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A Heterogestao na Administração

Por:   •  22/2/2017  •  Trabalho acadêmico  •  1.650 Palavras (7 Páginas)  •  1.117 Visualizações

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Heterogestão

Sob o preceito da necessidade de um trabalho mais homogêneo, pode-se dizer que a classe5 dominante acredita ser capaz de fazer a gestão, de guiar os interesses das classes dominadas. Dentro dessa perspectiva, a divisão social do trabalho é refletida, atualmente, na indústria moderna, onde o trabalhador é, na grande maioria das vezes, A ideia aqui não é fazer um profundo debate sobre classe, trataremos apenas distinguindo-a entre classe dominante e classe dominada, ou seja, aqueles que detêm os meios de produção/capital, e por outro lado aqueles que vendem sua força de trabalho. Sobre classe ver ALTHUSSER (1967), MARX (1971) e MARX (1977). Privado do conhecimento da atividade produtiva, pois se separa de um lado, os que concebem o trabalho e do outro, os que executam.

Essa prática acima descrita, apresenta-se como um modelo de gestão, que tem como objetivo principal a divisão do trabalho, chamada heterogestão, e é o mais comum nas empresas capitalistas. Assim, para Faria (2009), o sistema heterogênico aparece como natural, como universal e bem próprio das “relações humanas”, sob os domínios do sistema capitalista. A heterogestão demonstra, portanto, a hegemonia do capital sobre o trabalho.

Para Motta (1981a, p. 18) o termo “heterogestão” é utilizado para conceituar o tipo de organização invariavelmente descrito na teoria organizacional. “A dualidade entre o que gere e o que é gerido; entre o que planeja, organiza, comanda e controla, e o que executa, sendo, portanto, planejado, organizado, comandado e controlado, é a essência da heterogestão”.

A heterogestão, longe de propor uma qualificação da mão de obra, desqualifica o trabalho, decomposto em uma série de gestos simples e mecânicos, de acordo com o planejamento organizacional. Cada função é direcionada a uma pessoa diferente e a automatização dispensa a criatividade do trabalho manual, a qual é reservada a uma elite administrativa a quem cabe a benevolência de simplificar o trabalho, originando um processo de alienação e coisificação do homem (FARIA, 1985).

É por meio do sistema administrativo heterogestionário que são estabelecidas mais claramente as relações de poder, uma vez que tal modelo de gestão baseia-se na relação dominante-dominado, além da reprodução dessa relação, ultrapassando as paredes organizacionais.

Para Faria (1985) a heterogestão possui vínculos com uma relação unilateral de dominação, que pode ser demonstrada através de uma distribuição não igualitária de poder. Assim, ela fundamenta as relações de mando e subordinação na coerção e na autoridade legal – quem comanda planeja/decide e a quem é comandado somente coloca em prática aquilo que já foi pré-estabelecido.

Como forma de comprovar essa relação divergente de papéis e funções entre os dirigentes e os dirigidos, pode-se observar o controle excessivo do capital sobre o trabalho, o que justifica a desigualdade, onde se tem “a direção autoritária, o excesso de regulamentações em benefício daqueles que ficam com a parte intelectual do bolo – os executivos, supervisores e capatazes.” (MOTTA, 1982, p.16)

“A heterogestão não é senão o sistema administrativo que explicita, de forma mais clara, a relação dominante-dominado que permeia a estrutura organizacional e social. Assim, a heterogestão não funciona apenas como reprodutora das relações sociais, como também as naturaliza na medida em que a separação dominante-dominado ou dirigente-dirigido é fundamental em todo o ordenamento social”.

Para este mesmo autor, a heterogestão desempenha o papel de impedir o desenvolvimento do indivíduo, a partir do momento em que ela não permite o desenvolvimento de suas atividades como agente, uma vez que ela exige a sua adaptação a um cargo, a uma função.

No primeiro ponto tratado por este autor, pode-se utilizar o trabalho de Motta (1981), que apresenta como exemplo a grande maioria das empresas, que intensificam de forma máxima o formato heterogestionário, tornando possível se ter o controle de capital. Esse formato é característico do capitalismo tradicional, onde se tem o monopólio do saber ao proprietário, e ao trabalhador, cabe as tarefas definidas de forma desfragmentadas, dirigidas por outro.

E é a partir dessa formatação, que se proliferam as áreas administrativas de competências, estruturadas em hierarquias. Para Abreu (1989) é o quadro administrativo quem controla a produção, e, os produtores acabam por persistirem em total distanciamento dos meios e da administração da produção. Assim, esses trabalhadores, passam a ser, cada vez mais, subordinados da técnica organizacional a uma autoridade impessoal. O poder decisório concentra-se na direção e assim a heteronomia dirigente e dirigido passa a ser mais generalizada.

No segundo ponto tratado por Abreu (1989), observa-se que a heterogestão reproduz as relações sociais, e estrutura a sociedade, Nesse sentido vai também o pensamento de Motta (1981), para quem as relação sociais se definem a partir de uma ordenação lógica, onde existe o estabelecimento de linhas de comando que se convergem, por meio das quais passa uma sucessão de relações sociais autônomas, que constituem, assim, uma pirâmide heterogestionária.

No terceiro fundamento burocrático relacionado com a heterogestão, Abreu (1989) destaca que a heterogestão, não só quer reproduzir as relações sociais, mas também, naturalizar as relações reproduzidas.

Por fim, há que se destacar que a heterogestão, se apresenta, portanto, como uma forma de gestão que demonstra o autoritarismo dentro das organizações. E esse autoritarismo, suas implicações e consequências, vêm se mostrando de forma desfavorável nas organizações. Isso pode ser comprovado por Faria (2009) que apresenta que a prática de uma gestão autoritária vai se tornando para os gestores mais um problema do que uma solução, já que os trabalhadores e suas organizações se tornam cada vez mais reticentes e tensos contra essa forma de gestão. O que não significa que essa forma de gestão tenha desaparecido. Ela ocorre, sobretudo, em ambientes onde os trabalhadores não se encontram organizados politicamente. Nesses ambientes, a heterogestão apenas não ocorre se a gerência for pautada pela busca de resultados de uma gestão mais participativa, que será melhor tratada a seguir.

Gestão Participativa

Como forma de se avançar no sentido de um maior envolvimento do trabalhador no que cerne a gestão das organizações, tem-se como foco de estudo neste capítulo a gestão participativa.

De acordo com o estudo de Ferreira (1998), a administração participativa ou a ideia de participação existe desde a antiguidade, sendo praticada pelos gregos com o nome de democracia. Entretanto, embora a ideia de participação tenha origem na antiguidade, ela passou a ter uma disseminação maior, no mundo moderno, após a Segunda Guerra Mundial, onde ela passa a tomar forma concreta e começa a despertar o interesse das organizações. Foi nessa época que foi estabelecido o sistema de representação paritária nos conselhos de vigilância das grandes empresas siderúrgicas e minerais da República Federal da Alemanha.

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