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Resenha do Livro: 1808 – Como Uma Rainha Louca

Por:   •  11/9/2018  •  Resenha  •  3.095 Palavras (13 Páginas)  •  274 Visualizações

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Absalão Silva

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Resenha do livro:

GOMES, Laurentino. 1808 – Como Uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. 2ª reimpressão. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. 414 p.

São Bernardo do Campo

(2018)

Resenha do livro:

GOMES, Laurentino. 1808 – Como Uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. 2ª reimpressão. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2007. 414 p.

O livro é de conteúdo histórico, resultado de dez anos de investigação do autor, que desenvolveu em 29 capítulos a sua versão da história, de linguagem fluente, com muita propriedade e riqueza de detalhes e que facilmente cativa o leitor. Trata-se dos 13 anos em que a Família Real Portuguesa esteve residindo no Brasil, desde a sua saída de Portugal em novembro de 1807 até a volta em julho de 1821. O autor usa o termo fuga para definir a história de quando o príncipe regente de Portugal D. João VI, filho de uma rainha que não governava há anos por problemas mentais, se sente ameaçado pelas invasões napoleônicas e foge para a sua maior colônia na época, o Brasil.

Napoleão Bonaparte, vivia seu triunfo, tinha se declarado imperador dos franceses, e ao longo de uma década travou inúmeras batalhas sem derrotas, expulsando reis, duques e nobres de seus tronos e substituindo-os por membros da própria família Bonaparte. No mesmo período três grandes acontecimentos espalhavam choque pelo mundo: Independência Americana, Revolução Francesa e Revolução Industrial na Inglaterra. Então, Napoleão decreta o bloqueio contra Inglaterra e intima Portugal a aderir, declarar guerra à Inglaterra, retirar seu embaixador em Londres, expulsar o embaixador inglês de Lisboa e fechar os portos portugueses aos navios britânicos. Por fim, teria que prender todos os ingleses em Portugal e confiscar suas propriedades. E, ainda se, D. João VI não concordasse com suas exigências, Portugal seria invadido e a dinastia de Bragança seria destruída.

Portugal estava sem recursos, sem exército, espremido pelo interesse de duas potências rivais. Após três séculos de inauguração das grandes navegações e descobertas, nem de longe lembrava a metrópole dos tempos de Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral. Os sinais de decadências estavam por todo lado. Os tempos de glória pareciam ter ficado para trás. A metrópole portuguesa era uma terra relativamente pobre porque a riqueza não parava ali. Lisboa funcionava apenas como um entreposto comercial. Vivia ameaçado por seus vizinhos e a riqueza estava realmente no Brasil, era de onde tiravam ouro, tabaco, açúcar, madeira e algodão. Enquanto que, na Inglaterra, chegava o vapor. A nova tecnologia, deu origem ao tear mecânico, a locomotiva, ao navio e a impressora a vapor.

Um outro fator para a decadência era religioso. Portugal era a nação mais católica, a mais conservadora e mais avessa as ideias libertárias que produziam revoluções e transformações em outros países. A força da igreja era enorme. Por escrúpulos religiosos, a Ciência e a Medicina eram atrasadas ou praticamente desconhecidas. Um exemplo disso, temos o episódio em que D. José, herdeiro do trono, irmão mais velho de D. João, ao contrair varíola morreu, porque sua mãe, D. Maria I, tinha proibido os médicos de lhe aplicar vacina. A rainha achava que a decisão entre a vida e a morte estava nas mãos de Deus e que não cabia a ciência interferir nesse processo.

A escassez de recursos demográficos e financeiros e o atraso nas ideias políticas e nos costumes, haviam transformado Portugal numa terra nostálgica, refém do passado e incapaz de enfrentar os desafios do futuro. E, como sempre procurou manter uma política de neutralidade em relação aos seus vizinhos mais ricos e poderosos, pois a ideia era se envolver o mínimo possível nos conflitos, para dessa forma, evitar represálias e assegurar o fluxo de riquezas que chegava de seus territórios ultramarinos. Essa política de neutralidade não era tão neutra quanto parecia. Portugal sempre teve a Inglaterra como parceira preferencial. A própria existência de Portugal como Estado independente estava associada à Inglaterra.

Diante disso, o conselho de Estado recomendou que o príncipe regente preparasse seus navios para partir e transferir toda a elite portuguesa, a corte inteira com o governo, os funcionários e o aparato de Estado. Se a corte não fosse ao Brasil, D. João VI seria deposto e preso pelas tropas de Napoleão, ou caso aderisse a França, Lisboa seria bombardeada pelos navios ingleses que não queriam Portugal nas mãos de Napoleão. A alternativa foi fugir com a proteção da marinha britânica, que na época era a maior força naval.

 Em novembro de 1807, parte os navios as pressas, sem preparo, sem condições para uma viagem tão longa, levando a bordo o príncipe regente, D. João VI, sua mãe, a rainha louca D. Maria I, e os dois herdeiros do trono, os príncipes D. Pedro e D. Miguel, e o restante da família real.

Sem tempo para discurso de despedida, D. João VI mandou afixar nas ruas de Lisboa um decreto no qual explicava as razões da partida. Dizia que as tropas francesas estavam a caminho de Lisboa e que resistir a elas seria derramar sangue inutilmente. Porém, antes de embarcar, o príncipe roubou os cofres do governo. A fuga foi tão apressada, tão improvisada que acabaram esquecendo dois tesouros importantíssimos no Porto de Lisboa, a prataria das igrejas e os livros da biblioteca real portuguesa, mais de 60 mil volumes. E, sem a escolta britânica a prover quase tudo o que faltava, a viagem estaria fadada a uma tragédia.

Agora, abandonado a própria sorte, Portugal viveria os piores anos de sua história. Os relatos mostram o sofrimento, o desespero e a agonia de um povo que assistiu o abandono do seu líder. Assim, sem o rei, o País ficava à mingua e sem rumo, pois dependia do rei toda a atividade econômica e sobrevivência das pessoas, o governo, a independência nacional e a própria razão de ser do Estado Português. Nos treze anos seguintes, foi um período de muito sofrimento para o povo, que empobreceu ainda mais, perdeu todos os privilégios com as colônias e diminuiu drasticamente. O general Junot, responsável pela ocupação/invasão de Portugal ao chegar em Lisboa tentou tranquilizar os portugueses prometendo protegê-los e a seus direitos. Não foi o que aconteceu. Suas tropas saquearam a cidade e sentindo-se enganado pela fuga da corte portuguesa Napoleão impõe a Portugal duras punições: indenização de guerra no valor de 100 milhões de francos, confisco das propriedades de todos os portugueses que haviam partido junto com o príncipe regente, parte dos 40 000 soldados do exército português foi incorporada as tropas francesas e o governo provisório nomeado por D. João foi destituído.

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