O gerencialismo e a ética do bem comum: a questão da motivação para o trabalho nos serviços públicos
Pesquisas Acadêmicas: O gerencialismo e a ética do bem comum: a questão da motivação para o trabalho nos serviços públicos. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Xiquita27 • 9/10/2013 • Pesquisas Acadêmicas • 5.277 Palavras (22 Páginas) • 931 Visualizações
VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002
O gerencialismo e a ética do bem comum:
a questão da motivação para o trabalho nos serviços públicos
Jean-François Chanlat
Professor Titular Hec-Montreal
Professor Associado, Laboratório Crepa, Universidade de Paris-Daupline.
Publicar uma obra tratando da motivação para o trabalho no setor público é ao mesmo tempo
essencial e audacioso. Essencial por um lado, porque os serviços públicos representam hoje um papel
determinante em todos os países industrializados em certo número de setores (Saúde, Educação,
Cultura, Serviços Sociais) e, por outro lado, porque o Estado cumpre sempre funções centrais na vida
coletiva mesmo no contexto de liberalização que conhecemos hoje (Frémeaux, 2001). Audacioso, já
que geralmente, para muita gente, os serviços públicos ficam associados à imagem de funcionários
pouco inclinados a trabalhar e preocupados principalmente por suas vantagens e seus privilégios, idéia
aliás mais ou menos difundida dependendo das épocas e das camadas sociais desde Courteline. Mas,
interessar-se pela motivação para o trabalho dos empregados do serviço público talvez seja também e
sobretudo interrogar-se sobre a questão do mal-estar profissional que se observa em nossos dias num
grande número de serviços públicos aqui e acolá no mundo inteiro. De fato, não passa um dia sem que
a imprensa alardeie o “blues”do pessoal dos hospitais, o estresse dos professores, o mal-estar dos
funcionários, etc. As pesquisas sobre tais assuntos são muitas, como atestam os diversos artigos deste
trabalho. Quando se começa a falar de motivação num ambiente de trabalho, é geralmente porque se
enfrenta uma desmobilização e uma perda de sentido no universo em questão (Sievers, 1990). O que
será que está acontecendo hoje para que o temor da motivação no trabalho esteja ficando popular no
setor público? E o que se deve pensar das particularidades do trabalho nesse setor para que os
empregados do setor público venham a ser novamente motivados?
Essas duas perguntas em torno das quais vai se articular nosso artigo identificam-se de certa
maneira às interrogações feitas a respeito da evolução do lugar e do estatuto do funcionário no recente
congresso internacional das ciências administrativas que houve em Atenas no último mês de julho :
“Como conseguir o melhor para os serviços públicos? Como conservar os serviços daqueles
que possuem as capacidades e a experiência necessárias e são capazes dos melhores
desempenhos? Como inspirar, manter e cultivar os valores de dedicação ao serviço, de
integridade, de receptividade, de engajamento e de procura da qualidade? Tais são os
desafios que a administração pública de hoje deve vencer.” (Kudrycka, 2001)
No que nos diz respeito, a questão da motivação para o trabalho no setor público está ligada
estreitamente a duas coisas, de um lado às transformações que esse setor evidentemente conheceu nos
vinte últimos anos, e do outro ao esquecimento de certas especificidades desse tipo de atividades.
A ASCENSÃO DO GERENCIALISMO NO SETOR PÚBLICO
Durante as últimas duas décadas, temos assistido nas nossas sociedades a mudanças importantes
que tiveram uma influência determinante sobre a maneira como se percebia o Estado e como por
conseguinte consideravam-se os serviços públicos. A crise do Estado-Providência, o desmoronamento
das experiências socialistas, a hegemonia da empresa privada como modelo organizacional eficiente e
do mercado como mecanismo de regulação das trocas, têm de fato influenciado profundamente não só
a nossa visão da ação pública, mas também as políticas, os programas, as estruturas e a cultura das
organizações estatais.
Esse surto neo-liberal, como alguns o têm qualificado (Passet, 2000), provocou ao mesmo
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tempo na maioria dos países do mundo cortes orçamentários mais ou menos importantes, a privatização
de numerosas empresas estatais, até mesmo de certos serviços públicos, grandes programas de
modernização de serviços permanecendo públicos, e uma ameaça mais ou menos velada de
privatização caso tais reformas não dessem certo nos serviços interessados. Doravante, como lembrava
um relator do Congresso de Atenas já citado:
“nesse novo ambiente, o funcionário deve ser ao mesmo competitivo e eficiente e dispor
das mesmas aptidões que os empregados do setor privado”, e nesse novo modelo de
gerenciamento público, “a gestão do setor público deve ser similar à do setor
privado”(Kudryck, 2001).
O universo dos serviços públicos enfrenta assim às claras a subida
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