O Estudo De Caso Sob Diferentes Perspectivas
Por: Raphaela Borges • 13/9/2023 • Resenha • 1.503 Palavras (7 Páginas) • 83 Visualizações
O ESTUDO DE CASO SOB DIFERENTES PERSPECTIVAS.
ROBERT, YIN. Estudo de caso, planejamento e método. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman 2001.
MERRIAM, Sharan B. Case Studies as Qualitive Research. In: Qualitive Research and Case study Applications in Education: revised and expanded form case study research in education. São Francisco: Bass Publishers, 1997.
EISENHARDT, K. M. Building Theories from Case Study Research. The Academy of Management Review, vol.14, n.4, Oct., 1989
LUKOSEVICIUS, A.P, MARCHISOTTI, G.G, SOARES, C.A.P. Framework Metodológico para Estudos de Caso em Administração. Revista Eletrônica de Administração, online, v.16, n.2, ed. 31, Jul-Dez 2017.
O método qualitativo orienta procedimentos de pesquisa sobre objetos de estudo buscando dar sentido ou interpretar os fenômenos. O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos. É apenas uma das muitas maneiras de se fazer pesquisa em ciências sociais, como: experimentos, levantamentos, pesquisas históricas e análise de informações em arquivos.
Para a confecção desta resenha, foram analisados os textos de Yin (2001), Merriam (1997), Eisenhardt (1989) e Lukosevicius, Marchisotti & Soares (2017). Destaca-se Yin como fio condutor desta análise por ser o mais completo e citado como seminal em muitos estudos.
Segundo Yin (2001) a pesquisa empírica avança somente quando vem acompanhada pelo pensamento lógico, e não quando é tratada como esforço mecanicista. Essa lição acabou se tornando uma questão básica do método de estudo de caso. No decorrer do livro, o autor faz uma comparação entre os estudos de caso com outras estratégias de pesquisa e aponta preconceitos tradicionais em relação à estratégia de estudo de caso que vem sendo encarado como uma forma menos desejável de investigação do que experimentos ou levantamentos.
No segundo capítulo, Yin (2001) apresenta os componentes do estudo de caso: as questões de estudo, proposição, sua unidade de análise, a lógica que une os dados às proposições e os critérios para interpretar as descobertas. Após entender os cinco componentes acima, o pesquisador terá a visão inicial da teoria sobre seu estudo, podendo ser individuais, em grupo, organizacionais e sociais. Sabe-se que em um viés positivista de pesquisa, a pressão sobre validade do construto, interna, externa e confiabilidade são pontos rigorosos na pesquisa, assim Yin faz suas considerações sobre estes pontos apontando o tema da generalização: discutindo sobre estudo de caso único ou múltiplo. Os estudos de caso individual devem ser selecionados da mesma forma que um pesquisador de laboratório selecione o assunto de um novo experimento. Os casos múltiplos são vistos como experimentos múltiplos ou levantamentos múltiplos, usando o método de generalização analítica no qual se utilizam a teoria previamente desenvolvida como modelo com o qual se deve comparar os resultados empíricos de um estudo de caso.
Este viés positivista também é referenciado no artigo "Framework Metodológico para Estudos de Caso em Administração" de Lukosevicius, Marchisotti & Soares (2017), onde é apresentado um estudo bibliográfico dos principais teóricos do método e resultando em um passo a passo detalhado de como realizar a implementação com o objetivo de trazer os critérios de validade e confiabilidade.
Por outro lado, Merriam (1997), especialista em estudos de caso no contexto educacional, traz considerações interessantes sobre o método. Apresenta algumas orientações para trabalhar com o estudo de caso. De largada, ela traz que a primeira preocupação do pesquisador é definir o seu caso. E no decorrer deste capítulo, discorre sobre a possibilidade de delimitar um caso se questionando quão finita seria a coleta de dados, isto é, se existe um limite para o número de pessoas envolvidas que poderiam ser entrevistadas ou uma quantidade finita de tempo. Havendo esta limitação, pode-se dizer então que exista uma delimitação para o caso.
Outro texto analisado nesta resenha é o proposto por Eisenhardt (1989). Trazendo como principais orientações para o estudo de caso a necessidade de ter os construtos definidos para ter uma melhor preparação para escolha e coleta de dados. Influenciada por uma epistemologia utilitarista, a autora posiciona que a lógica para definir a questão de pesquisa é a mesma que na pesquisa de teste de hipóteses. Sem um foco de pesquisa, é fácil ficar sobrecarregado com o volume de dados. A especificação a priori de construtos também pode ajudar a moldar o projeto inicial da pesquisa de construção de teoria.
Um ponto tratado por Yin no terceiro capítulo são as habilidades do pesquisador, que passam por ser capaz de fazer boas perguntas e interpretar as respostas. Além disso, deve ser um bom ouvinte, não ser enganado por suas próprias ideologias e preconceitos, e por fim, deve ser capaz de ser adaptável e flexível na forma que situações recentes encontradas possam ser vistas como oportunidades. Ou seja, a necessidade de um cuidado de buscar uma neutralidade na análise. Já Merriam (1997) não parece se preocupar em ser neutra em seu texto. A autora relata que a importância está na construção durante o processo, ou seja, por mais que o pesquisador tenha seus pressupostos definidos, o campo, diante de sua riqueza de contexto, irá influenciar a pesquisa.
Retornando a Yin (2001) ao fim do capítulo três, o autor apresenta o protocolo, como normas e regras bem definidas e detalhadas para ter êxito na construção e análise do estudo de caso. No capítulo quatro, ele afirma que as evidências para o estudo de caso podem vir de seis fontes: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos. Elas podem aumentar a qualidade do estudo de caso. Uma das mais importantes fontes de informações para o estudo de caso são as entrevistas e pode-se ficar surpreso com essa conclusão por causa da associação que se faz entre as entrevistas e o método de levantamento de dados. As entrevistas são fontes essenciais de informação para estudo de caso. Merriam (1997) divergem de Yin (2001) neste aspecto, ao se referir aos instrumentos de coleta de dados no estudo de caso, cujo objetivo não reivindica nenhum método específico, tanto para coleta quanto para análise de dados. Todo e qualquer método, desde testes até́ entrevistas, pode ser usado em um estudo de caso. Ou seja, não são os instrumentos que definem um caso como exitoso ou não, tampouco com a preocupação de evidenciar a confiabilidade ou a validade através dos instrumentos. Neste ponto, Einsenhardt (1989) converge mais com Yin (2001) do que Merriam (1997). No artigo estudado em questão ela orienta a combinação entre vários métodos de coleta de dados, sendo as entrevistas, observações e fontes de arquivo os mais comuns. Outra orientação da autora é trazer dados quantitativos, porém ressalta que os dados físicos ajudam a entender o fenômeno, mas os insights e descobertas virão da riqueza e densidade da descrição do fenômeno.
...