Cidadezinha X Metrópole: Um Diálogo Possível?
Por: Maria Felicidade • 25/2/2021 • Artigo • 3.631 Palavras (15 Páginas) • 127 Visualizações
Cidadezinha X Metrópole: um diálogo possível?
MARIA FELICIDADE LACERDA
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ)
MARISE RODRIGUES GUEDES
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ)
TATIANA FALCÃO RODRIGUES CARDOSO
(UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ)
RESUMO
Esse artigo apresenta uma proposta de trabalho destinada a alunos do ensino fundamental cujo gênero literário é o poema. Sabe-se o quão é difícil abordar o texto literário para além de questões gramaticais, explorando os sentidos possíveis do texto. Contudo, esse deve ser o trabalho com o texto literário que fomenta nos alunos possibilidades de construção de sentidos durante o processo de inferência promovendo uma prática interativa capaz de motivar o leitor para o desvendamento de possíveis significados, dado o plano de fruição a que a literatura se destina, sobretudo quando se trata de poemas.
INTRODUÇÃO
Vivemos em nossas escolas um grande desafio que é o de despertar o gosto pela literatura. Muitos professores reconhecem que houve um declínio no gosto pela leitura e apontam diferentes razões para que isso tenha acontecido. Essas razões vão desde a decadência do ensino passando pelo pouco interesse familiar em ajudar na formação de hábitos de leitura até a proliferação dos jogos e videogames disponibilizados pela internet.
Para grande parte das crianças e adolescentes os jogos, videogames e diversões do mundo virtual se mostram bem mais “atrativos” do que as enfadonhas leituras de textos literários que são propostas a eles pelas escolas. Para que haja uma mudança nesse quadro é preciso que o aluno consiga enxergar na literatura um caminho para a indagação, a pesquisa, a criação, a recriação, e, por que não dizer, a diversão? Mas, que contribuição a escola tem dado para isso? Que estratégias têm sido utilizadas no momento da leitura de textos literários?
As bibliotecas públicas e escolares têm procurado apresentar ao aluno um variado repertório de obras. Pensar a seleção dessas obras para um trabalho com literatura levando em conta aquilo que interessa aos alunos, ao mesmo tempo em que se cuida da ampliação do seu repertório cultural pode ser o pontapé inicial para um trabalho profícuo com literatura no ensino fundamental.
Roger Chartier afirma que “cada leitor, a partir de suas próprias referências, individuais ou sociais, históricas ou existenciais, dá um sentido mais ou menos singular, mais ou menos partilhado, aos textos de que se apropria” (1996, p.20). Esse sentido de “apropriação” proposto por Chartier, na maioria das vezes, é deixado de lado e o enfoque dado à leitura de textos literários são baseados em valores construídos historicamente, o que acaba implicando na escolha de leituras consideradas pelos professores como as mais corretas.
- LEITURA DO TEXTO LITERÁRIO NA ESCOLA
O trabalho com o texto literário nas escolas não tem sido motivador, uma vez que há um currículo a ser cumprido e, em muitos momentos, esse texto serve apenas como pretexto para trabalhar questões gramaticais. Muitos textos literários apresentados aos alunos estão desarticulados com o cotidiano no qual vivem e isso pode contribuir para que os discentes não consigam construir sentidos a partir de tal leitura. A proposta não é abandonar o cânone e investir em leituras mais “modernas”, mas utilizar textos clássicos que dialoguem com a realidade vivida pelos alunos. É preciso que o texto se aproxime dos alunos e, assim, ele possa relacionar a literatura a sua história de vida deixando de ser mero receptor para participar do processo de leitura. Essa prática pode despertar o prazer pelo texto literário.
Silva (2000: 156) afirma que a compreensão do texto acontece quando ativamos uma determinada parte do nosso conhecimento de mundo, especificamente, a que tiver relevância para a leitura proposta, por isso, é importante promover um ensino/aprendizagem de leitura que conjugue decodificações e inferências. O professor na sala de aula pode propiciar a construção dessas inferências. Para Cosson (2006), o espaço da literatura em sala de aula é um lugar de desvelamento da obra que confirma ou refaz conclusões, aprimora percepções e enriquece o repertório discursivo do aluno. Trabalhar, portanto, o texto literário amplia o universo de conhecimento do aluno. Tal atividade dever ser hábito nas aulas de literatura. Contudo é preciso que o professor estabeleça objetivos claros para o trabalho com o texto literário.
Um fator importante apontado por Colomer e Camps (2002) nas práticas pedagógicas que remetem à leitura literária é o da ambiguidade na definição dos objetivos dados aos textos literários pela escola que, por um lado insiste para que os alunos adquiram “prazer” na atividade de leitura e de outro a converte em ponto de partida para exercícios e trabalhos escolares. Segundo Silva (2005), para despertar o gosto pela leitura tão almejado pela escola é necessário instrumentalizar o estudante para obtenção desse prazer.
Um dos gêneros literários que pode ser utilizado pelo professor em sala de aula é o poema. A partir do trabalho com esse gênero, o professor pode buscar desenvolver práticas que associem o prazer à construção de sentidos que o texto pode oferecer. No tópico seguinte abordaremos mais o gênero poema.
- O GÊNERO POEMA EM SALA DE AULA
Os Parâmetros Curriculares Nacionais ao falarem sobre a seleção de textos a serem utilizados nas aulas de Língua Portuguesa nos anos finais do ensino fundamental alertam sobre a impossibilidade de se abordar todos os gêneros textuais em sala de aula, enfatizando que há, portanto, a necessidade de se priorizar os gêneros que merecem ter uma abordagem mais aprofundada. Sobre este assunto afirmam que:
Sem negar a importância dos textos que respondem a exigências das situações privadas de interlocução, em função dos compromissos de assegurar ao aluno o exercício pleno da cidadania, é preciso que as situações escolares de ensino de Língua Portuguesa priorizem os textos que caracterizam os usos públicos da linguagem. Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada. (Brasil, 1998, p.24, grifo nosso)
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