Os Regimes Cambiais
Por: Guilherme Espinola • 21/3/2019 • Trabalho acadêmico • 4.204 Palavras (17 Páginas) • 182 Visualizações
Experiência cambial do Brasil entre 2001 e 2016
Regimes cambiais são regras estabelecidas para a formação da taxa de câmbio em um país. Dentre os diversos regimes que podem ser utilizados, os mais conhecidos são os regimes de câmbio fixo e o câmbio flutuante. Existem também outros tipos intermediários, como o câmbio flutuante sujo, “bandas cambiais”, etc.
Os países em que o Banco Central possuí taxas de câmbio pré-fixadas e intervém frequentemente com políticas monetárias a fim de atingirem este preço da moeda estrangeira já estabelecida possuem o regime de câmbio fixo. Nestes a política monetária feita pelo Banco Central é passiva. Já países que adotam um regime cambial flutuante são aqueles em que o Banco Central não intervém no mercado cambial, ou seja, apenas “assiste” as alterações dos preços da moeda estrangeira.
No Brasil é possível dizer que o país possuí uma política cambial flutuante suja, pois o câmbio flutua e não tem valores fixos, mas o Banco Central intervém na economia para tentar reduzir a volatilidade do câmbio, tentando amenizar as oscilações do preço do real se comparado ao preço da moeda estrangeira (dólar).
No primeiro trimestre de 2001 o preço do dólar disparou no Brasil com a taxa de câmbio chegando a 2,80. Os principais motivos que contribuíram para esta desvalorização do real foram a crise argentina e também a recessão americana.
Por pertencerem ao mesmo grupo econômico (Mercosul) e serem parceiros, tendo diversos acordos mantendo relações de trocas de mercadorias, a economia Argentina tem grande influência sobre a economia Brasileira. Durante a crise Argentina houve uma redução de produtos importados do Brasil fazendo com que não só passássemos a receber menos investimentos pelo aumento da desconfiança externa, mas também tivemos a balança comercial piorada, o que significa menor entrada de dólares.
A recessão americana influenciou o Brasil pelo aumento da incerteza em todo o mundo. Os EUA aumentaram as taxas de juros atraindo mais investimentos para o país. A fim de amenizar esta depreciação, o Banco Central realizou a venda de parte das suas reservas internacionais, conseguindo apreciar um pouco o real.
A partir de meados de 2002 o real voltou a depreciar e o principal motivo foi a incerteza quanto à política econômica que seria adotada com a possível eleição de Luis Inácio Lula da Silva. Em 22 de outubro de 2002 a taxa de câmbio chegou a 3,95. Um dia após Lula ser eleito, houve uma pequena apreciação e o câmbio fechou o dia em 3,74. Ao longo do seu governo foram sendo verificadas políticas econômicas mais conservadoras e com ambições mais altas, como metas elevadas de superávit primário e busca pela queda da inflação, fazendo com que as expectativas do governo fossem superadas diminuindo o risco e desconfiança em relação ao Brasil, atraindo dólares e investimentos valorizando o real.
De 2003 até 2005 não houveram fatos muito marcantes no mercado internacional e nem ações frequentes do banco central. A taxa de câmbio flutuou mais livremente neste período, ocorrendo algumas intervenções do Banco Central com compras/vendas de reservas e também com os swaps cambiais.
Em 2006 devido à elevação do preço do petróleo, o FED (Banco Central Americano) elevou as taxas de juros. Com taxas de juros mais altas no exterior, os investimentos que poderiam ser destinados ao Brasil acabam tendo como destino os EUA pela maior perspectiva de lucro, culminando novamente na depreciação do real, que desta vez foi mais controlada pelo BC.
Um início de crise americana em 2007 faz surgir uma aversão internacional ao risco, reduzindo os investimentos no Brasil.
Com a intensificação da crise americana em 2008 o FED injetou grande quantidade de moeda na economia, levando a uma redução nas taxas de juros, além de uma maior quantidade de moeda em circulação no mundo, contribuindo para o aumento de empréstimos e investimentos. Com a redução dos juros americanos, em muitos casos tornou-se mais vantajoso investir no Brasil por este possuir taxas de juros mais elevadas, mesmo sendo um país de maior risco. Para obterem maiores retornos, muitos investidores trouxeram seus investimentos para o Brasil, gerando uma maior entrada de dólares no país e consequente apreciação do real, que permaneceu por volta de 1,55, tendo pequenas oscilações.
Com a contínua crise da economia americana em 2009, 2010 e 2011 e também pelo aumento da taxa Selic brasileira, o real manteve-se apreciado.
Por volta de 2012 este cenário começou a mudar e em 2013 foi concretizada uma grande desvalorização do real devido à queda da taxa Selic para 7,5%, o que tornou o Brasil menos atrativo para os investidores. A melhoria da economia americana fez com que o FED reduzisse os estímulos monetários nos EUA, diminuindo a circulação de dinheiro e reduzindo a quantidade de moeda para empréstimos e investimentos. Com a recessão americana as taxas de juros aumentaram, e somando-se ao fato dos EUA ser um país extremamente seguro em relação a investimentos reduziu-se o interesse de investidores no Brasil. Isto fez com que o câmbio ficasse entre 2,20 e 2,45 em 2013.
No ano de 2014 presenciamos dois tipos de situações diferentes: A primeira delas no início do ano até meados de março, quando o real continuava bastante depreciado, próximo de 2,40. Isto ocorreu devido aos cortes na oferta de moeda americana e também com as notas negativas recebidas pelo Brasil na Standards & Poor’s em relação a capacidade do país de pagar suas dívidas, levando a um aumento da desconfiança externa. No segundo cenário a partir do fim de março, a queda da aprovação da presidente Dilma Rousseff fizera as ações brasileiras valorizar, mais investimentos entraram no Brasil e o real sofreu uma apreciação, mantendo-se por volta de 2,22.
Principais instrumentos de intervenção do Banco Central no mercado cambial
Iremos considerar em nosso modelo como instrumentos de intervenção do Banco Central a taxa de juros doméstica (Selic), as compras e vendas de dólares no mercado à vista, os títulos públicos atrelados ao dólar e os swaps cambias. Por convenção, definimos que a venda de dólares, ou oferta desta moeda no mercado, está indicada pelo sinal positivo, enquanto a compra de dólares pelo sinal negativo.
O Banco Central escolhe seus instrumentos de intervenção, dependendo do período, vide Tabela 3. Por exemplo, durante a mudança do regime de câmbio em 1999, o Banco Central usou com mais intensidade as intervenções no mercado à vista e a taxa de juros. Em 2001, o Banco Central usou títulos cambiais e no segundo semestre de 2002 usou mais swaps de câmbio. As intervenções foram maiores durante a crise cambial no primeiro semestre de 1999 e no segundo semestre de 2002, e praticamente inexistente no ano 2000, quando a economia de Brasil não sofreu nenhum choque pertinente.
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