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CIDADEZINHA QUALQUER

Por:   •  14/5/2018  •  Monografia  •  1.539 Palavras (7 Páginas)  •  130 Visualizações

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"CIDADEZINHA QUALQUER

Casas entre bananeiras

mulheres entre laranjeiras

pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.

Um cachorro vai devagar.

Um burro vai devagar.

Devagar... a janelas olham.

Êta vida besta, meu Deus."

De “Alguma Poesia” (1930)

Carlos Drummond de Andrade

Vale do Capão, lugar encantador e de alguma forma descrito nesse poema por Carlos Drummond. Não é ao Capão que o poeta se refere, mas é exatamente assim que nos sentimos ao aportar naquele local tão mágico. Tudo é muito calmo, tranqüilo, de fato devagar... Local onde podemos desacelerar nossas vidas de cidade grande, sempre tão agitadas e cheias de preocupações, onde podemos descobrir mais sobre nós mesmos e sentir a energia que vem da natureza e dos habitantes da vila.

Para chegar ao Capão é preciso pegar um ônibus até Palmeiras e de lá pegar um rural que leva até o vale. A Rural é um carro bastante antigo que nos remete, de certa forma, ao passado, nem todos são bem conservados e a maioria é movido a gás de cozinha, o que se torna um perigo, porém não impede que as pessoas façam uso do transporte, até porque não existe outro. Na rodoviária de Palmeiras, pode-se demorar um pouco para comprar uma passagem de volta, pois o mesmo atendente que fica no guichê é o que tira as malas dos ônibus que chegam. Porém, é difícil ver alguém se estressar com isso, estando em Palmeiras o clima já muda, provavelmente se isso acontecesse em Salvador as pessoas estariam aos berros na fila.

O Vale do Capão abriga a vila de Caeté - Açu, local pequeno, porém bastante acolhedor. No bar Flamboyam, podemos sentar e observar toda vila, comendo o famoso bolinho de queijo ao som de uma viola ou ouvindo histórias dos habitantes de lá. Em épocas de grande movimento como feriados e finais de ano, a vila é habitada por inúmeros hippies exibindo artes circenses e outros vendendo belíssimos artesanatos. Às vezes acontece um forró em uma casa vazia situada na esquina da vila, esse sim pode ser considerado o autêntico forró pé de serra, um triângulo, uma sanfona e uma zabumba e repertório composto 80% pelas músicas do Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Nesse momento a casa branca de porta e janelas verdes lota, uns preferem dançar com o calor humano, outros preferem ouvir a música do lado de fora e ensaiar alguns passos no paralelepípedo.

Esse não é o dia-a-dia do povo de Caeté - Açu, em baixa estação não é tudo que se encontra aberto e quando abre, fecha cedo. O Flamboyam chega a fechar Às 20hs por falta de grande movimentação. A falta de opções de lazer nos leva a analisar o porquê de ter tantas crianças no local.

Na vila podemos encontrar a pizzaria integral do Capão, fundada pelo suíço Thomaz e sua esposa, que ao chegar naquele lugar, não quiseram sair mais de lá. Na pizzaria podemos escolher entre dois únicos sabores de pizza, de cenoura ou a de banana. No primeiro momento algumas pessoas olham com certa resistência, mas ao provar um pedaço, a pizzaria de Thomaz passa a ser uma visita obrigatória no Capão. Os filhos desse pizzaiolo nasceram lá mesmo e estudam na escola local e ao ser indagada sobre seu futuro, a filha mais velha disse que pretendia prestar vestibular para uma faculdade em Seabra, cidade próxima e não pensava em vir pra Salvador. Tão acostumada a vida tranqüila do Capão, talvez ela nem se acostumasse a viver na capital, já que é tão difícil entrar nesse clima frenético depois de apenas uma visita ao vale, imagina depois de tanto tempo vivendo lá.

Ainda na Vila podemos conversar com Palito, figura ímpar dono de uma licoteria bastante agradável que funciona na parte da frente de sua casa, onde ele conserva um jardim que se recusa a destruir para aumentar seu negócio. Ponto para ele, o jardim dá mais encanto ao seu lar.

A vila ainda abriga uma igrejinha pequena, um açougue, uma loja de materiais de construção, uma locadora, uma Lan House, uma farmácia, uma sorveteria e algumas poucas lojas de roupa e artesanato, sendo que uma pode ser considerada a marca oficial do Capão, "QUEM É DOIDO", lá vende blusas pintadas a mão, tendo como tema os elementos da chapada. Existem também alguns moradores que fazem de suas casas simples restaurantes, comidinha caseira maravilhosa e lugar acolhedor, onde podemos repor as energias de um dia de caminhada.

As trilhas em sua maioria não exigem muito esforço físico. Um dos caminhos mais tranqüilos é o que leva até as cachoeiras das Angélicas e da Purificação. A trilha se inicia a partir de um vilarejo de pouco mais de 3 casas chamado Bomba. Até o Bomba da para ir de carro, mas não tendo essa opção é mais 1 hora de uma agradável caminhada, dando bom dia as senhoras encostadas em suas janelas, desviando das galinhas que fugiram das suas cercas, admirando a beleza das flores, dos morros ao redor, dos varais coloridos  e ouvindo o canto dos pássaros. Ao chegar no Bomba, podemos parar para se refrescar com o caldo de cana e comer o famoso pastel de palmito de jaca,comida típica do Capão,   não bem recebida por quem não conhece, mas apreciada por quase todos que o provam. Depois do merecido descanso seguimos o nosso rumo. Primeiro nos deparamos com a cachoeira das Angélicas e mais um pouco a frente está a cachoeira da Purificação, local onde se pode encontrar uma das águas mais geladas da chapada, provavelmente por estar em um local onde não bate muito sol, pois existem morros e muitas árvores cobrindo-a. Porém, o nome faz jus ao banho que tomamos, nos sentimos literalmente purificados e reenergizados.

Outros passeios que também não exigem muito esforço é o das Rodas, Rio Preto e Águas Claras, essa última é o conjunto de belas quedas d'água. De Águas Claras, pode-se subir o Morrão, também conhecido como Monte Tabor. A subida exige um pouco mais de esforço, mas do topo podemos desfrutar de uma das mais belas vistas do vale. Para quem não conhece a paz, vale a pena o esforço.

Outra trilha que pede um pouco mais de esforço é a que leva até a cachoeira da Fumaça, mais ou menos 1 hora de subida e mais 1 hora e meia de andada, porém essa visita é obrigatória por ser a 2ª maior cachoeira em queda livre do mundo e a maior do Brasil. No topo ainda temos o grande prazer de encontrar Seu Paulo, pessoa encantadora e cheia de histórias pra contar que sobe todos os dias com muito peso nas costas para vender refrigerante, água, seus deliciosos sucos e alguns salgados com recheio de palmito de jaca.  Chegando ao fim da tarde, ainda dá pra fazer o caminho de volta na companhia de Seu Paulo, o que trará bastante diversão, pois ele não pára de falar um segundo, algumas vezes fantasiando, e ele mesmo rir de suas fantasias, mas isso torna suas histórias mais interessantes. E são muitas histórias!Aliás, talvez essa seja uma das melhores características dos nativos de lá, gostar de conversar, provavelmente isso se deva ao fato de ser um local muito pequeno e bastante parado em baixa estação.

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