Comportamento Estratégico e as Tipologias de Miles e Snow: Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Sucroenergético

Comportamento Estratégico e as Tipologias de Miles e Snow: Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Sucroenergético

Sidney Pimenta Alvim Júnior (FACIP-UFU) – [e-mail]

Prof. Msc. Alex Fernando Borges (FACIP-UFU) – [e-mail]

Resumo

Este trabalho teve o objetivo de identificar a estratégia de entrada adotada por uma empresa do setor sucroenergético brasileiro. Para tanto, o caso da empresa foi analisado a partir da aplicação da tipologia de Miles e Snow (1978), tipologia estratégica que apresenta quatro tipos de comportamentos e/ou posicionamentos estratégicos: a) as defensoras: organizações que não buscam oportunidades fora de seus domínios; b) as prospectoras: organizações que constantemente buscam novas oportunidades criando mudanças e incertezas; c) as analíticas: empresas quem combinam os pontos fortes das anteriores, operando ora estável e outra em mudança; e d) reativo: empresas que apresentam um padrão de adaptação ao seu ambiente que é incoerente e instável. Especificamente, buscou-se descrever como ocorreu o processo de entrada da empresa no setor sucroenergético brasileiro; identificar os objetivos estratégicos da empresa com a atuação local, e classificar o posicionamento estratégico da empresa estudada a partir da aplicação da tipologia de Miles e Snow. Para alcançar os objetivos do estudo, efetuou-se uma pesquisa qualitativa, estruturada a partir de um estudo de caso. Em um primeiro momento, a coleta de dados envolveu a pesquisa documental, onde foram coletados dados secundários em artigos, livros, publicações, órgãos relacionados ao setor sucroenergético. Posteriormente, foram realizadas entrevistas em profundidade e, de forma complementar, foi aplicado um questionário fechado composto de onze perguntas sobre aspectos ligados à tipologia de Miles e Snow. Os resultados da pesquisa permitiram verificar que a entrada da empresa no mercado se deu de uma forma gradativa, adquirindo, participações de grupos e empresas do ramo. Em seguida, a empresa optou por adquirir a totalidade das empresas e tornar-se controladora destas. Também foi possível observar que a empresa atua, de certa forma, despreocupada com a concorrência, implicando em um posicionamento estratégico voltado para o aumento da produção. Por fim, foi identificado um padrão de comportamento híbrido da empresa, conforme a tipologia de Miles e Snow, variando entre prospector e analítico: prospectando nos momentos em que busca novas oportunidades de mercado, operando em novos mercados e investindo em tecnologia para desenvolvimento de novos produtos; e analítico, operando em uma área estável, de forma rotineira e em uma área turbulenta buscando constantemente novas ideias, produtos e tecnologias. Portanto, conclui-se que a empresa alfa tem um posicionamento que varia de acordo com a perspectiva analisada, tendo como analista o seu posicionamento predominante. Porém o comportamento prospector apareceu de forma significante quanto a vários aspectos analisados, o que faz com que esse comportamento estratégico híbrido caracterize o posicionamento da empresa no mercado a partir de uma dupla estratégia, ora prospectando o ambiente e o setor competitivo, introduzindo uma perspectiva inovadora tanto em sua atuação interna como em sua intervenção externa, ora analisando os mercados, ambientes, perspectivas de demandas, estratégias e outras oportunidades de investimento.

Palavras-chave: Estratégia; Posicionamento Estratégico; Tipologia de Miles e Snow,

1. Introdução

Com a atenção voltada para a sustentabilidade do planeta, é notável a preocupação de alguns países e empresas em criar fontes alternativas de produção de energia. Dentre as novas formas de energia renovável e ecológica desenvolvidas, os biocombustíveis estão em um estágio de desenvolvimento mais avançado, prontos para competirem com os derivados de petróleo, atendendo, portanto, o objetivo de substituição da energia proveniente dos combustíveis fósseis (BELTRESCHI; NEVES; ANTOLINI, 2012).  

Além de contribuírem pouco para a emissão de gases de efeito estufa, os biocombustíveis colocam o Brasil em destaque no cenário econômico mundial. Sob diversos pontos de vista, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar é produzido de maneira sustentável, nos aspectos sociais, econômicos e ambientais, representando atualmente a melhor e mais avançada opção existente no mundo para produção de biocombustíveis em larga escala (ÚNICA, 2012).

Diante deste cenário, grupos e empresas multinacionais vêm investindo no setor sucroenergético, como é o caso da empresa Alfa que em 2008, tornou-se a primeira companhia petrolífera internacional a investir no etanol brasileiro de cana-de-açúcar.

Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho consistiu em identificar a estratégia de entrada adotada pela empresa Alfa no setor sucroenergético brasileiro. Para tanto, o caso da empresa foi analisado a partir da tipologia de Miles e Snow (1978), tipologia estratégica que apresenta quatro tipos de comportamentos e/ou posicionamentos estratégicos: a) as defensoras: organizações que não buscam oportunidades fora de seus domínios; b) as prospectoras: organizações que constantemente buscam novas oportunidades criando mudanças e incertezas; c) as analíticas: empresas quem combinam os pontos fortes das anteriores, operando ora estável e outra em mudança; e d) reativo: empresas que apresentam um padrão de adaptação ao seu ambiente que é incoerente e instável. Especificamente, buscou-se: descrever como ocorreu o processo de entrada da empresa no setor sucroenergético brasileiro; identificar os objetivos estratégicos da empresa com a atuação local; e classificar o posicionamento estratégico da empresa a partir da aplicação da tipologia de Miles e Snow.

O trabalho será dividido nas seguintes seções, além desta introdução: referencial teórico, compreendendo os tópicos a) o setor sucroenergético brasileiro, b) estratégia em organizações e c) tipologia de estratégias de Miles e Snow; metodologia, compreendendo os tópicos a) método, b) estratégia de pesquisa; c) métodos de coleta e análise de dados; resultados e discussão; conclusões; e referências.

2. O Setor Sucroenergético Brasileiro

A história do setor sucroenergético brasileiro é bem antiga, tendo início há quase 500 anos, quando o açúcar ainda era considerado especiaria. Sua oferta não supria a demanda do mercado, o que levou ao fomento da monocultura açucareira pelos portugueses, o clima europeu não favorecia o plantio da cana-de-açúcar, fazendo com que esse desse início nas ilhas de Cabo Verde, Açores, Madeira e posteriormente no Brasil. O plantio da cana-de-açúcar no Brasil contou com mão de obra escrava abundante e clima favorável. Dá-se então início do primeiro ciclo econômico brasileiro, o “Ciclo da Cana-de-Açúcar” (ÚNICA, 2012).