassamente anunciado sua chegada quando essas palavras foram publicadas em 1867. As últimas duas décadas do século XIX constituem um divisor de águas assinalando tão grande mudança no papel da ciência na produção que o contraste — não obstante semelhanças que ligam ambos os períodos do capitalismo — dificilmente pode ser exagerado.

A ciência é a última — e depois do trabalho a mais importante — propriedade social a converter-se num auxiliar do capital. A história de sua conversão da esfera dos amadores, “filósofos”, latoeiros e pesquisadores de conhecimento para seu estado atual i altamente organizado e prodigamente financiado é amplamente a |história de sua incorporação às firmas capitalistas e organizações. A princípio a ciência nada custa ao capitalista, visto que ele tão-somente explora o conhecimento acumulado das ciências físicas, mas depois o capitalista organiza sistematicamente e orna, a ciência, custeando a educação científica, a pesquisa, os |sou pertence diretamente a ele ou que o capitalista dispõe como um domínio total na forma de rendas de tributos. Um esforço social antigamente relativamente livre é integrado na produção e no

mercado. -

O contraste entre ciência como uma propriedade social generalizada ocasional na produção e ciência como propriedade capitalista no pleno centro da produção é o contraste entre a Revolução Industrial, que ocupou a metade do século XVIII e o primeiro terço do século XIX, e a revolução técnico-científica que começou nas últimas décadas do século XIX e que prossegue ainda. O papel da ciência na Revolução Industrial foi indiscutivelmente grande. Antes do surgimento do capitalismo — isto é, até os séculos XVI e XVII na Europa — o acervo de conhecimento científico fundamental no Ocidente era essencialmente o da antigüidade clássica, o dos gregos antigos como conservado pela erudição árabe e nos monastérios medievais. A época do avanço científico durante os séculos XVI e XVII ofereceu algumas das condições para a Revolução Industrial, mas a conexão era indireta, geral e difusa — não apenas porque a ciência não estava ainda estruturada diretamente pelo capitalismo nem dominada pelas instituições capitalistas, Ímãs também devido ao importante fato histórico de que a técnica desenvolveu-se antes e como um requisito prévio para-a-ciência. Assim, em contraste com a prática moderna, a ciência não tomou sistematicamente a dianteira da indústria, mas freqüentemente ficou para trás das artes industriais e surgiu delas. Em vez de formular significantemente novos enfoques das condições naturais de modo a tornar possíveis novas técnicas, a ciência, em seus inícios sob o capitalismo, no mais das vezes formulou suas generalizações lado a lado com o desenvolvimento tecnológico ou em laboratórios etc. com o imenso excedente do produto social que sequência dele." Se tomamos como exemplo principal a máquina a vapor — devido aos importantes princípios científicos que ela exemplificava e devido a que era o mecanismo atuante de maior importância da Revolução Industrial — podemos perceber isso claramente. Um historiador da ciência escreveu assim sobre os processos pelos quais a máquina a vapor veio a existir:

"Quanto desse desenvolvimento era devido à ciência do calor? Toda a evidência disponível indica que era pouco. Este ponto de vista foi expresso enfaticamente por um escritor da história da invenção da máquina a vapor, Robert Stuart Meikleham. No prefácio de seu livro Descriptive History of the Steam Engine, de 1824, escreveu ele: "Não conhecemos quem divulgou a expressão de que a invenção foi uma das mais nobres dádivas que a ciência já dera à humanidade. O fato é que a ciência, ou os homens de ciência, jamais tiveram algo a ver com o assunto. Na verdade, não há máquina alguma nem maquinismo algum nos quais o pouco que os teóricos fizeram seja mais inútil. Ela surgiu, foi aperfeiçoada e aprimorada pelos rnecânicos no trabalho — eisó por eles".”3

Esta opinião é robustecida pelo fato de que nos primeiros

dias do desenvolvimento da força do vapor a teoria do calor vigente

era a teoria calórica, da qual, como observa Lindsay, “poucas deduções realmente significativas sobre as propriedades do calor podiam ser tiradas”." Landes conclui que o desenvolvimento da tecnologia do vapor provavelmente contribuiu muito mais para as ciências físicas do que qualquer outro modo:

"Declara-se freqüentemente que a máquina de Newcomen e suas precursoras teriam sido impensáveis sem as idéias teóricas de Boyle, Torricelli e outros: e que Watt tirou muito de sua competência técnica e imaginação de seu trabalho com cientístas e instrumentos científicos em Glasgow. Há, sem dúvida, alguma verdade nisso, embora o quanto seja impossível dizer. Uma coisa é clara, contudo: uma vez que o princípio do condensador separado foi estabelecido, os subseqüentes avanços deveram pou

* , Da especialização técnica existente na Inglaterra no século XVIII escreve Landes: "Isto não deve ser confundido com conhecimento científico; não obstante alguns esforços para vincular a Revolução Industrial à Revolução. Científica dos séculos XVI e XVII, o vínculo pareceu extremamente difuso: ambas refletiam um revigorado interesse nos fenômenos naturais e materiais e uma aplicação sistemática da pesquisa empírica. De fato, se houve algum, o crescimento do conhecimento científico deveu muito às preocupações - e feitos da tecnologia; havia muito menos fluxo de idéias ou métodos no outro lado: e assim deveria continuar em pleno século XIX."2 /

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