Os problemas de gestão de organizações não governamentais
Pesquisas Acadêmicas: Os problemas de gestão de organizações não governamentais. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: deevelin • 28/11/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 5.377 Palavras (22 Páginas) • 283 Visualizações
RESUMO
As Organizações Não Governamentais foram vistas a partir da última década do século XX como entidades capazes de solucionar muitos dos problemas decorrentes da presença cada vez menor do Estado nos setores sociais. No entanto, essas organizações, assim como as do primeiro e segundo setor, vêm enfrentando sérios desafios de gestão. Ao contrário porém do que ocorrem com a Administração de Empresas e com a Administração Pública, as ONGs ainda se deparam com a falta de um modelo de gestão e de pesquisas empíricas sobre este universo, que possam direcionar suas atividades e possibilitar maior efetividade em seus resultados. Na região do Grande ABC, assim como no país como um todo, são poucos os estudos sobre as organizações sem fins lucrativos. Assim, esta pesquisa visa a contribuir para o maior conhecimento da realidade vivenciada pelas ONGs, identificando suas dificuldades de gestão, sob o ponto de vista de seus dirigentes ou gestores, e delimitadas a cinco áreas da administração: planejamento estratégico, captação e gestão de recursos, marketing, gestão de pessoas e governança. Trata-se de um estudo de caso coletivo envolvendo seis entidades da região, selecionadas pelo critério de acessibilidade. Para obtenção dos dados, procedeu-se à análise de documentos, observação direta e entrevistas com seus líderes. Constatou-se que um dos principais desafios de gestão dessas organizações é o da captação e gestão de recursos, principalmente quando procuram cumprir com suas obrigações enquanto organizações do segundo setor, como por exemplo, pagar salários ou ajuda de custo. Constatou-se também que existem diferenças quanto à forma de gestão entre as organizações que contam os recursos públicos como o meio principal e fundamental para manutenção dos seus objetivos, e aquelas que buscam sua auto sustentabilidade através da produção e venda de produtos e/ou serviços.
Palavras-chave: Terceiro setor, ONG, desafios de gestão
1. Introdução
O fenômeno social chamado de Organizações Não Governamentais tem sido tema corrente de discussão não só no âmbito da sociedade civil como também no do governo e das organizações com fins lucrativos, podendo ser entendido como uma resposta à exclusão social crescente.
É uma forma de organização diferente das até então conhecidas como o Primeiro Setor (governamental) e o Segundo Setor (organizações com fins lucrativos). Elas são entidades privadas, mas que tem como finalidade a promoção do bem público. Esta pode ser a única afirmativa consensual em relação à sua classificação. Igrejas, sindicatos, associações, fundações e ONGs. Mas é certo que seu poder de ação e organização têm sido reconhecidos no Brasil. Não só pelo seu crescimento em número de entidades como também em relação à ampliação dos seus campos de atuação. Acreditava-se que essas organizações seriam capazes de resolver os problemas sociais, também decorrentes da ausência do Estado. Entretanto, constata-se que, assim como a Administração Pública e as empresas com fins lucrativos encontram desafios em relação à sua gestão, as ONGs ainda se preocupam com diversas questões ligadas às suas particularidades, como por exemplo, atrair voluntários e mantê-los envolvidos em seus ideais. Neste sentido, o desafio de gestão dessas organizações pode ser considerado um desafio imperativo a seus gestores. Assim, esta pesquisa se propôs a identificar desafios de gestão sob o ponto de vista de seus gestores, limitando-se aos seguintes campos da administração: planejamento estratégico, captação e gestão de recursos, marketing, gestão de pessoas e governança.
2. O cenário político, econômico e social
A migração para uma vida tipicamente urbana, no século XX, proporcionou um crescimento na atuação do Estado enquanto provedor e mantenedor não só de meios de produção, como também de educação, saúde e previdência. Segundo Castels (1998) o chamado Estado de Welfare State produzia efeitos de individualismo, já que garantia assistência a todos. No entanto, esta realidade passa a assumir novos contornos tendo em vista o ideal neoliberal que se seguiu no pós segunda guerra. E ele colocava o livre mercado como condição ideal para o bom funcionamento da economia. A justiça social poderia prejudicar o funcionamento da sociedade de mercado, já que impõe uma igualdade de recompensas às pessoas. (TEIXEIRA, 2003) A crise do modelo de Welfare State pode ser destacada como uma das razões que proporcionaram o crescimento das ONGs, já que abria espaços para movimentos e associações da sociedade civil no sentido de atender às necessidades sociais.
Mas, segundo Salamon (2001), outros fatores também contribuíram para o que ele chamou de "revolução associativa global": (1) a crise do petróleo nos anos de 1970 e a recessão dos anos de 1980; (2) a crise global do meio ambiente; (3) e o colapso das experiências socialistas na Europa central e oriental, que também demonstrou a incapacidade dos Estados em atender toda demanda social.
3. Em busca de uma definição Fernandes (1994) a conceituou como: "conjunto de organizações e iniciativas privadas que visam à produção de bens e serviços públicos" (FERNANDES, 1994, p.21). As Organizações Não Governamentais são entidades privadas sem fins lucrativos e que tem como objetivo o atendimento de uma demanda social crescente. Mas ainda não existe unanimidade quanto à sua classificação.
Associações, fundações, sindicatos, cooperativas, igrejas, e finalmente ONGs. O termo terceiro setor pode abranger todas essas entidades, inclusive considerando as ONGs como uma das suas formas (CAMARGO et al, 2001). Outros estudiosos, no entanto, entendem as ONGs como sendo seu sinônimo. Para Roesch (2002), setor de caridade, setor filantrópico, setor independente, setor voluntário, economia social, todos esses termos podem ser descritos como Terceiro Setor. Os Estados Unidos passou a classificá-las como setor não lucrativo (nonprofit sector), a partir dos anos de 1970, já que estavam produzindo ou distribuindo bens e serviços públicos, e que não tinham como objetivo o lucro. (SMITH, 1991) Segundo Salamon & Anheier (1992), para serem consideradas organizações não lucrativas, devem ter uma estrutura que referencie cinco características:
(1) constituídas formalmente, (2) sua base estrutural deve ser não governamental, ou em outras palavras privada, (3) devem ser autogovernadas, (4) não podem distribuir lucros a seus sócios ou membros, (5) contar com a participação voluntária
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